Dizem por aí que o melhor jeito de viver a vida é procurar ser, todo o dia (ou sempre que possível), uma pessoa melhor. Mas, como tantas outras coisas – tais como parar de se importar com o que as pessoas pensam e se aceitar para ter uma vida mais feliz -, essa parece ser mais fácil de falar do que de fazer.
Só que, independente do grau de dificuldade dessas pequenas “missões” que impomos a nós mesmos todos os dias, sempre temos uma alternativa muito agradável: tentar.
Como economizar dinheiro
No quesito “tentar”, os psicólogos não só fazem mágica, como têm alguns truques na manga para nos ensinar a percorrer esse caminho que, entre outras possibilidades, pode muito bem acabar em uma vida mais feliz e satisfatória. Então, eu pergunto: por que não saber mais e, quem sabe, tentar?
Existem uma série de sensações desagradáveis que, infelizmente, fazem mais parte da nossa rotina do que gostaríamos, como o estresse, por exemplo.
O estreese puxa a falta de tempo, que também é consequência de uma rotina atribulada e cheia de tarefas, com um fluxo de informação mais intenso que um feed de notícias de Facebook de uma adolescente de 15 anos. É tanta coisa para acompanhar que quase não sobra para tempo para relaxar e curtir um momento de tranquilidade só seu. Essa onda de insatisfação costuma englobar um outro problema do nosso tempo: a sensação de estar sempre sem dinheiro.
Quanto ao estresse, o único conselho que podemos dar é: relaxe. Encare isso como uma escolha: o estresse está nos ambientes que frequentamos, mas você pode deixá-lo entrar em você, ou não. Leva tempo até a gente aprender a separar as coisas e entender que algumas questões não devem ser levadas para casa. No entanto, eu garanto: é possível.
Quanto à falta de tempo, das duas uma: ou você realmente não tem tempo, porque trabalha mais que o relógio, ou você arruma desculpas para não ter tempo e evitar passar um tempo agradável na sua própria confortável companhia. Se o seu for o primeiro caso, se acalme e reduza o ritmo das suas atividades. Por outro lado, se a sua pessoa se encontra no segundo caso, minha dica é ler esse artigo: a autoaceitação pode ser a chave para uma vida mais feliz.
Agora se você é desses que vive dizendo (ou achando) que está sem dinheiro, tenho mais algumas coisas para conversar com você. Se estivéssemos em uma mesa de bar, qualquer dia antes de hoje, meu conselho provavelmente seria procurar algum aplicativo de controle de finanças. Ou fazer planilhas para controlar os seus gastos.
Mas hoje eu tive a felicidade de conhecer uma nova técnica, digamos assim, de como fazer o dinheiro durar mais. Ou como economizar, se você preferir colocar nesses termos. E não poderia de deixar de compartilhar com você, que pode fazer tão bom proveito dela quanto eu. Essa técnica é fácil de aprender e, acredite, tem efeitos magníficos na sua felicidade. Como não poderia deixar de ser, é gratuita. Quer saber como ela se chama? Que rufem os tambores! Essa técnica tão milagrosa se chama “saborear”.
O que é saborear?
Acho que esse é um daqueles casos em que a resposta é exatamente o que parece ser. A técnica do “saborear” é a capacidade que desenvolvemos em nós mesmos de prolongar e esticar aquela sensação boa de experiências que consideramos positivas. É a diferença entre engolir uma refeição e se deliciar com cada garfada, sentido aquele sabor dos deuses derreter na boca pouco a pouco. “Saborear” tem tudo a ver com a quantidade de tempo que você gasta sentado em frente a um pôr do sol.
Os cientistas têm consistentemente encontrado evidências que fortalecem a teoria de que saborear todos os momentos de nossas vidas (inclusive os pequenos) provoca um aumento quase inacreditável na felicidade de cada um de nós. O que, convenhamos, faz sentido. Quanto mais você puder prolongar suas experiências emocionais positivas, mais emoções positivas estarão presentes no seu dia a dia.
Na verdade, essa capacidade de “saborear” têm se mostrado eficiente para trazer diversos benefícios às pessoas ao longo de toda a vida: estudos mostram que esse hábito incrivelmente simples contribui decisivamente para o bem-estar de crianças, adolescentes, adultos e idosos. Ou seja: é um hábito que você planta e colhe em qualquer estágio da vida.
Saborear também é um dos melhores truques para maximizar suas finanças, porque você decide receber a mesma satisfação gastando 1 real ou 1 milhão. Percebeu o que eu disse? Esse ponto é tão importante que vou até repetir: você decide. O que nos leva a um ponto um tanto irônico dessa questão…
O dinheiro é o grande problema da técnica de saborear
Estranho, não? Se você está acompanhando meu raciocínio até aqui, há de concordar comigo que o natural seria ele ser solução, e não problema. Mas a questão é que um estudo publicado em 2009 diz exatamente o contrário. Um grupo de psicólogos de diversos países, como Canadá, Inglaterra e Bélgica, descobriram que o dinheiro realmente prejudica a capacidade das pessoas de saborear experiências positivas todos os dias.
Então, os mesmo pesquisadores se propuseram a entender por que, estudo após estudo, o resultado é sempre que a riqueza de uma pessoa costuma ser inversamente proporcional a seu nível de felicidade. Depois de conduzir dois estudos diferentes, eles obtiveram o mesmo resultado e uma conclusão: quanto maior a riqueza de uma pessoa, menor a capacidade que ela tem de saborear as experiências vividas.
Os participantes com renda superior obtiveram as menores pontuações em um teste que media o quanto eles saboreavam diversas experiências. Curiosamente, até mesmo um sussurro que os fizesse pensar em dinheiro correspondia a uma capacidade menor de saborear o momento em si. Os pesquisadores descobriram isso mostrando imagens de moedas estrangeiras para os participantes, ante de deixá-los comer pedaços de um bolo. Assim, ao ver um dólar, ou qualquer outra figura de moeda internacional, as pessoas eram induzidas a pensar em dinheiro e, desta maneira, gastavam menos tempo comendo o delicioso bolo de chocolate que lhes era oferecido – saboreando-o muito menos, consequentemente.
Então, riqueza, dinheiro e qualquer outro símbolo que remeta a uma moeda prejudica nossa capacidade de viver o memento presente, em sua complitude. Isso não quer dizer ser rico é ruim.
Acho que todos nós concordamos que levar uma vida confortável, do ponto de vista financeiro, é um dos nossos (aqui eu me incluo sem medo de ser feliz) grandes objetivos. Mas é fato que precisamos aprender a conviver com o dinheiro, de forma que ele faça parte de nossas vida, e não seja absolutamente tudo o que a gente tenha. Essa obsessão, 24 horas por dia e 7 dias por semana, é que não tem nada de saudável. E é o que pode acabar prejudicando nossa capacidade de apenas aproveitar a vida.
Por que a riqueza pode prejudicar nossa capacidade de saborear a vida?
Os pesquisadores ainda não têm certeza. Eles supõem, contudo, que focar as grandes experiências da vida em coisas realmente grandes (como visitar as pirâmides do Egito, ou fazer uma passeio de barco na Riviera Francesa) acaba diminuindo o impacto de experiências que passamos a considerar como “menores”. Em outras palavras, é como se aumentássemos o nível de satisfação e o restringíssemos a experiências caras e que só seriam realizáveis com um grande (ou pelo menos considerável) investimento financeiro.
Dessa forma, as experiências do nosso dia a dia, por estarem muito perto e não exigirem grandes esforços (ou ainda por custarem “muito pouco” ou quase nada) acabam perdendo o valor. Até emocional. Coisas como o cheiro do café fresquinho, a brisa fresca batendo no rosto, ou um agradável bom dia passam tristemente despercebidas. Quão triste é isso? Até porque, convenhamos: a nossa vida é muito mais povoada por momentos assim, “pequenos”, do que qualquer outra coisa. Não importa quanto de dinheiro cada um de nós tenha guardado no colchão.
Tempo e dinheiro são muitas vezes relacionados, de forma que pensar em dinheiro faz as pessoas imediatamente pensarem sobre produtividade. Parece uma relação um tanto lógica, não? Quanto mais eu trabalho, mais eu ganho. E isso faz com que a gente queria se mover mais rápido. Assim, o tempo gasto em alguma tarefa estaria diretamente relacionado com o tanto que poderíamos nos permitir saboreá-la. Você concorda?
Como fazer para saborear?
A boa notícia disso tudo que falei até agora é que saborear é um hábito fácil de se aprender, e muito simples de ser cultivado. Exatamente como as melhores coisas da vida – coincidência?
Para ajudar você nessa nova jornada, os pesquisadores detectaram uma espécie de passo-a-passo que, se devidamente colocado em prática, tem o efeito desejado de maximizar a felicidade com que tanto sonhamos.
Essas são as quatro simples estratégias que podemos começar a praticar agora para soborear mais. Podem ser usadas individualmente ou combinadas:
- Antecipe eventos/coisas: Se você for fazer uma viagem, por exemplo, tente viver a experiência toda antes de desembarcar no seu destino. Pesquise sobre o local, ouça músicas tradicionais, peça referências para amigos que já conheçam o local que você irá visitar, festas para ir, museus para conhecer e etc. Essa antecipação da experiência é uma forma de fazer a viagem durar mais tempo, e torna o processo todo um tanto mais divertido. É como se você começasse a viagem antes mesmo de chegar. Sem contar que todo esse processo de preparação para “o grande dia” também aumenta consideravelmente as expectativas do que vai acontecer quando você estiver lá, o que contribui para experiências muito mais intensas e, claro, saborosas.
- Esteja presente e aproveite o momento/coisa na hora em que estiver acontecendo: Quando você (e quase todo mundo) está viajando, é comum passarmos mais tempo querendo memorizar tudo, tirando fotos infinitas de cada detalhe e incansavelmente postando tudo no Facebook, do que de fato aproveitando aquela experiência. Claro que tirar fotos é legal, e faz parte de qualquer viagem. Mas ter histórias para contar, e memórias reais, é muito mais legal. Tente absorver plenamente os momentos, e não só quando estiver viajando. Todas as coisas que você vive são únicas e não vão acontecer de novo. Não é à toa que dizer que o seu tempo é a coisa mais preciosa que você pode doar a alguém. Afinal, é uma porção da sua vida que vai, e nunca mais volta.
- Relembre de algum evento passado e saboreie essa memória: O tempo não volta, mas deixa lembranças. E elas podem ser tão doces quanto no momento em que aconteceram. Lembrar de experiências positivas é revivê-las. E essa experiência traz sensações boas de volta a sua vida, como se elas tivessem acabado de acontecer. Mas perceba a diferença: relembrar é uma coisa, viver no passado é outra completamente diferente. É totalmente possível aproveitar o tempo presente e saborear memórias de tempos passados, sem entrar em contradição consigo mesmo. A lembrança é efêmera, e faz parte de alguns momentos do agora. Viver no passado é uma atitude constante e geralmente está ligada a uma certa amargura. E esse, certamente, não é um caminho que nenhum de nós queira seguir.
- Fale sobre isso e divida a sua experiência de saborear a vida com as outras pessoas: compartilhar suas atitudes em qualquer um dos passos anteriores (antecipação, experiência e memória) ajuda a melhorar o nosso prazer em estar consciente sobre essas atitudes. Isso pode significar falar com os outros, escrever sobre ou até compartilhar em suas mídias sociais. No caso de uma viagem, por exemplo, você pode continuar falando sobre ela mesmo depois de voltar e quando ainda não foi (tanto com seus amigos, pessoalmente, quanto por meio de suas redes sociais ou escrevendo para si em um diário). Isso tudo ajuda a saborear mais e mais cada momento. Lembre-se: a felicidade é uma das poucas coisas (se não a única) que, quando a gente divide, também se multiplica.
Há muitas coisas que podemos saborear, sejam elas grandes ou pequenas. Coisas que vão desde fazer uma viagem a comprar uma blusa nova, ou comer um pedaço daquele bolo delicioso que só sua avó sabe fazer. Cada um desses prazeres pode ser longo o suficiente para fazer valer nosso rico dinheirinho. E, claro, não vamos nos esquecer de saborear coisas totalmente gratuitas, como o cheiro de uma flor, ou um belo pôr do sol. É tudo uma questão de parar um pouco, e reparar na beleza das coisas que estão à nossa volta.
Para encerrar esse artigo, deixo você com uma reflexão que, para mim, começou com um rabisco de caderno e hoje meio que faz parte de quem eu sou: as melhores coisas da vida não são as coisas, são os momentos. Especialmente aqueles que a gente passa junto de quem a gente ama. [Learnvest]