Covid-19 e a ‘névoa cerebral’: Estudo revela impacto de longa duração na memória
Pesquisadores do King’s College London conduziram um estudo sobre os efeitos da Covid-19 na memória, concentrando-se especificamente no fenômeno conhecido como “névoa cerebral” (ou “brain fog”). Eles descobriram que indivíduos que testaram positivo para a Covid-19 e apresentaram sintomas por mais de três meses mostraram o maior nível de comprometimento cognitivo. O estudo, publicado no The Lancet, revelou que o impacto da Covid-19 na memória pode durar quase dois anos após a infecção inicial.
Claire Steves, professora de envelhecimento e saúde do King’s College, enfatizou que mesmo após dois anos desde a primeira infecção, algumas pessoas ainda relatavam não se sentirem completamente recuperadas e que suas vidas continuavam sendo afetadas pelas consequências de longo prazo do coronavírus.
Ainda não se sabe, exatamente, o que promove esses efeitos em pessoas que foram infectadas por Covid-19, mas não é raro que um amigo ou amiga relate estar passando por momentos de confusão e de esquecimento agora que a pandemia parece ter chegado aos seus estágios finais.
Esses sintomas parecem se agravar, sobretudo, por conta das medidas de distanciamento social que parecem ter destreinado o comportamento humano em algumas esferas de relacionamento, estreitando, dessa forma, também nossa capacidade de articulação, seja com pessoas desconhecidas, seja até mesmo com pessoas do nosso convívio diário – o que pode também ser um quadro sintomático.
O estudo incluiu mais de 5.100 participantes recrutados por meio do aplicativo para smartphone chamado Covid Symptom Study Biobank. Os pesquisadores utilizaram 12 testes cognitivos para avaliar diferentes aspectos da memória, atenção, raciocínio e controle motor durante dois períodos: julho e agosto de 2021, e abril e junho de 2022.
No primeiro grupo, que consistia em 3.335 participantes de julho e agosto de 2021, aqueles com infecções por Covid-19 positivas apresentaram pontuações cognitivas mais baixas, e os déficits mais significativos foram observados em indivíduos com sintomas que duraram mais de 12 semanas. Esses déficits eram comparáveis à redução cognitiva geralmente observada em indivíduos com aproximadamente 10 anos a mais ou naqueles que sofrem de angústia psicológica leve ou moderada.
No entanto, a redução cognitiva causada pela Covid-19 foi menor em comparação com outros fatores, como menor nível educacional ou níveis de fadiga acima do limite. A segunda rodada de testes, envolvendo 1.786 participantes de abril a junho de 2022, não mostrou melhora significativa nas pontuações cognitivas, mesmo após nove meses desde a primeira avaliação.
De forma positiva, indivíduos que relataram recuperação completa da Covid-19, mesmo que tenham experimentado sintomas por mais de três meses, não apresentaram nenhum comprometimento cognitivo. Dr. Nathan Cheetham, autor principal do estudo, expressou que esse achado é encorajador.
Ele enfatizou a importância de monitorar indivíduos cuja função cerebral foi mais afetada pela Covid-19 para compreender melhor o desenvolvimento contínuo dos sintomas cognitivos e fornecer suporte para sua recuperação.
De acordo com o censo governamental de 2023, estima-se que dois milhões de pessoas no Reino Unido estavam experimentando sintomas de longa duração da Covid-19, como fadiga, dificuldade de concentração, falta de ar e dores musculares, por mais de quatro semanas desde a infecção. [TheGuardian]