Um estudo brasileiro divulgado nesta semana sugere que bebês que tiveram amamentação no peito podem ser mais propensos a terem sucesso na vida.
A pesquisa acompanhou mais de 3.000 bebês até a vida adulta no Brasil. Os pesquisadores descobriram que aqueles que receberam leite materno tiveram um desempenho um pouco melhor em testes de inteligência aos 30 anos, passaram mais tempo na escola e ganharam mais dinheiro do que aqueles alimentados com fórmula.
“A amamentação não só apresenta benefícios no curto prazo, mas também traz benefícios a longo prazo”, diz Bernardo Lessa Horta, da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, que liderou o estudo publicado na revista internacional The Lancet Global Health.
Valor da amamentação
Os médicos sabem há muito tempo que a amamentação pode ser boa para a saúde do bebê. Isto é especialmente verdadeiro para os países mais pobres, onde a água pode ser mais comumente contaminada com patógenos ou poluentes. Por exemplo, segundo a UNICEF, um bebê que é alimentado de outra maneira que não a amamentação nos países em desenvolvimento tem 14 vezes mais chances de morrer nos primeiros seis meses do que aquele que está sendo amamentado.
Nos EUA, algumas pesquisas têm sugerido que a amamentação pode aumentar o QI de um bebê em alguns pontos. Mas um estudo recente feito com irmãos encontrou pouca vantagem para a amamentação.
Horta diz que estes estudos anteriores não seguiram as crianças até a idade adulta para ver se a amamentação teve efeitos a longo prazo. No estudo nacional, primeiro os pesquisadores deram às cobaias testes de QI. Aqueles que foram amamentados por 12 meses ou mais tiveram pontuações de QI 3,76 pontos maiores do que aqueles que foram amamentados por menos de um mês.
Quando Horta e seus colegas analisaram a educação e a situação financeira, também encontraram uma diferença clara: aqueles que foram amamentadas por mais tempo permaneceram na escola por cerca de um ano a mais e tinham salários mensais cerca de um terço superiores.
Muita calma nessa hora
A pediatra Valerie Flaherman, da Universidade da Califórnia, nos EUA, adverte para que as pessoas não se alarmem com estes resultados.
“Há a chance das pessoas pensarem que, se você não amamentar, o bebê vai ser estúpido ou deficiente mental ou algo assim”, diz ela. Muitos outros fatores influenciam a inteligência e as chances de uma pessoa de ser bem sucedida, segundo a pediatra.
Muitas mulheres ou não podem amamentar por razões físicas ou porque o trabalho toma muito tempo, lembra ela. “Eu me preocupo quando as mães ouvem a respeito de projetos como este, que se sintam culpadas quando não são capazes de amamentar seus bebês”, diz ela.
Já Ruth Lawrence, professor de pediatria, obstetrícia e ginecologia da Universidade de Rochester, também nos EUA, afirma que o estudo brasileiro é importante. “Isso prova a permanência dos efeitos da amamentação sobre o potencial de uma criança. É um estudo notável”, afirma.
Os próprios autores afirmam que este é um estudo observacional, e que muitos outros fatores podem ter influenciado os resultados. “Eu não quero aterrorizar as pessoas que não amamentaram ou amamentaram por um curto período de tempo. Não é só a amamentação que afeta o QI e a renda. Mas o nosso estudo mostra que a amamentação é importante e deve ser incentivada”, pondera Horta. [NPR, NY Times]