O candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, disse que pode tirar o Brasil do Acordo de Paris se eleito, uma vez que este fere a soberania do país.
O acordo, assinado por 195 países em 2015, é um plano mundial de combate às mudanças climáticas e tem como uma de suas principais metas reduzir a emissão de gases do efeito estufa, de forma a evitar o aquecimento global.
Em junho deste ano, os EUA saíram do acordo por decisão do presidente Donald Trump, que havia prometido retirar o país do pacto internacional durante sua campanha presidencial.
Por quê?
Bolsonaro afirmou que é desfavorável ao acordo porque o Brasil teria que “pagar um preço caro” para atender às exigências.
De acordo com a Reuters, Bolsonaro teria dito a jornalistas no Rio de Janeiro na segunda-feira (8) que “o que está em jogo é a soberania nacional, porque são 136 milhões de hectares que perdemos ingerência sobre eles. Eu saio do Acordo de Paris se isso continuar sendo objeto. Se nossa parte for para entregar 136 milhões de hectares da Amazônia, estou fora sim”.
O candidato ainda afirmou que pretende levar ao Congresso um debate sobre a demarcação de terras indígenas e autorização para a titularização das terras e exploração comercial de áreas protegidas que são ocupadas por indígenas e quilombolas.
“Tem muita reserva superdimensionada e os índios querem fazer na terra o que os fazendeiros fazem na deles. Queremos titularizar áreas indígenas e quilombolas também”, sugeriu, acrescentando: “No que depender de mim, lógico que tem que passar pelo Parlamento (a aprovação para exploração comercial nessas áreas)”.
É uma boa decisão?
A declaração de Bolsonaro já repercutiu no exterior, com a influente revista tecnológica e científica britânica New Scientist abrindo um artigo sobre ela com o sombrio veredicto: “Não é um movimento na direção certa. Logo que um importante relatório climático destacou como não estamos fazendo o suficiente para cumprir a meta do acordo climático de Paris, a primeira rodada da eleição presidencial no Brasil foi ganha por um candidato de extrema-direita que quer se retirar do acordo”.
A revista se refere à reunião de cientistas e pesquisadores do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas entre os dias 1 e 5 de outubro na Coreia do Sul, que trouxe um prazo bastante apertado para que a humanidade reduza drasticamente a emissão de CO2: temos apenas uma década para evitar total desastre climático.
A resistência dos países vem do fato que cumprir essa meta significa uma revolução nas formas de transporte, indústria, alimentação e gerenciamento de terras no mundo todo, e claro que isso tudo não vai ser nada barato. Para limitar o aquecimento a 1,5°C, o mundo inteiro vai ter que investir US$2,4 trilhões anualmente até 2035.
Mas é muito melhor agir agora do que mais tarde; tentar remover o CO2 do ar depois custará mais caro. Sem contar as terríveis consequências que todos teremos que enfrentar.
Apoiar o Acordo de Paris é uma questão de lógica
O próprio Bolsonaro estará provavelmente vivo para enfrentar sérios problemas, mas estes só tenderão a piorar conforme o tempo passa.
Se a temperatura média aumentar 2°C, os corais estarão mortos e os mares subirão em média 10 cm. Isso pode não parecer muito, mas um aumento de 1,5°C para 2°C significa que mais 10 milhões de pessoas estarão expostas a enchentes.
Também haverá impactos significantes nas temperaturas dos oceanos, acidez das águas e ficará mais difícil plantar arroz, milho e trigo.
Além disso, o aumento da temperatura está ligado a problemas que não viriam à mente rapidamente, como aumento do número de acidentes de carro, aumento do número de suicídio e de doenças mentais.
A questão é: seremos assim tão míopes hoje a ponto de esquecer que há um amanhã? [Terra, Extra, NewScientist]