9 tentativas de fazer caridade que pioraram as coisas

Por , em 26.11.2013

Dizem que o caminho para o inferno é pavimentado com boas intenções. Se for assim, então a estrrda para o inferno deve ser pavimentada pelas organizações de caridade. Não há nada tão perigoso quanto uma organização de caridade mal preparada: ao tentar fazer o bem, eles conseguem mandar ajuda para quem não precisa, raptar crianças e até mesmo prolongar genocídios.

9. Neo-zelandeses oferecem comida de cachorro para quenianos famintos

Dog Food
Em 2006, depois de dois anos de seca, o Quênia estava à beira do desastre. Com quebras nas colheitas, a falta de alimentos se tornou aguda, e mais de 4 milhões de pessoas estavam ameaçadas de passar fome. Com a crise humanitária batendo às portas, entra em cena a fabricante neozelandesa Christine Drummond, que resolve oferecer comida de cachorro aos quenianos famintos.

Diferenças de cultura à parte, oferecer comida de cachorro é tão ofensivo no Quênia quanto em qualquer outro lugar do mundo.

A imprensa queniana fez Drummond em pedaços. Um dos motivos foi a oferta absurda, outro foi sua determinação em mandar “ajuda” para uma área que não fora afetada pela seca. Algo como tentar ajudar os desabrigados pelo Katrina enviando roupas de banho para a Antártida.

Apesar de mais tarde Drummond negar que a ajuda era comida de cachorro real, que se tratava de uma fórmula semelhante, o estrago estava feito. A imprensa acabou esquecendo da crise e focou-se na gafe, irritando as agências humanitárias que realmente estavam tentando levantar dinheiro para socorro.

8. Caridade francesa rapta crianças

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Por mais de uma década o conflito em Darfur, no Sudão, foi uma das piores crises humanitárias do planeta. Milhares foram expulsos de suas casas e as crianças foram jogadas em campos de refugiados, deixadas sem pais ou esperança. Entra em cena a organização humanitária Arca de Zoé, que vai a um campo de refugiados no Chade com planos de pegar o máximo de órfãos possíveis e entregar os mesmos a amorosas famílias francesas.

Só que a organização ignorou completamente as leis de adoção do Chade, o que torna a retirada de crianças de um campo de refugiados sem o aval do governo algo ilegal. Pior ainda, os responsáveis aparentemente não checaram se as 103 crianças que eles trouxeram eram realmente órfãos. Uma investigação da Cruz Vermelha revelou que 85 delas não eram originárias de Darfur, nem eram refugiadas, mas foram retiradas de seus pais no Chade, sob um falso pretexto.

Para completar o quadro, as crianças mais saudáveis receberam falsas bandagens e roupas sujas, para parecerem feridas. Os funcionários da organização foram presos e acusados de fraude e tráfico humano.

7. Children In Need acidentalmente financia o terrorismo

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A “Children in Need” (“Crianças em Necessidade”, em tradução livre) é uma das organizações de caridade mais respeitadas da Grã-Bretanha. Administrada pela BBC, ela faz doações regulares de milhões de libras para ajudar crianças e jovens com deficiências, mas acabou ajudando terroristas sociopatas também.

Não foi de propósito: entre 1999 e 2002, a organização passou doações para a Leeds Community School, que por sua vez as usou para financiar uma livraria islâmica. Infelizmente para a BBC, a livraria era operada e mantida pelos suicidas do atentado de Londres de 7 de Julho. Com as doações da Children in Need, além de outras fontes, o grupo financiou a impressão e distribuição de literatura terrorista e antissemita, e agendou filmagens para recrutar mais psicopatas para seu comando infernal.

As doações de britânicos de bom coração também pagaram pelas férias de violentos fundamentalistas assassinos. Após as bombas de Londres, a conexão foi descoberta, e a BBC pediu desculpas, mas o estrago estava feito – a Children in Need estará para sempre associada com férias para terroristas.

6. A doação letal da ONU

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Depois do terremoto de 2010 no Haiti, que matou centenas de milhares, todas as agências de socorro e tropas da ONU foram convocadas para ajudar na reconstrução do país, o que fez com que membros de outros locais fossem relocados, inclusive um pessoal do Nepal, que chegou no Haiti com o pior dos presentes: cólera.

Antes da chegada da ONU, já fazia mais de 100 anos que o Haiti não via a cólera. Após a chegada, ela espalhou-se pelo país, matando 8.000 e infectando mais de 100.000. Os esforços de reconstrução foram prejudicados, pessoas inocentes morreram, e um clima de paranoia foi criado, com consequências incalculáveis. Centros de tratamento foram invadidos por manifestantes, e drogas anticólera não puderam chegar às áreas da infestação.

Mas o pior foi a resposta da ONU. A organização negou qualquer responsabilidade, mesmo com todas as evidências, e se recusou a pagar um centavo de indenização. O resultado foi que sua missão de pacificação deteriorou ao ponto do governo haitiano tentar processá-los em uma corte internacional.

5. O Circo Humanitário

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No dia seguinte ao Natal, em 2004, um megaterremoto deslocou uma quantidade imensa de água que inundou várias cidades e campos ao redor do Oceano Índico, matando mais de 230.000 pessoas. Você se lembra disso, não? A resposta humanitária que se seguiu à divulgação das imagens foi sem precedentes, com quase todas as organizações de caridade e ONGs do mundo voando para os locais afetados para ajudar na reconstrução. Mas havia um problema: quase todos eram totalmente incompetentes.

Para começar, muitas das organizações que estavam no local sequer sabiam o que estavam fazendo lá. Eles viram o apelo na TV e correram, competindo com agências de socorro rivais por espaço, em vez de ajudar. As que conseguiram se estabelecer estupidamente ignoraram completamente ou então desfizeram o trabalho dos grupos comunitários locais. Um grupo trouxe novos barcos para doar aos pescadores que perderam os seus, aparentemente sem saber que mais de um quarto dos veículos doados não podiam ser usados no mar. Outro tentou construir novas casas de metal para o povo da Tailândia, sem perceber que o calor do clima local tornava impossível morar nelas.

4. O Hospital Trust que foi cego pela fama

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O Stoke Mandeville Hospital Trust foi considerado, até 2011, uma das melhores caridades do mundo. Usando conexões com celebridades, ele ajudou a levantar quantias fenomenais de dinheiro para ajudar crianças com danos severos na coluna. Como uma espécie de “agradecimento” a estas celebridades, os maiores doadores podiam visitar as enfermarias sem supervisão, e conhecer as crianças. Uma ideia legal, exceto que o maior doador era o mais prolífico abusador sexual que já viveu.

Nos anos 1970, o apresentador britânico Jimmy Savile começou suas atividades voluntárias no Trust. Ninguém sabia na época, mas Savile era um abusador sexual serial, que usava sua fama para encobrir centenas de ataques a crianças, e possivelmente atos de necrofilia. Com o acesso que o hospital lhe concedeu, ele conduziu uma campanha de abuso contra crianças de até nove anos.

Como se isto não fosse horrível o suficiente, há suspeitas que o hospital sabia o que estava acontecendo e não fez nada para parar o crime, talvez de medo de perder seu maior doador. Agora o Trust está fechado, e o hospital recebe doações de outras formas.

3. Caridades acidentalmente financiando crimes de guerra

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É um dos paradoxos da ajuda humanitária – para chegar em certas zonas de conflito, é preciso autorização e até ajuda de um dos lados, ou até mesmo dos dois lados, o que faz com que, em alguns casos, parte da ajuda seja perdida para estes “ajudantes”. No caso da Somália, estima-se que 20% de toda ajuda acabou nas mãos das milícias.

Algumas pessoas acham que este é um preço pequeno a se pagar para que a ajuda chegue à quem precisa, mas a jornalista holandesa Linda Polman acha que este tipo de distribuição não intencional acaba prolongando as guerras.

Outro exemplo é Darfur. Por mais de uma década, o regime militar cometeu massacres brutais contra cidadãos inocentes. As agências de socorro, desesperadas para ajudar estas populações, são forçadas a pagar “taxas” para fazer qualquer coisa, dando assim dinheiro que será usado para massacrar as próprias pessoas que eles estão tentando ajudar.

2. A Caridade Wyclef Jeans quebra sua promessa e deixa órfãos passarem fome

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Em termos de corrupção, o político indonésio Suharto é imbatível, mas o rapper Wyclef Jean não pode ser acusado de não tentar estabelecer um novo recorde.

Após o terremoto do Haiti, Wyclef criou um fundo de caridade, o Yele Haiti, que conseguiu arrecadar US$16 milhões (R$32 milhões, aproximadamente) em doações para ajudar a aliviar a tragédia. Só que o dinheiro foi todo usado para financiar o próprio Wyclef.

Além de dar dinheiro para sua família e para empresas inexistentes, Yele repetidas vezes falhou em entregar projetos de construção e saneamento contratados, inclusive casas e centros médicos temporários.

E onde as construções foram feitas, eram completamente inúteis. Quando o Global Orphan Project venceu o Yele e reconstruiu um orfanato danificado, Yele prometeu então enviar a comida. Após poucos meses, eles interromperam o fornecimento de alimentos e começaram a construir um orfanato novo e totalmente desnecessário. O prédio nunca foi completado, e as crianças quase passaram fome. Em uma reportagem ao New York Times, o diretor do orfanato comentou, “se dependesse do Yele, estas crianças estariam todas mortas agora.”

1. Campos de refugiados que prolongaram o genocídio

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O genocídio de Ruanda foi uma das piores atrocidades dos anos 1990; as estimativas chegam a um milhão de mortos. Os Hutus matavam os Tutsis, e as organizações de socorro e ONGs trataram de criar campos de refugiados ao longo da fronteira. Então houve uma reviravolta. O genocídio parou, e chegou a vez dos Hutus fugirem para os mesmos campos de refugiados.

A situação virou um desastre. Os antigos assassinos estavam com o mesmo status de refugiados, e procuravam alimento e tratamento médico. Em uma mistura fatal, as agências de socorro começaram a contratar gerentes para os campos dos refugiados, transformando antigos assassinos e criminosos de guerra em supervisores de locais com etnias misturadas.

E eles se aproveitaram da situação. Segundo a jornalista Linda Polman, os Hutus usaram os campos de refugiados como bases para continuar sua campanha genocida, usando o dinheiro e ajuda para lançar uma segunda onda de assassinatos. Por mais perverso que pareça, se as organizações de caridade simplesmente tivessem ignorado o genocídio de Ruanda, talvez houvessem mais Tutsis vivos hoje. [Listverse]

3 comentários

  • Lucas Silva:

    A própria caridade, sob a perspectiva que é algo que se faz pela própria vontade, pode ser encarada como uma forma de egoísmo. Mas é inegável que é um tipo de egoísmo positivo à sociedade, isto é, quando é feito tendo como objetivo ajudar outrem, e não somente aparentá-lo, como na maior parte dos casos do artigo.

  • João Romário:

    É cada situação… Eu traria apenas a sugestão de não traduzir indiscriminadamente o “charity” do inglês para “caridade” em português. Quando se tratar do substantivo abstrato, que evoca um sentimento ou uma virtude, a tradução é correta. Mas quando se trata do substantivo concreto, que faz referência a uma instituição, não funciona. O mais adequado seria “instituição de caridade” ou “associação caritativa”.

  • mizinha:

    nossa retirar crianças de suas familias para dar a outras? por que? somente para ganhar uma fama que ajudou? nossa…

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