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5 falácias lógicas que fazem seres humanos terríveis em democracia

Assim como no Brasil, ações de assistência social e distribuição de renda são polêmicas nos Estados Unidos. Por lá, entre 63 e 65% da população acha que o governo gasta muito pouco com o bem-estar social – porém, apenas se os pesquisadores as chamarem ações de “assistência aos pobres”. Quando se usa a palavra “bem-estar”, esse número fica apenas em 20 a 25%. Sim, o jeito que você formula a questão pode mudar a opinião das pessoas sobre questões importantes.

Apesar de parecer algo absurdo, este não é um problema exclusivamente dos norte-americanos: toda a raça humana é horrível quando o assunto é democracia. Confira o por quê na lista abaixo.

5. Somos programados para nos conformar (mesmo quando todo mundo está obviamente errado)


Como um bando de ovelhas seguindo umas às outras, todo mundo quer se conformar. Ou, pelo menos, é o que alguns psicólogos descobriram com uma série de experimentos.

Coloque-se neste cenário: alguém faz a você e outras sete pessoas uma pergunta estupidamente simples, mas para a qual todos os outros dão a resposta errada. Você contradiria a maioria e responderia corretamente ou você também diria a coisa errada, apesar de todo mundo ser um idiota?

Se você disse: “Eu diria a verdade e riria na cara deles”, ou você é uma minoria ou está delirante. Uma série de experimentos famosos na década de 1950, o psicólogo Solomon Asch colocou pessoas exatamente nesta situação, e 75% delas se conformaram e deram a resposta claramente errada pelo menos uma vez. E não é como se estivessem resolvendo problemas aritméticos complexos: eles só tinham de olhar para quatro linhas e dizer quais eram do mesmo comprimento. Quando não havia um grupo de atores errando ao seu redor, a taxa de erro era de menos de 1%.

E não, não é só porque todo mundo era um bando de estúpidos conformistas na década de 1950 – a experiência foi repetida várias vezes com resultados semelhantes.

Mas você pode estar se perguntando: “O que isso tem a ver com a democracia?”, a resposta é tudo. O que descrevemos é a democracia em ação. Em outro experimento, os pesquisadores mostraram a grupos de participantes o mesmo debate presidencial, mas editaram as reações da plateia para fazer parecer com que a multidão apoiava o candidato ou o desprezava completamente. Toda vez, os participantes classificavam melhor os candidatos em áreas como inteligência, senso de humor, competência e sinceridade quando eles pensavam que todo mundo os amava.

Mas as pessoas desses estudos realmente concordavam com o que disseram ou simplesmente queriam evitar parecer idiotas? O cientista Gregory Berns repetiu basicamente a mesma experiência em 2005, só que equipado com scanners de ressonância magnética. Quando ele analisou os cérebros dos participantes, encontrou atividade nas regiões dedicadas à percepção – o que significa que seus cérebros estavam tentando fazê-los ver a coisa errada.

O conceito nem é tão surpreendente, se o analisarmos com calma. Os seres humanos evoluíram para ser animais sociais e a nossa capacidade de cooperar em grupos é o que nos fez chegar até o topo da cadeia alimentar. Isso significa que sempre estaremos sujeitos a uma vontade biológica e instintiva de “se dar bem com o grupo” em primeiro lugar na nossa lista de prioridades – mesmo que o grupo em questão seja um bando de idiotas. Você pode estar errado, mas, pelo menos, tem um monte de outras pessoas erradas a sua volta e, evolutivamente, isso é muito melhor do que estar certíssimo, sozinho e vulnerável.

4. Nossos cérebros não são projetados para pensar racionalmente


A democracia é construída em torno do princípio de que, apesar de todos os nossos medos e ódios irracionais, quando nós realmente precisamos, somos capazes de colocar de lado nossas emoções e pensar racionalmente. O sistema assume que você vai votar no candidato que você acha que será o melhor para o país – você sabe, essa ideia absurda de que nós queremos o bem da maioria das pessoas, não olhamos só para o nosso umbigo e etc.

Ao mesmo tempo, o processo democrático exige que sejamos capazes de criar empatia com os nossos semelhantes – por exemplo, a proposta do Candidato A para proibir talheres eróticos pode não afetá-lo pessoalmente, mas o que acontece com todas as pessoas que trabalham na indústria de colheres em formato fálico? É justo torná-los mais pobres e suas vidas menos sensuais? A fim de tomar a melhor decisão, o sistema nos pede para encontrar um equilíbrio entre a empatia e a lógica. Pena que nossos cérebros, literalmente, não podem fazer isso.

Para entender por que, por favor, olhe para esta famosa imagem de pato – ou coelho.

Essa é a ilusão muito-criativamente-batizada ilusão do coelho-pato. Você pode ver na imagem tanto um pato como um coelho, mas você nunca consegue ver os dois ao mesmo tempo – e o mesmo problema aplica-se à forma como o nosso cérebro toma decisões emocionais ou analíticas. A parte do cérebro que analisa fatos friamente e aquela que tem empatia com os outros estão em oposição direta uma com a outra; elas simplesmente não podem funcionar ao mesmo tempo. Quando um grande CEO toma uma decisão que gera milhões a suas empresas, mas deixa milhares de trabalhadores na rua, as pessoas se perguntam: “Será que aquele idiota não pensou nestas famílias?!”. Bem, não. Essa parte do cérebro dele estava desligada.

Para a maioria das pessoas, porém, é o lado emocional que geralmente ganha quando nós estamos tentando tomar decisões difíceis. Pesquisadores usaram exames de imagem cerebral para estudar como o cérebro humano funciona quando a merda bate no ventilador. Eles descobriram que, quando confrontados com um dilema moral, a parte emocional do cérebro tende a acender enquanto o analítico encerra o expediente até a próxima vez que você precisar calcular quanto precisa pagar no racha da pizza. Isto significa que quando as coisas ficam difíceis, não há princípios fundamentados morais ou lógica – as decisões são tomadas pela nossa reação emocional imediata – o que, conhecendo a nós mesmos, é bastante aterrorizante.

3. No fundo, ainda achamos que estamos vivendo em pequenos grupos


Essa coisa de “saber o que as pessoas em todos os cantos do planeta comeram no almoço hoje” é uma invenção muito recente. Durante a maioria de nossa história evolutiva, operávamos em grupos de 25 a 200 pessoas. Você não cruzava com desconhecidos na rua; todos eram “José que caçou aquele javali”, “Davi que sabe matemática”, “Lúcia que peida super alto”, etc. Nossos cérebros foram construídos para trabalhar em uma pequena e unida tribo e ainda pensamos que a vida é assim.

Quer provas? Assista alguns pornôs.

Um dos exemplos mais simples de como nossos cérebros não tem ideia de que estamos vivendo em um mundo maciçamente interconectado é que, se você olhar para fotos de peitos, seu corpo vai reagir como se houvesse uma parceira real na sua frente, só esperando para fazer sexo – seu cérebro não sabe que você está sentado sozinho em um quarto escuro. Bem, o mesmo conceito se aplica à política.

Quando estamos refletindo sobre decisões para nossos países, estamos inconscientemente avaliando-os como se fossem questões locais em pequena escala, e escolhendo, assim, o curso de ação que iria funcionar em tais situações. Não importa quantas vezes os economistas expliquem que equilibrar um orçamento federal não é o mesmo que um familiar, as pessoas não conseguem parar de se perguntar porque o governo não para de ir no cinema e passa a comprar um papel higiênico mais barato.

Outro efeito colateral bizarro de nossos cérebros desatualizados: a força na parte superior do seu corpo molda as suas opiniões. No passado, o macho mais forte tinha o controle do grupo e mais poder na hora de impor seus interesses. Pesquisadores descobriram que esta correlação entre força e interesse ainda está presente hoje, a despeito de ser irrelevante para a sociedade moderna. Homens com mais força nos membros superiores vão endossar qualquer posição que seja melhor para eles – homens fortes e ricos irão se opor a compartilhar a riqueza, enquanto homens fortes e pobres são a favor de redistribuição de renda. Parte deles está pensando: “Se eu pressionar o suficiente, eu posso fazer o governo fazer o que quiser”.

Enquanto isso, no estudo, os homens mais fracos não tinham nenhuma afiliação forte para um lado ou para o outro. Homens fortes ainda vão se sentir, psicologicamente, em condições de expressar seus interesses, enquanto os homens mais fracos ficam às margens do grupo e esperam que recebam uma parcela dos lucros.

2. Nós identificamos (e começamos a odiar) nossos adversários políticos antes de eles dizerem qualquer coisa


Quantos de vocês intencionalmente interrogam as pessoas sobre suas crenças políticas antes de decidir se elas são dignas de sair com você? Se essa pergunta fosse feita a um grupo, os únicos que ergueriam a mão provavelmente seriam aqueles que não têm nenhum amigo, de qualquer maneira. O resto de nós conhece novas pessoas em lugares onde a política não é realmente relevante, como festas ou aulas – e, ainda assim, em uma enquete feita nos EUA, quase metade dos liberais e 63% dos conservadores disseram que seus amigos pertencem a sua mesma ideologia política. É quase como se eles conseguissem sentir o cheiro um do outro.

Especialmente porque, sim, você pode subconscientemente dizer quão semelhante alguém é a você politicamente apenas pelo modo que eles cheiram.

Em um estudo recente, 146 pessoas tiveram de classificar a “atratividade” do odor corporal de completos estranhos e adivinhem? Quanto mais eles tinham em comum politicamente, mais o participante gostava do cheiro do estranho. Mais uma vez, isso não é tão estranho quanto parece quando você pensa sobre o assunto. Como espécie, queremos estar perto de pessoas que são semelhantes a nós – mas esta atração é menos sobre chegar a um acordo sobre princípios básicos e mais sobre o sentimento de pertencermos a um lado.

E se somos forçados a passar o tempo com outra “tribo”? Nós nos adaptamos. As pessoas que se deslocam para os bairros conservadores acabam se tornando mais conservadoras.

Se parece que os seres humanos se juntam em grupos por razões irracionais e apenas criam alguma razão “lógica” para a sua escolha mais tarde, é porque é exatamente isso que acontece. Em mais um daqueles estudos de imagem cerebral, pesquisadores determinaram que, quando confrontados com uma decisão moral, o nosso cérebro chega muito rapidamente a uma conclusão e, em seguida, luta para encontrar razões para apoiá-la.

PS: Se você conseguir dominar a arte de fazer grupos se juntarem a você convencendo-os de que isso foi a sua ideia o tempo todo, você pode dominar o mundo.

1. Nós podemos dizer quem vai ganhar uma eleição só de olhar para sua cara


Todos sabemos que a imagem é incrivelmente importante para um político, mas ela é apenas um de muitos elementos – não é como se você pudesse mostrar fotos de candidatos para crianças pequenas por cinco segundos e elas vão conseguir prever quem venceria em uma eleição, certo? Não, na realidade, as crianças só precisam de um segundo para fazer isso. Sério.

Em um estudo de 2009, crianças com idade entre 5 e 13 anos foram obrigadas a jogar um videogame no qual elas tinham que escolher quem seria o capitão da sua viagem virtual. Mas ao invés de animais fofos ou frutas que falam, as opções eram os rostos dos candidatos das eleições parlamentares francesas de 2002 – e 71% da vezes, as crianças escolheram o candidato que ganhou. Uma vez que as crianças nunca tinham visto os rostos antes, o estudo mostrou que elas são muito boas em fazer julgamentos sociais em experiências que duram menos de um segundo.

Porém, ainda não é hora de ficarmos tão assustados: os adultos podem fazer isso também e com aproximadamente a mesma precisão que crianças. Em outro experimento, foram mostrados rostos dos candidatos das eleições para o Congresso norte-americano aos participantes, que precisavam decidir, muito rapidamente, quais deles pareciam mais competentes.

Dois terços das pessoas no experimento escolheram o único candidato que ganhou – o que deixa o nosso sistema democrático em péssimos lençóis. Por quê? Porque há uma série de coisas que você pode dizer sobre uma pessoa olhando para ele ou ela por um segundo (atratividade, cor da pele, se há um pato sentado em sua cabeça… mais ou menos isso), mas “ele com certeza é competente o suficiente para política e outras coisas” não é uma delas.

Como somos constantemente lembrados pelas notícias nos telejornais, o cara que ganhou a eleição não é necessariamente o cara que merecia ganhar. E, se pedir a mini-pessoas de 5 anos de idade para tomar uma decisão em uma fração de segundo produz o mesmo resultado do que deixar um adulto fazer uma deliberação cuidadosa e bem informada, então, cara, o quão ruim nós somos para eleger nossos líderes?

Claro, isso não significa que o outro candidato não era tão ruim quanto o que foi eleito – o fato de que aquele candidato simplesmente chegou à eleição provavelmente significa que ele ganhou dezenas de outras batalhas “de rosto” como esta no passado. O cara que era realmente certo para ocupar aquele cargo pode ter perdido na primeira disputa, porque tinha alguma estranha marca de nascença na testa. Felizmente, há uma maneira de avaliar o caráter de alguém corretamente, de acordo com esses mesmos estudos acima: quando não temos ideia de como a pessoa se parece. Assim, até que todos os políticos comecem a usar máscaras de lutador mexicano, nós estamos provavelmente ainda estamos ferrados. [Cracked]

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