Escavação inédita do campo de extermínio de Treblinka revela horrores nazistas

Por , em 13.04.2016

Escavações arqueológicas inéditas do campo de extermínio nazista de Treblinka revelaram valas comuns, bem como a primeira evidência física de que este local possuiu câmaras de gás, onde milhares de judeus morreram.

A pesquisa mostra que os nazistas não eram tão bons em encobrir seus crimes quanto pensavam. Apesar de terem destruído o campo em 1943, paredes de tijolo e fundações das câmaras de gás permanecem, assim como grandes quantidades de osso humano.

Treblinka

De todas as atrocidades do Terceiro Reich de Hitler, Treblinka é uma das mais incompreensíveis. Historiadores estimam que cerca de 900.000 judeus foram assassinados neste campo de concentração e extermínio na Polônia, em apenas 16 meses.

Os nazistas começaram a deportar os judeus, a maioria dos guetos de Varsóvia e Radom, para Treblinka em julho de 1942. Havia dois campos. Treblinka I era um campo de trabalho forçado, onde os prisioneiros fabricavam cascalho para o esforço de guerra nazista. A 2 quilômetros de distância ficava Treblinka II, um campo de extermínio terrivelmente eficiente.

Judeus eram enviados a Treblinka II em trens, enganados de que estavam apenas fazendo um trânsito antes de serem enviados para uma nova vida na Europa Oriental. A decepção era elaborada: havia uma estação falsa no lugar remoto, incluindo um balcão de compra de bilhetes e relógio.

“Havia também uma orquestra perto da recepção do campo, executada por um compositor famoso na época, Artur Gold”, disse a líder do projeto de escavação, Caroline Sturdy Colls, arqueóloga forense que normalmente trabalha com a polícia para encontrar vítimas de assassinato recentes.

Gold, um violinista judeu de Varsóvia, foi mantido vivo em Treblinka tanto para entreter os guardas nazistas quanto para executar a orquestra. Ele morreu no campo em 1943.

Morte horrenda

Os judeus deportados eram divididos em dois grupos, um de homens e outro de mulheres e crianças, e tinham que despir-se. Depois de entregar seus objetos de valor e documentos, as vítimas eram enviadas para as câmaras de gás. Dentro de 20 minutos, cerca de 5.000 pessoas eram mortas por envenenamento por monóxido de carbono.

Os cadáveres foram inicialmente enterrados em valas comuns, no entanto, mais tarde, em 1942 e 1943, trabalhadores escravos judeus foram forçados a reabrir as sepulturas e cremar os corpos em enormes fogueiras.

Infelizmente, como os nazistas destruíram os campos de extermínio de Treblinka em 1943, pouca evidência física deste genocídio permaneceu. O que se sabia sobre o lugar vinha de confissões e descrições de testemunhas oculares de poucos sobreviventes, sendo que a maioria nunca passou perto das câmaras de gás.

Mas, como arqueóloga, Colls sabia que “a paisagem nunca poderia ser higienizada dessa forma”. Ou seja, as provas dos absurdos cometidos ali ainda deveriam estar presentes.

Valas comuns

Colls começou a avaliar Treblinka como um sítio arqueológico em 2007, usando métodos não invasivos, como levantamentos geofísico e inspeção visual.

Em seguida, realizou um levantamento LIDAR. Ao digitalizar o chão, os arqueólogos podem detectar depressões e montes que indicam estruturas feitas pelo homem. “Isso revelou a presença de valas comuns anteriormente desconhecidas”, disse Colls.

As suspeitas de sepulturas em massa estavam em Treblinka I. A história do campo de trabalho é menos conhecida do que a história do campo de extermínio, agora marcada por um memorial. Mas o campo de trabalho não foi menos brutal. A maior das valas comuns tinha 19,2 por 17,6 metros.

Quando a equipe começou a escavar para confirmar os resultados do LIDAR, descobriram sapatos, munições e ossos – incluindo ossos com marcas de corte, sugerindo que as vítimas foram esfaqueadas ou agredidas.

Depois de cavar três valas de teste pequenas para confirmar cada vala comum, Colls e sua equipe enterraram novamente os restos mortais. A lei rabínica judaica proíbe a interrupção de um túmulo, por isso, o objetivo nunca foi desenterrar os corpos. Mas colocar os ossos de volta no túmulo foi emocionalmente difícil para os pesquisadores.

“Para mim, parece que o Holocausto aconteceu ontem”, afirmou Colls.

Câmara de gás

A câmara de gás foi o tema da segunda escavação da equipe. Havia dois conjuntos de câmaras construídas em Treblinka, o primeiro com uma capacidade para cerca de 600 pessoas, o segundo para 5.000.

Quatro escavações foram feitas em Treblinka II. Duas revelaram um dente de tubarão fossilizado e areia. Evidentemente, os nazistas despejaram areia de uma pedreira próxima nos restos do campo de extermínio para disfarçá-lo.

As duas últimas, no entanto, revelaram uma parede de tijolo e fundação. As câmaras de gás eram os únicos edifícios de tijolo no campo. As escavações mostraram ainda azulejos cor de laranja que combinavam com descrições de testemunhas oculares sobre o local. Cada azulejo estava carimbado com uma estrela de David.

“O campo de Treblinka nunca tinha sido vasculhado desde o período após a guerra”, disse Colls. “Todo mundo tinha assumido que tinha sido destruído”. As escavações, é claro, provam o contrário.

Agora, Colls está trabalhando em uma exposição e em um livro sobre o seu trabalho. Há planos para escavar mais partes do sítio arqueológico, também. A esperança é trazer essas atrocidades à luz, entendê-las e tentar prevenir futuros genocídios. [LiveScience]

2 comentários

  • Tibulace:

    Judeus, sofreram isso e agora, são CARRASCOS dos palestinos.Como disse o filósofo, o INFERNO, são os OUTROS, SEMPRE os outros, NUNCA nós!

    • Cesar Grossmann:

      Tem que ter cuidado, afirmações deste tipo podem ser usadas para negar o que aconteceu no passado, ou mesmo justificar os horrores.

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