A diferença crucial entre a moral de ateus x crentes: estudo
Um novo estudo sugere que, enquanto ateus e teístas compartilham valores morais relacionados à proteção de indivíduos vulneráveis, os ateus são menos propensos a endossar valores que promovem a coesão do grupo e mais inclinados a julgar a moralidade das ações com base em suas consequências. Tomas Ståhl, da Universidade de Illinois, em Chicago, apresentou suas descobertas na revista científica PLOS ONE em 24 de fevereiro de 2021.
Em muitos países crenças culturais generalizadas sustentam que os ateus não têm uma bússola moral. No entanto, nenhum estudo prévio examinou sistematicamente as diferenças entre os conceitos de moralidade dos ateus e teístas.
Para resolver essa lacuna, Ståhl realizou duas pesquisas examinando os valores morais de 429 ateus e teístas estadunidenses através da plataforma Mechanical Turk da Amazon. Ele também realizou duas pesquisas maiores envolvendo 4.193 ateus e teístas dos EUA (um país predominantemente religioso) e da Suécia (um país predominantemente não-religioso).
A análise dos resultados sugere que os teístas estão mais inclinados do que os ateus a endossar valores morais que promovem a coesão do grupo. No entanto, ateus são mais propensos a julgar a moralidade de uma ação baseada em suas consequências. No entanto, ateus e teístas parecem similares nos valores morais relacionados à proteção de indivíduos vulneráveis, liberdade e opressão, e epistemicamente racionais, ou seja: acreditam em afirmações quando são baseadas em evidências e são céticos sobre alegações não apoiadas por evidências.
Os resultados da pesquisa também forneceram dicas sobre a razão que as bússolas morais dos ateus e teístas podem ser calibradas de forma diferente: as distinções podem decorrer, em parte, da maior exposição dos teístas ao engajamento comunitário em comportamentos que seriam custosos se as suas crenças fossem falsas (como participar de reuniões religiosas).
Essas descobertas sugerem que a ideia generalizada de que os ateus são imorais pode surgir, em parte, de seu apoio fraco aos valores morais que promovem a coesão do grupo e seu julgamento moral baseado em consequências e observado no julgamento de casos individuais das ações de cada um.
Ståhl acrescenta: “A mensagem mais geral desses estudos é que as pessoas que não acreditam em Deus têm uma bússola moral. Na verdade, eles compartilham muitas das mesmas preocupações morais que dos crentes religiosos, como preocupações com a justiça, e sobre proteger indivíduos vulneráveis… No entanto, os [que não tem crença religiosa] são menos inclinados do que os crentes a endossar valores morais que servem à coesão do grupo, como ter respeito pelas autoridades, lealdade ao seu grupo e santidade… É possível que o estereótipo negativo dos ateus como imorais possa decorrer, em parte, do fato de que eles são menos inclinados do que as pessoas religiosas a ver o respeito pela autoridade, lealdade ao grupo e santidade como relevante para a moralidade, e eles são mais propensos a fazer julgamentos morais de uma maneira consequencialista e caso-a-caso.” [Phys]