Sem brincadeira: a maioria das pessoas não sabe como é o “g” minúsculo

Você pode achar que isso é uma brincadeira, mas não é. Olhe para a imagem acima e escolha a grafia correta da letra “g” minúscula.
(Se você estiver olhando para a letra “g” neste texto, saiba que está trapaceando).
Agora que você já comparou a imagem com a grafia utilizada neste artigo, sabe que provavelmente escolheu a opção errada – ou sequer sonhava qual delas estava correta.
Fique tranquilo. Acontece com (literalmente) quase todo mundo – e isso pode dizer algumas coisas interessantes sobre nossa capacidade de ler e escrever.
Uma letra, duas tipografias padrão
De acordo com teorias psicológicas básicas, nossa habilidade de leitura está diretamente ligada à nossa capacidade de reconhecimento das letras. Logo, nada mais esperado do que acertar o “g” de cara, certo?
Errado. Quando se trata dessa letra em particular, a hipótese vai para os ares.
Isso porque existem duas grafias comuns dessa letra na tipografia moderna: uma em “dois andares” (com cauda em loop), e outra em apenas “um andar” (com cauda aberta). Confira abaixo:

A letra “g” mais simples, de cauda aberta, não causa muitos problemas de reconhecimento. Ela é similar à forma como é escrita no alfabeto latim, e é a forma ensinada nas escolas.
Já a tipografia com cauda em loop dá um verdadeiro nó no cérebro – a maioria de nós não consegue se lembrar dela nem a reproduzir corretamente quando somos pedidos.
Três experimentos
Para chegar a essa conclusão, cientistas cognitivos da Universidade Johns Hopkins (EUA) realizaram três experimentos com estudantes da faculdade.
Experimento 1
No primeiro, os pesquisadores perguntaram a 38 participantes sobre seu conhecimento de que letras possuem tipografias diferentes.
Surpreendentemente, apesar de serem diretamente avisados de que a letra “g” na forma minúscula possuía dois tipografias diferentes, quase metade dos participantes não reconheceu a existência do “g” com cauda em loop e apenas um – sim, apenas UM – conseguiu escrevê-lo corretamente.

Experimento 2
No segundo experimento, 16 novos participantes tiveram que ler um parágrafo e circular todos os “g” com causa em loop que apareciam nele.
Depois, longe do documento, tiveram que reproduzir o “g” conforme haviam acabado de ler. Mais uma vez, uma única alma foi capaz de reproduzi-lo corretamente.
Experimento 3
No último experimento, 44 novos participantes tiveram que escolher a grafia correta do “g” com cauda em loop, bem como da letra “a”.
Conforme esperado, todos escolheram o “a” correto. Já o “g”…

O que está acontecendo aqui?!
Ok. Já entendemos. Esse efeito bizarro é mega real e queremos saber por quê.
“O que achamos que pode estar acontecendo é que aprendemos as formas da maioria das letras em parte porque precisamos escrevê-las na escola. O ‘g’ com cauda em loop é algo que nunca aprendemos a escrever, por isso não aprendemos sua forma também”, disse um dos autores do estudo, o cientista cognitivo Michael McCloskey, ao Science Alert.
Agora vem as implicações desta descoberta para a forma como lemos e escrevemos: ao que tudo indica, não precisamos realmente aprender todos os detalhes de uma letra para reconhecê-la, apenas o suficiente para diferenciá-la das outras.
Dito isto, se não conseguimos reproduzir algo tão simples como uma letra, esse achado também sugere que não sabemos muito sobre como as pessoas percebem o mundo ao seu redor.
“E as crianças que estão aprendendo a ler? Elas têm um pouco mais de dificuldade com essa forma de ‘g’ por que não foram forçadas a prestar atenção nela e escrevê-la? Isso é algo que realmente não sabemos. Nossas descobertas nos dão uma maneira intrigante de analisar as questões sobre a importância da escrita para a leitura”, complementa McCloskey.
Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista científica Journal of Experimental Psychology: Human Perception and Performance. [ScienceAlert]