Violência em Londres: como o comportamento de multidões incita a desordem

Por , em 11.08.2011

Como um terremoto ou uma erupção solar, a ascensão repentina da violência na sequência de um disparo acidental da polícia, que ocorreu dia 4 de agosto em Londres (entenda melhor), foi um pouco aleatória.

Em certo sentido, os tumultos de Londres desafiam explicação. Toda a violência em grupo é complicada. Ao tentar explicar, sociólogos geralmente começam dizendo que não há maneira de prever o que vai desencadear uma revolta violenta.

“A característica mais importante dos fenômenos de comportamento coletivo, especialmente tumultos, é que eles são, essencialmente, espontâneos e imprevisíveis, como tantos eventos estatisticamente raros”, explica Erich Goode, professor de sociologia na Universidade Estadual de Nova York, e Stony Brook, que pesquisa criminologia e comportamento coletivo.

Dito isto, é possível analisar a psicologia por trás da “violência de multidão” que se seguiu no Reino Unido. A teoria mais aceita para ilustrar tais eventos foi apresentada pelo psicólogo Clifford Stott, da Universidade de Liverpool, na Inglaterra, usada para explicar o vandalismo no futebol.

“Os tumultos não podem ser entendidos como uma explosão de irracionalidade coletiva”, argumentou Stott. “Também não podem ser adequadamente explicados em termos de indivíduos predispostos à criminalidade, devido à sua disposição patológica”.

Contrariamente à crença de que tumultos atuam apenas como uma bola de caos (toda a massa pensando igual e seguindo uns aos outros), a teoria de Stott do comportamento das multidões, chamada Modelo Elaborado de Identidade Social, afirma que os indivíduos em uma multidão continuam, sim, pensando por si mesmos.

Só que, em cima de suas identidades individuais, eles também desenvolvem uma identidade “improvisada” social, que inclui todo o resto do grupo. Quando o grupo enfrenta a oposição, como a polícia atacando indiscriminadamente seus membros com cassetetes, a identidade social “toma conta”. Os membros do grupo começam a trabalhar juntos para combater o que eles veem como seu opressor comum.

Isso explica a escalada da violência na sequência dos disparos da polícia em Londres: os que consideravam que também podiam ser vítimas daquilo se sentiram ameaçados e reagiram violentamente para preservar-se.

Para evitar solidificar uma identidade social entre os manifestantes (mesmo que violentos), a polícia deve manter a percepção de que eles estão agindo legitimamente quando se trata de uma multidão.

Segundo Stott, a polícia tem que visar especificamente o comportamento criminoso, ao invés de tratar todo mundo no meio da multidão como igualmente criminal. O cientista acredita, e pesquisas parecem apoiar esta ideia, que multidões responderão a uma ação policial racional comportando-se racionalmente também.

O sociólogo Gary Marx também vê a resposta da polícia às multidões como o fator determinante na forma como os eventos irão progredir. “A autoridade muitas vezes exagera ou minimiza uma ação. Se eles respondem muito rapidamente ou severamente, podem provocar uma reação, mas se eles são muito lentos, as pessoas acham que podem se livrar de tudo”, disse.

Respostas indiscriminadas, como o uso de gás lacrimogêneo, podem ser especialmente perigosas, pois podem ser percebidas como injustas. E, afirma Marx, a mídia social e os novos meios de comunicação se tornam uma arma poderosa da multidão se a palavra se espalha rapidamente sobre brutalidade policial.

No caso do motim de Londres, que tem se espalhado para outras partes da Inglaterra e até Escócia, a polícia pode ter perdido a sua legitimidade desde o início, quando atirou em Mark Duggan, um traficante que eles pensaram por engano estar atirando neles.

Os manifestantes que se sentiram no mesmo grupo que Duggan foram rápidos a responder com violência. No entanto, estranhamente, os membros desse grupo não se encaixam em nenhuma categoria específica.

Diferente de outros tumultos que cientistas comportamentais estudaram, não parece haver uma convergência de manifestantes, composta desta vez por atores heterogêneos, com diferentes motivos: alguns agindo por motivos políticos, outros para saquear, outros ainda para assumir um comportamento selvagem, etc. Por isso, é difícil teorizar esse comportamento causado por impulsos muito diferentes.

Simon Moore, pesquisador de violência e sociedade da Universidade de Cardiff no País de Gales, acha que há um fator que pode estar unindo todos esses manifestantes: a percepção de que eles têm baixo status.

Ano passado, Moore realizou uma pesquisa que notou que posição econômica baixa – ser mais pobre do que outros na mesma região geográfica, em vez da pobreza real, definida como não ser capaz de bancar coisas que você precisa, provoca tormento, angústia.

Junto com a angústia, uma quantidade razoável de pesquisas descobriu que o baixo status também leva a sentimentos de animosidade. Outra área de trabalho sugere que o baixo status provoca estresse, que está implicado na agressão.

Martin Luther King já previa: “Não há nada mais perigoso do que construir uma sociedade com um grande segmento de pessoas que sentem que não têm um papel de decisão nela, que sentem que não têm nada a perder. Pessoas que têm uma participação em sua sociedade a protegem, mas quando elas não têm, inconscientemente querem destruí-la”.[Life’sLittleMysteries]

3 comentários

  • Anonimo:

    Estou em Londres neste momento e fiquei supreso com o ato. Não sabia que existia o lado inverso do londrino. Existem muitos imigrantes e muitos turistas, mas pobres e violentos, não sabia. Andava pela cidade despreocupado e admirado com a segurança da cidade. Os caixas eletronicos é no meio da rua, sem proteção alguma, até contra a chuva. Achava um espetáculo. Derrepente esta surpreza. A cidade parecia em guerra; incendios para todo o lado. Fuji para a França e estou passando cimco dias aqui.

  • Mílton Lima:

    Muito apropriada esta frase de Martin Luther King, define muito bem, o que há por detrás deste colapso na sociedade inglesa…

  • Thiago:

    Talvez eles queiram tirar a Monarquia da inglaterra, pessoalsin que não faz nada e só fica ali sugando verba.

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