Uma nova pesquisa sugere que uma única dose de um medicamento antidepressivo comumente prescrito muda de forma rápida e dramática a “sincronia” de diferentes partes do cérebro.
No estudo, os pesquisadores escanearam os cérebros de 22 pessoas saudáveis que nunca tinham tomado antidepressivos antes. Os cientistas analisaram a chamada “conectividade funcional” do cérebro, que é uma medida de como a atividade cerebral é sincronizada em diferentes áreas.
Efeitos de antidepressivos
Os resultados mostraram uma diminuição dramática na conectividade funcional em todo o cérebro em apenas três horas depois de os participantes terem tomado um tipo de medicamento conhecido como “inibidor seletivo de recaptação de serotonina” (ISRS). “Nós não esperávamos que o ISRS tivesse um efeito tão proeminente em um prazo tão curto, ou que o sinal resultante abrangesse todo o cérebro”, conta a pesquisadora Julia Sacher, do Instituto Max Planck para Cognição Humana e Ciências do Cérebro, na Alemanha. “As mudanças de conectividade que relatamos são muito mais dramáticas e agudas do que os relatórios anteriores sobre a ação do ISRS no cérebro humano têm indicado”.
Embora os antidepressivos ISRS sejam amplamente prescritos, os pesquisadores ainda não sabem exatamente como esses medicamentos podem funcionar para melhorar o humor. O que se sabe é que as drogas afetam os níveis de serotonina do cérebro, especificamente, bloqueando a reabsorção da substância química pelas células cerebrais, conduzindo a um aumento dos níveis de serotonina fora das células.
Acredita-se que alterações nos níveis de serotonina podem levar à reorganização no cérebro, afetando a proliferação das células do cérebro, a eficiência de transmissão de sinal celular e outros fatores. Os pesquisadores postularam que essas mudanças levam várias semanas para ocorrer, aproximadamente o mesmo tempo que leva para uma pessoa deprimida começar a responder às drogas. As mudanças que os pesquisadores viram no novo estudo poderiam ser “o primeiro passo para remodelar o cérebro”, explica Sacher.
Sacher salientou que as alterações cerebrais observadas no estudo não são necessariamente “boas” ou “ruins”, por si só. De acordo com a cientista, depende do contexto e de como o cérebro de uma pessoa responde a essas mudanças na conectividade. Alguns estudos têm relacionado distúrbios de ansiedade aos padrões de aumento da função em certas redes cerebrais.
Os pesquisadores planejam realizar estudos futuros com as pessoas que estão se recuperando de depressão, bem como aqueles que tomaram ISRS, mas não se beneficiaram dos medicamentos, para comparar as alterações na conectividade funcional desses indivíduos. Entender as diferenças entre os cérebros de pessoas que respondem aos ISRSs e aqueles que não o fazem “poderia ajudar a prever melhor quem vai se beneficiar deste tipo de antidepressivo ao invés de qualquer outra forma de terapia”, finaliza Sacher. [Live Science]