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A evolução pode se reverter?

Há muito tempo biólogos se perguntam se é possível que as proteínas presentes em nossos corpos voltem às suas antigas formas e funções, abandonadas há milhões de anos. Ao examinar a evolução de uma proteína, uma equipe de cientistas afirma que a resposta a essa questão é não, pois novas mutações tornam uma “involução” praticamente impossível.

O primeiro cientista a levantar esta questão foi o belga Louis Dollo, que em 1905 afirmou que um organismo nunca retorna a seu estado anterior. Para confirmar se Dollo estava certo, Joseph Tornton e sua equipe da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, fizeram um experimento para analisar a possibilidade da evolução reversa em um nível molecular.

A pesquisa foi feita com base em proteínas chamadas de receptores de glicocorticóides , que ajudam humanos e praticamente todos os vertebrados a lidar com o stress ao utilizar um hormônio chamado de cortisol e “ligando” os genes de defesa contra o stress. Comparando o receptor a outras proteínas semelhantes, os cientistas reconstruíram a história dos receptores de glicocorticóides.

Há aproximadamente 450 milhões de anos, ele existia em um formato diferente, que permitia que ele pegasse vários hormônios, mas era fraco para pegar o cortisol. Durante 40 milhões de anos, o receptor mudou de formato, tornando-se muito sensível ao cortisol e insensível a outros hormônios.

Durante esses 40 milhões de anos, o receptor mudou em 37 pontos, sendo que apenas dois fizeram com que ele ficasse sensível ao costisol. Outros cinco passaram a impedir que ele se agarrasse a outros hormônios. Quando o receptor sofreu estas sete alterações, ele se tornou igual receptor de glicocorticóides que existe atualmente.

Thornton ponderou que, revertendo esta ação, ele poderia transformar o receptor atual em um ancestral, porém, para sua surpresa, o experimento de reversão falhou. Depois da primeira experiência, os cientistas perceberam que as moléculas haviam sofrido mais cinco alterações que não tinham sido percebidas antes.

De acordo com o pesquisador, as mutações nas moléculas devem ter ocorrido em duas fases, na primeira adquirindo as sete mutações que as tornaram sensível ao cortisol, e na segunda adicionando reentrâncias na estrutura dos receptores de glicocorticóides, mutação chamada pelo pesquisador como “alterações restritivas”.

Quando os cientistas tentaram trazer a molécula de volta à sua forma ancestral, essas modificações de sua estrutura impediram o processo. Thornton acredita que, com as mutações restritivas, ficou praticamente impossível que o receptor retornasse à sua forma anterior.

Ainda não há certeza se as proteínas têm tamanha dificuldade em evoluir de volta ao seu estado anterior, mas Thornton afirma acreditar que sim. Porém, o pesquisador também não descarta a possibilidade de uma involução em organismos que sofreram mutações simples. Quando os novos traços são formados por mutações mais conectadas, a complexidade é maior, e extingue a possibilidade de uma evolução reversa, de acordo com o biólogo. [NY Times]

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