Depois de 2,6 mil anos finalmente descobrimos como funciona a eletricidade estática

Por , em 19.09.2024

A eletricidade estática, essa força que já nos causou tantos choques inesperados, tem registros que remontam a 600 a.C., mas só agora, 2.600 anos depois, cientistas conseguiram decifrar seu verdadeiro funcionamento. Pesquisadores da Universidade Northwestern, após anos de tentativas frustradas por parte da comunidade científica, finalmente elucidaram o mistério. A explicação? Simples, mas surpreendente: pequenas imperfeições na superfície dos objetos.

Lawrence Marks, professor emérito de ciência e engenharia de materiais, esclarece que a chave está nas deformações mínimas nas superfícies dos materiais quando eles são esfregados um contra o outro. É nessas áreas que ocorrem as variações de carga elétrica, gerando uma corrente — sim, aquela descarga que sentimos quando tocamos uma maçaneta ou quando nosso cabelo se arrepia ao encostar em um balão.

A equipe de Marks começou a investigar essas propriedades em 2019, quando descobriram que o atrito entre dois materiais cria variações mínimas nas superfícies, o que acaba gerando uma voltagem. A partir dessas observações, desenvolveram um modelo baseado no conceito de “cisalhamento elástico”. Essa é a resistência que um material oferece quando outra superfície desliza sobre ele, acumulando atrito em pontos específicos. Quando essas pequenas áreas deformadas atingem um nível crítico, a diferença nas cargas elétricas entre elas gera a corrente responsável pelo choque.

O modelo desenvolvido pela equipe se mostrou tão preciso que os cálculos da corrente elétrica se alinharam perfeitamente com resultados experimentais. Para um fenômeno tão cotidiano, a eletricidade estática tem um impacto profundo na vida cotidiana e na indústria. Quem nunca teve os grãos de café grudados no moedor ou notou mudanças no sabor depois de moer o café? Isso também é consequência da eletricidade estática. E, em escalas maiores, ela pode até ser perigosa: desde complicações na dosagem de medicamentos em pó até incêndios industriais causados por pequenas descargas.

A eletricidade estática, no entanto, vai além da nossa vida cotidiana. Marks ressalta que, sem esse fenômeno, provavelmente não haveria planetas. As partículas que formam os planetas precisam da eletricidade gerada pela colisão de grãos de poeira espacial para se agruparem e formarem corpos maiores. Então, ao mesmo tempo em que essa força nos dá pequenos choques, ela é responsável por algo bem mais impressionante: a formação de mundos.

Incêndio em posto de combustível gerado por eletricidade estática: quando a motorista senta e levanta do banco de seu carro o atrito entre as roupas e o assento gerou uma carga estática que foi transferida para a superfície metálica do carro através de uma fagulha levando o vapor de combustível imediatamente entrar em ignição.

O fato de que apenas agora conseguimos entender exatamente como a eletricidade estática funciona não tira seu fascínio, pelo contrário. Afinal, são essas pequenas imperfeições, quase invisíveis, que ajudam a moldar não só nossos dias, mas também o próprio universo.

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