Ao estudarem como as memórias são feitas, neurobiologistas da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, criaram novas memórias específicas por meio de manipulação direta no cérebro. O experimento pode se revelar fundamental para a compreensão e a potencial solução de distúrbios de aprendizagem e de memória.
A pesquisa, conduzida por Norman Weinberger, professor de neurobiologia da universidade, e colegas, mostrou que as memórias específicas podem ser produzidas por pessoas de fora diretamente alterando as células do córtex cerebral, responsáveis por tal memória. Os pesquisadores dizem que esta é a primeira evidência de que as memórias podem ser criadas por cientistas, por meio de manipulação cortical direta. Os resultados do estudo apareceram na edição do final de agosto da revista Neuroscience.
Durante a pesquisa, Weinberger e seus colegas colocaram um som específico para tocar a fim de testar roedores cobaias. Em seguida, eles estimularam os núcleos basais profundos dos cérebros dos animais, que liberaram a acetilcolina (ACh), um produto químico envolvido na formação da memória. Este procedimento aumentou o número de neurônios que respondiam ao sinal sonoro específico.
No dia seguinte, os cientistas tocaram diversos sons aleatórios para os animais ouvirem e descobriram que a respiração dos bichos disparou ao reconhecer o tom particular, mostrando que o conteúdo da memória específica foi criado por alterações cerebrais induzidas diretamente durante o experimento. De acordo com os cientistas envolvidos, as memórias criadas possuem as mesmas características das lembranças naturais, incluindo a retenção a longo prazo.
“Os distúrbios de aprendizagem e memória são um grande problema que muitas pessoas enfrentam diariamente. Uma vez que descobrimos não só a maneira como o cérebro produz as memórias, mas também como criar novas memórias com conteúdo específico, a nossa esperança é de que a pesquisa abra o caminho para a prevenção ou a solução deste problema global”, afirma Weinberger, que também é membro do Centro de Neurobiologia de Aprendizado e Memória e do Centro de Investigação Fonoaudiológica da Universidade da Califórnia.
A criação de novas memórias ao alterar diretamente o córtex foi o resultado de vários anos de pesquisa no laboratório de Weinberger, com muito estudo da estimulação do núcleo basal e da Ach e o papel que eles desempenham na plasticidade cerebral e na formação de memória específica. Anteriormente, os autores já haviam demonstrado como a força de memória é controlada pelo número de células no córtex auditivo, que processa os estímulos sonoros. [Science Daily]