Este é Luca, o possível ancestral de todas as coisas vivas hoje

Por , em 26.07.2016

Um retrato surpreendentemente específico do ancestral de todas as coisas vivas foi criado por cientistas. Batizado de Lucas, ou Last Universal Common Ancestor (último ancestral comum universal), ele provavelmente viveu há 4 bilhões de anos, quando a Terra era uma jovenzinha de 560 milhões de anos. A pesquisa foi publicada na revista Nature Microbiology neste mês de julho.

A descoberta acirra o debate entre aqueles que acreditam que a vida começou em um ambiente extremo, como em vulcões ou fontes hidrotermais no fundo do mar, e aqueles que preferem ambientes mais agradáveis, como um “laguinho morno”, conforme propôs Darwin.

A natureza do ancestral mais antigo das coisas vivas sempre foi incerta, já que os três domínios da vida parecem não ter um ponto comum de origem. Esses domínios são bactérias, arquea e eucariotas. Os arqueas são organismos parecidos com bactérias, mas com um metabolismo diferente, e os eucariotas incluem todas as plantas e animais.

Recentemente, pesquisadores passaram a acreditar que as bactérias e arqueas são os domínios mais antigos, com os eucariotas surgindo mais tarde. Isso abriu caminho para que um grupo de biólogos evolucionistas, liderados por William Martin da Universidade Heinrich Heine (Alemanha), tentassem definir a natureza do organismo que originou a bactéria e arquea.

Eles começaram a pesquisar, então, os genes da codificação das proteínas das bactérias e arqueas. Mais de seis milhões desse tipo de gene se acumularam nos últimos 20 anos na base de dados alimentada por equipamentos de decodificação de genes de milhares de micróbios.

Árvores genealógicas

Genes com a mesma função em humanos e em ratos, por exemplo, normalmente descendem de um ancestral genético em comum, do primeiro mamífero. Então ao comparar suas sequências de DNA, os genes podem ser agrupados em árvores genealógicas evolutivas. Isso permitiu que Martin e sua equipe distribuíssem os seis milhões de genes em poucas árvores genealógicas. Destas, apenas 355 têm as características necessárias para ser descendente de Luca.

Ao conseguir determinar quais genes provavelmente estavam presentes em Luca, Martin conseguiu descobrir onde Luca vivia. “Eu estava boquiaberto com os resultados, não podia acreditar”, relembra ele.

Esses 355 genes apontam com muita precisão para um organismo que viveu em condições encontradas em fontes hidrotermais profundas, um ambiente intensamente quente e saturado de metais, causado pela água do mar interagindo com o magma que surge do fundo do mar.

Entre esses genes, alguns metabolizam o hidrogênio como uma fonte de energia, e outros são responsáveis por uma enzima chamada girase, encontrada apenas em micróbios que vivem em temperaturas extremamente altas.

A descoberta tem “avançado significativamente nossa compreensão sobre como Luca viveu”, comentou James McInerney, da Universidade de Manchester (Reino Unido). “É uma visão intrigante sobre a vida há quatro bilhões de anos”.

Afirmação ousada

Martin não parou por aí nesse estudo. Ele também sugere que Luca pode estar muito próximo da origem da vida na Terra, já que não tem muitos genes necessários à vida, e que por isso estaria apenas “meio-vivo”.

A declaração gerou controvérsias no meio científico. Outros pesquisadores acreditam que Luca já era um organismo muito sofisticado, muito evoluído em relação ao começo da vida. “Luca e a origem da vida são eventos separados por uma vasta distância evolutiva”, diz Jack Szostak, pesquisador especializado nas primeiras membranas celulares.

Outros cientistas concordam que Luca provavelmente viveu nas fendas do fundo do mar, mas discordam sobre este ser o local onde a vida se originou. Para eles, é possível que a vida tenha começado em qualquer outro lugar e depois tenha ficado confinada a este local por conta de algum evento catastrófico, como o Intenso Bombardeio Tardio, que aconteceu entre 3,8 e 4 bilhões de anos atrás. Neste evento, um número imenso de asteroides atingiu o nosso Sistema Solar.

Este assunto ainda está longe de ser esgotado, mas a descoberta desde ancestral em comum já é um grande passo no estudo da origem da vida na Terra. [The New York Times]

3 comentários

  • Paulo de Oliveira:

    Tradução fraca do original do New York Times. Desde quando é que se confunde a Terra com o Sistema Solar? Mais competência na divulgação pf

    • Cesar Grossmann:

      O bombardeio tardio atingiu só a Terra?

  • Tibulace:

    Se Luca viveu em fontes hidrotermais, é mais um ponto, para Encélado possuir vida semelhante, no fundo de seu oceano.Nasa, comece a missão!

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