Alzheimer não é uma doença do cérebro: especialistas

Por , em 20.08.2024

A busca por uma cura para a doença de Alzheimer tem sido um desafio cada vez mais acirrado e polêmico, com os últimos anos trazendo à tona questões controversas.

Em 2022, a revista Science destacou que um estudo influente de 2006, publicado na prestigiada Nature, que associava a proteína beta-amiloide ao Alzheimer, pode ter se baseado em dados falsificados.

Um ano antes, em 2021, a FDA dos EUA aprovou o aducanumabe, um anticorpo direcionado à beta-amiloide, como tratamento para Alzheimer, apesar das evidências contraditórias e incompletas sobre sua eficácia.

Essa decisão dividiu a opinião médica. Alguns profissionais de saúde argumentam que o aducanumabe nunca deveria ter sido aprovado, enquanto outros acreditam que ele merece ser testado.

Com milhões de pessoas necessitando de um tratamento eficaz, a dúvida persiste: por que os avanços no tratamento do Alzheimer têm sido tão lentos?

O Enigma da Beta-Amiloide

Durante anos, a ciência concentrou seus esforços em evitar a formação de aglomerados da proteína beta-amiloide no cérebro, uma das características do Alzheimer. Esse foco intenso, porém, pode ter levado a uma visão limitada, que deixou de considerar outras explicações para a doença.

Infelizmente, essa abordagem focada na beta-amiloide ainda não resultou em tratamentos eficazes. Surgem agora apelos para uma nova maneira de pensar o Alzheimer, indo além dos tradicionais paradigmas.

No Instituto de Cérebro Krembil, parte da University Health Network em Toronto, estamos desenvolvendo uma nova teoria para entender o Alzheimer. Após 30 anos de pesquisas, acreditamos que o Alzheimer não seja apenas uma doença do cérebro, mas também um distúrbio do sistema imunológico no cérebro.

Alzheimer como Doença Autoimune

O sistema imunológico, presente em todos os órgãos, é responsável por reparar lesões e combater infecções. No cérebro, ele age da mesma maneira. A beta-amiloide, nesse contexto, não seria uma proteína anômala, mas uma parte natural do sistema imunológico cerebral.

Quando o cérebro sofre um trauma ou é invadido por bactérias, a beta-amiloide entra em ação como parte da resposta imunológica. O problema surge porque, devido às semelhanças entre as membranas das células cerebrais e as das bactérias, a beta-amiloide acaba atacando as próprias células cerebrais, em vez de proteger o cérebro.

Esse ataque equivocado ao próprio cérebro resulta em uma perda progressiva da função cerebral, culminando na demência, característica do Alzheimer. Sob essa nova perspectiva, o Alzheimer pode ser entendido como uma doença autoimune, onde o sistema imunológico ataca o próprio órgão que deveria proteger.

Explorando Novas Abordagens

Além dessa teoria autoimune, outras explicações para o Alzheimer estão ganhando força. Alguns pesquisadores sugerem que a doença pode estar relacionada a problemas nas mitocôndrias, as estruturas responsáveis por gerar energia nas células cerebrais.

Outros especulam que a doença pode ser resultado de uma infecção cerebral, possivelmente causada por bactérias da boca, enquanto há quem acredite que ela esteja ligada ao manejo inadequado de metais como zinco, cobre ou ferro no cérebro.

O surgimento dessas novas teorias é encorajador. Com mais de 50 milhões de pessoas afetadas pela demência no mundo, e um novo diagnóstico a cada três segundos, a necessidade de novas ideias é urgente.

O Alzheimer representa uma crise de saúde pública que exige soluções inovadoras. Compreender melhor suas causas e desenvolver tratamentos eficazes é crucial para melhorar a qualidade de vida das pessoas e famílias afetadas, além de aliviar o sistema de saúde sobrecarregado.

Donald Weaver, Professor de Química e Diretor do Instituto de Pesquisa Krembil, University Health Network, Universidade de Toronto

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