O que são os chamados “buracos de minhoca”? Eles fazem parte das previsões elaboradas por Albert Einstein, na famosa Teoria da Relatividade, e consistem em um fenômeno astrofísico teórico,que prevê a ligação de pontos distantes do espaço, como uma espécie de atalho para percorrer longas distâncias no universo.
Mas se eles são apenas teóricos, como seria possível construir um?
O cientista Manuel Hohmann, da Universidade de Tartu, na Estônia, tem essa resposta. Para realizar tal feito, ele elaborou um modelo para construir “buracos de minhoca” estáveis. Mas há um porém: para que o projeto dê certo, precisaríamos da ajuda de aliens feitos de matéria exótica, que só podem se comunicar com a Terra por meio de um fenômeno chamado ondas gravitacionais.
Tem mais um detalhe: o universo está em constante expansão a velocidades que só aumentam. A teoria que prevalece é que uma força misteriosa, chamada “energia escura”, é quem conduz esse processo e é também a responsável por acelerá-lo. Mas Hohmann tem um plano B para isso. Ele tem trabalhado em uma alternativa, chamada “multimetric gravity” (algo como “gravidade multimétrica”, em tradução livre), que envolve cópias do Modelo Padrão da Física de Partículas em que cada uma tem propriedades levemente diferentes.
Buraco de minhoca e a Mistura de partículas
As partículas que estão dentro de uma cópia não interagem umas com as outras para construir matéria, como normalmente fariam. E as partículas de diferentes cópias só interagem através da gravidade, um pouco como a “matéria escura” – substância que os cientistas acreditam ser a principal componente do universo, representando cerca de 80% de toda sua matéria. A diferença é que duas partículas feitas de diferentes tipos de matéria se repelem, ao invés de se atraírem.
Segundo Hohmann, galáxias inteiras feitas de matéria escura poderiam existir nos enormes vazios cósmicos entre galáxias regulares. E tais estruturas iriam repelir nossas galáxias, e assim poderiam estar contribuindo com o que percebemos como energia escura.
Para o cientista, essa teoria também poderia ser capaz de fazer buracos de minhoca, já que a maioria dos projetos para se fazer buracos de minhoca estáveis requerem matéria com energia negativa – que é (detalhe) algo que nunca vimos. Mas a ideia de Hohmann é que se um buraco de minhoca for construído com quantidades iguais de matéria regular e repulsiva (matéria escura), ele poderia ficar aberto e estável.
Para levar essa construção adiante, contudo, precisaríamos de muita ajuda de “aliens escuros”. Isso porque civilizações feitas a partir de cada tipo de matéria teriam que cooperar. E, como falamos, eles só poderiam fazer isso através de ondas gravitacionais.
Mancha galáctica
“Cada civilização teria que ser capaz de manipular um sistema solar inteiro para gerar essas ondas, e então elas precisariam de um detector de ondas trabalhando para ouvir essa comunicação”, diz Hohmann. O que, em outras palavras, significa que a construção de um buraco de minhoca não vai começar em breve.
“Do ponto de vista puramente matemático, é inteligente e muito elegante”, disse Aurélien Barrau, da Universidade de Grenoble-Alpes, na França. “Mas isso está longe de ser convincente do ponto de vista físico”, completou. A teoria da gravidade multimétrica é uma extensão altamente especulativa da relatividade geral. E mesmo se a teoria estivesse correta, a construção de um buraco de minhoca exigiria algo como um milagre para de fato acontecer.
A essa altura, você deve estar se perguntando: “o Hohmann está maluco, então?”
Não exatamente. Ele aceita que esse cenário tem suas dificuldades. Mas se galáxias escuras existem e estão por aí, em algum lugar do universo, ele acha pode encontrá-las. Isso porque as galáxias podem dar dicas de sua existência. As massivas “normais” deformam o espaço-tempo de uma forma que pode melhorar a luz e aumentar os objetos que estão por trás delas, mais ou menos como uma lente de aumento. Já uma galáxia escura iria desfocar a luz, devido à sua gravidade repulsiva, criando uma leve mancha no vazio onde essas galáxias talvez existam. Quem sabe, os telescópios do futuro possam ser capazes de detectais tais manchas.[newscientist]