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Estudo descobre como funciona a criatividade

Um novo estudo, que analisou o cérebro dos participantes durante a realização de atividades criativas, pode ter respondido uma pergunta que intriga os cientistas há muito tempo: por que algumas pessoas são mais criativas do que outras? A criatividade é a capacidade de apresentar ideias novas e úteis em determinadas situações. “Ela é uma característica que todos – e não apenas gênios criativos como Picasso e Steve Jobs – possuem de alguma forma”, diz Roger Beaty, pós-doutor em Neurociência Cognitiva na Universidade de Harvard, nos EUA, e um dos autores do estudo.

Em um texto publicado no site The Conversation, ele explica que o estudo descobriu que as pessoas que conseguem ativar determinadas redes neurais no cérebro ao mesmo tempo têm a tendência de ser mais criativas. Estas redes normalmente trabalham sozinhas – quando uma é ativada, a outra desliga – mas, aparentemente, pessoas criativas têm a capacidade de fazê-las funcionar ao mesmo tempo.

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“Nossas descobertas indicam que o cérebro criativo é “conectado” de forma diferente e que as pessoas criativas são mais capazes de envolver sistemas cerebrais que geralmente não trabalham juntos. Curiosamente, os resultados são consistentes com recentes estudos de fMRI (ressonância magnética funcional) de artistas profissionais, incluindo músicos de jazz improvisando melodias, poetas escrevendo novas linhas de poesia e artistas visuais desenhando ideias para uma capa de livro”, descreve Beaty.

Em busca da criatividade

No estudo, ele conta, 163 participantes completaram um teste de “pensamento divergente”, chamado de tarefa de uso alternativo, que pede que as pessoas pensem em usos novos e incomuns para objetos. Por exemplo, os participantes viram em uma tela diferentes objetos, como um papel de bala ou uma meia, e tiveram que criar maneiras criativas de usá-los. “Algumas ideias foram mais criativas do que outras. Para a meia, um participante sugeriu usá-la para aquecer seus pés – que é o uso comum para uma meia – enquanto outro sugeriu que ela fosse usada como um sistema de filtragem de água”, diz Beaty.

“Descobrimos que as pessoas que se saíram melhor nesta tarefa também tendiam a relatar ter passatempos e conquistas mais criativas, o que é consistente com estudos anteriores que mostram que o exercício mede a capacidade de pensamento criativo geral”, completa.

Ao completarem o teste, os participantes foram submetidos a exames de ressonância magnética funcional, para terem o fluxo de sangue para partes do cérebro medido. Depois que completaram essas tarefas de pensamento criativo no fMRI, eles tiveram a conectividade funcional entre todas as regiões cerebrais medidas – ou seja, o quanto atividade em uma região se correlacionou com a atividade em outra região.

Suas ideias foram classificadas de acordo com a originalidade: os usos comuns, como usar a meia para aquecer os pés, receberam pontuações mais baixas, enquanto que os usos incomuns, como usar a meia para filtrar água, receberam pontuações mais altas.

“Em seguida, correlacionamos o escore de criatividade de cada pessoa com todas as conexões cerebrais possíveis (aproximadamente 35,000) e removemos conexões que, de acordo com nossa análise, não se correlacionaram com os escores de criatividade. As conexões remanescentes constituíram uma rede “altamente criativa”, um conjunto de conexões altamente relevantes para gerar ideias originais”, explica o especialista.

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Com a rede definida, eles precisavam ver se alguém com conexões mais fortes nesta rede de alta criatividade se sairia bem nas tarefas. “Então, medimos a força das conexões de uma pessoa nesta rede e usamos modelagem preditiva para testar se poderíamos estimar o escore de criatividade de uma pessoa. Os modelos revelaram uma correlação significativa entre os escores de criatividade previstos e observados. Em outras palavras, podemos estimar quão criativas as ideias de uma pessoa são baseados na força de suas conexões nesta rede”, aponta.

Ou seja, segundo o novo estudo, a criatividade depende da força das conexões dentro do nosso cérebro dentro destas áreas específicas. Os cientistas fizeram mais testes para prever o comportamento dos participantes e chegaram a resultados semelhantes.

“Nós testamos se poderíamos prever a capacidade de pensamento criativo em três novas amostras de participantes, cujos dados cerebrais não haviam sido utilizados na construção do modelo de rede. Em todas as amostras, descobrimos que poderíamos prever – embora modestamente – a capacidade criativa de uma pessoa com base na força de suas conexões nessa mesma rede. No geral, as pessoas com conexões mais fortes apresentaram melhores ideias”, escreve Beaty.

Rede de alta criatividade

O neurocientista diz no texto que evidências recentes sugerem que a criatividade envolve uma interação complexa entre o pensamento espontâneo e o pensamento controlado, ou seja, a capacidade de pensar espontaneamente em ideias e avaliá-las deliberadamente para determinar se elas realmente funcionarão.

O novo estudo descobriu que as regiões cerebrais dentro da rede de “alta criatividade” pertenciam a três sistemas cerebrais específicos: as redes padrão, de saliência e executiva.

“A rede padrão é um conjunto de regiões cerebrais que se ativam quando as pessoas estão envolvidas no pensamento espontâneo, como quando nossa mente está vagando, sonhamos acordados e imaginamos. Esta rede pode desempenhar um papel fundamental na geração de ideias ou em um brainstorming – quando pensamos em várias possíveis soluções para um problema”, explica Beaty.

Já a rede de controle executivo funciona quando estamos concentrados e temos um certo controle sobre os nossos pensamentos. “É um conjunto de regiões que se ativam quando as pessoas precisam se concentrar ou controlar seus processos de pensamento. Esta rede pode desempenhar um papel fundamental na avaliação de ideias ou determinar se ideias de realmente funcionam e modificá-las para se adequarem ao objetivo criativo”, descreve.

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E a rede de saliência é uma espécie de ponte entre as duas. É um conjunto de regiões que atua como um mecanismo de comutação entre elas e pode desempenhar um papel fundamental na alternância entre geração e avaliação de ideias.

O estudo descobriu que pessoas criativas, ao contrário das outras, conseguem ativar essas redes ao mesmo tempo, ou seja, ter ideias criativas e avaliá-las simultaneamente. “Uma característica interessante dessas três redes é que elas normalmente não são ativadas ao mesmo tempo”, diz Beaty. “Por exemplo, quando a rede executiva é ativada, a rede padrão geralmente é desativada. Nossos resultados sugerem que as pessoas criativas são mais capazes de co-ativar as redes cerebrais, que costumam trabalhar separadamente”, aponta.

Beaty diz que pesquisas futuras serão necessárias para determinar se essas redes são fixas ou podem ser desenvolvidas. “Por exemplo, aulas de desenho levam a uma maior conectividade dentro dessas redes no cérebro? É possível aumentar a capacidade geral de pensamento criativo, modificando conexões de rede?”, questiona. “Por enquanto, essas questões permanecem sem resposta. Como pesquisadores, precisamos envolver nossas próprias redes criativas para descobrir como respondê-las”. [The Conversation]

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