Quantos compostos químicos diferentes podem ser encontrados na urina?

Por , em 6.10.2013

Pesquisadores da Universidade de Alberta, no Canadá, conseguiram determinar a exata composição química da urina humana.

O estudo, que durou mais de sete anos e envolveu uma equipe de quase 20 investigadores, revelou que mais de 3 mil substâncias químicas, ou “metabólitos”, podem ser detectadas no xixi. Espera-se que os resultados tragam implicações significativas para a área médica e nutricional, que podem resultar em novos remédios e testes ambientais.

“A urina é um fluido biológico incrivelmente complexo. Nós não tínhamos ideia de que poderia haver tantos compostos diferentes em nossos vasos sanitários”, observa David Wishart, o principal autor do projeto.

A equipe de pesquisa liderada por Wishart utilizou técnicas muito avançadas de química analítica. Entre elas, nomes pomposos como a espectroscopia de ressonância magnética nuclear, a cromatografia em fase gasosa, a espectrometria de massa e a cromatografia líquida. O objetivo foi identificar e quantificar sistematicamente centenas de compostos, obtidos a partir de uma vasta gama de amostras de urina humana.

Para ajudar a completar os seus resultados experimentais, os cientistas também analisaram mais de 100 anos de literatura científica publicada sobre a urina humana. Todas essas informações se encontram em um banco de dados disponível gratuitamente, chamado de Banco de Dados Metabolômicos da Urina (UMDB, na sigla em inglês). O UMDB é um recurso de referência em todo o mundo para facilitar a análise clínica e ambiental da urina.

A composição química da urina é de particular interesse para médicos, nutricionistas e cientistas ambientais porque revela informações importantes não só sobre a saúde de uma pessoa, mas também sobre o que ela comeu, bebeu, quais remédios têm tomado e a quais poluentes pode ter sido exposta em seu ambiente.

A análise de urina para fins medicinais já era feita há mais de 3 mil anos. Na realidade, até o final do século 19, a análise da cor, do sabor (!) e do cheiro da urina (a chamada uroscopia) era um dos principais métodos utilizados pelos médicos para diagnosticar doenças. Até mesmo hoje em dia, milhões de testes de urina são realizados diariamente para identificar distúrbios metabólicos em recém-nascidos, para diagnosticar diabetes, monitorar a função renal, confirmar infecções da bexiga e detectar o uso de drogas ilícitas.

“A maioria dos livros médicos lista somente de 50 a 100 substâncias químicas na urina e os testes clínicos mais comuns apenas apontam a presença de seis ou sete compostos”, afirma Wishart. “A expansão da lista de substâncias químicas conhecidas na urina e a melhoria da tecnologia de detecção pode ser um verdadeiro divisor de águas para os exames médicos”.

Wishart conta que este estudo permitirá que toda uma nova geração de exames médicos se tornem mais rápidos, baratos e indolores, ao se utilizar a urina em vez de sangue ou de tecidos para biópsias. Em particular, ele observa que novos testes à base de urina para diagnosticar câncer de cólon, câncer de próstata, doença celíaca (patologia autoimune que afeta o intestino delgado), colite ulcerativa (uma doença inflamatória intestinal), pneumonia e rejeição de transplante de órgão já estão sendo desenvolvidos ou estão prestes a entrar no mercado, em parte, graças a este trabalho.

A pesquisa da urina humana em questão foi publicada na revista científica “PLoS ONE”. A palavra “metabolômica” (junção dos termos “metabolismo ” e “genoma”) é definida como a coleção completa de metabólitos ou substâncias químicas encontradas num organismo ou um tecido particular.

“Esta certamente não é a palavra final sobre a composição química da urina”, admite Wishart. “À medida que novas técnicas são desenvolvidas e os instrumentos se tornam mais sensíveis, tenho certeza de que mais centenas de compostos ainda serão identificados. Na verdade, novos compostos estão sendo adicionados ao UMDB quase todos os dias”, revela.

“Enquanto o projeto do genoma humano certamente continua a captar a maior parte da atenção do mundo, eu acredito que esses estudos sobre o metaboloma humano já está tendo um impacto muito mais significativo e imediato para a saúde humana”, conclui. [Medical Xpress]

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