Ecossistema misterioso oculto por milhares de anos é encontrado em iceberg gigante

Por , em 6.10.2017

Quando um trecho de trilhões de toneladas de gelo, do tamanho do Distrito Federal, desprendeu-se da Antártida em julho, ele foi classificado como um dos maiores icebergs que os cientistas já testemunharam.

Agora, o bloco maciço também revelou um misterioso e precioso ecossistema marinho escondido sob o gelo, que pode estar submerso há cerca de 120 mil anos – e é vital, agora que foi descoberto, proteger esse santuário isolado.

“Não consigo imaginar uma mudança mais dramática das condições ambientais de qualquer ecossistema em todo o planeta”, disse à Nature o ecologista marinho Julian Gutt, do Instituto Alfred Wegener de Pesquisa Polar e Marinha, na Alemanha.

Transição e alterações

Essa transição épica deve-se ao fato de que o iceberg – que se chama A-68 – está à deriva, afastando-se se para o norte até o Mar de Weddell e longe de sua antiga morada, a plataforma de gelo Larsen C.

À medida que esta migração acontece – seja ou não causada por mudanças climáticas -, uma vasta extensão de oceano e de fundo do mar que mede cerca de 5.818 quilômetros quadrados (2.246 milhas quadradas) está sendo exposta à luz solar e à alteração das condições marinhas. Os pesquisadores acreditam que esta possa ser a primeira vez que o ecossistema tem suas condições alteradas desde o último período interglacial da Terra.

A partir dos envoltórios que surgem do ambiente intocado e inexplorado, os cientistas estão ansiosos para estudar essas águas inéditas e as formas de vida que elas podem conter – e, felizmente, agora terão a chance de fazer isso.

Área de estudo

Conforme um acordo internacional aprovado no último ano pela Comissão para a Conservação da Vida Marinha Antártica (CCAMLR), o ecossistema emergente classifica-se como uma Área Especial para Estudo Científico. Essa identificação é concedida a regiões marinhas recém-expostas a condições ambientais ou a mudanças após a retirada ou o colapso de uma plataforma de gelo.

O marco regulatório define que a área exposta não deverá ser explorada em atividades de pesca comercial por pelo menos dois anos. O prazo pode ser prolongado para até dez 10 anos – um período de tempo destinado a dar aos cientistas a oportunidade de avaliar a vida marinha que existe ali e observar novas espécies que colonizam as áreas recém-descobertas.

“É definitivamente uma área fantástica e desconhecida na pesquisa científica”, disse a bióloga marinha Susan Grant, da British Antarctic Survey (BAS), à Live Science. “Nós sabemos pouco sobre o que poderia ou não viver nessas regiões, e especialmente como elas podem se modificar ao longo do tempo”.
Grant foi uma das pesquisadoras que liderou a proposta para o reconhecimento de Área Especial, e a BAS pretende enviar um navio de pesquisa para estudar a área no início de 2018, desde que receba o financiamento.

Interesse da pesquisa internacional

Expedições sul-coreanas e alemãs também devem ocorrer em 2018 e 2019, respectivamente, à medida que os pesquisadores se apressam para examinar o terreno o mais cedo possível, antes que exposição à superfície e à luz solar provoque mudanças nas águas blindadas.

“É muito difícil mobilizar esforços de pesquisa – é preciso muito dinheiro, e o tempo de entrega dos resultados não é fácil de ser previsto”, explicou Grant à Live Science. “Mas o fato de que muitos grupos estão tentando descobrir algo por lá demonstra que esta é uma oportunidade realmente única”.

“Vida escassa”

Quanto ao que os cientistas esperam encontrar quando chegarem, ninguém sabe com certeza, mas o histórico destas expedições trazem o colapso das prateleiras de gelo Larsen A e B – em 1995 e 2002.

“A vida lá é escassa”, disse o pesquisador da BAS, Phil Trathan, à Live Science. “Trabalhamos com a hipótese de que seu ecossistema seja semelhante ao de oceanos muito profundos, mas isso é algo que precisa ser verificado”.

Enquanto esses ambientes submarinos desprovidos de luz solar e recursos alimentares se parecem com cidades fantasmas, seu estudo ainda é algo extremamente importante – sobretudo porque as condições não permanecerão inalteradas por muito tempo, com novas espécies começando a colonizar as águas expostas a partir do momento em que elas vêm à tona.

“Haverá terá luz solar, depois fitoplâncton, e logo haverá também peixes e zooplâncton”, disse Trathan. “Por isso, surgirá algo como uma reação em cadeia – na medida em que haja condições, mais espécies se aproximarão, e assim haverá mudanças bastante significativas em escalas de tempo relativamente curtas”.

As razões da separação do iceberg permanecem não explicadas. Mas agora que isso já aconteceu, é uma oportunidade maravilhosa para ver a vida adaptando-se a um território virgem – nós só precisamos chegar lá a tempo de pegar o início desse espetáculo. [ScienceAlert]

1 comentário

  • Lukas Damaceno:

    Que incrível, oportunidade unica de acompanhar a evolução das espécies. Fico triste pelo meu país não financiar esses projetos.

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