Leite materno: benefícios têm sido exagerados, de acordo com estudo

Por , em 26.02.2014

Um novo estudo da Universidade Estadual de Ohio (EUA) que comparou irmãos alimentados de forma diferente durante a infância sugere que a amamentação pode não ser mais benéfica a longo prazo do que a alimentação com mamadeira.

Outros estudos sugeriam que amamentação possuía muitos benefícios para as crianças. No entanto, a pesquisa atual afirma que são outros fatores que podem estar desempenhando um papel importante neste resultado mais tarde na vida.

Os benefícios do leite materno

“Muitos estudos anteriores não controlaram ou não puderam controlar estatisticamente fatores como raça, idade, renda familiar, o emprego da mãe – coisas que sabemos que podem afetar tanto a amamentação quanto os resultados de saúde”, explica Cynthia Colen, professora de sociologia na Universidade Estadual de Ohio e principal autora do estudo. “Mães com mais recursos, com níveis mais elevados de educação e de renda e mais flexibilidade em suas programações diárias são mais propensas a amamentar seus filhos e fazê-lo por longos períodos de tempo”.

Geralmente, autoridades governamentais de saúde declaram que pelo menos seis meses de amamentação é uma prioridade, o que pode estigmatizar mulheres que não podem optar por amamentar seus bebês por esse tempo e fazê-las se sentir culpadas.

“Eu não estou dizendo que a amamentação não é benéfica, especialmente para aumentar a nutrição e imunidade dos recém-nascidos”, diz Colen. “Mas, se queremos realmente melhorar a saúde materna e infantil no país, temos também que nos concentrar em coisas que podem realmente fazer isso a longo prazo – como creche subsidiada, melhores políticas de licença maternidade e mais oportunidades de emprego para as mães de baixa renda”, indica.

O estudo

Colen analisou três amostras de um estudo de representação nacional: 8.237 crianças, 7.319 irmãos e 1.773 pares de irmãos “discordantes”, crianças de 665 famílias pesquisadas em que pelo menos uma era amamentada e a outra era alimentada com mamadeira. As crianças que foram alimentadas de forma diferente na mesma família representavam cerca de 25% dos irmãos no estudo.

A análise mediu 11 resultados que são comuns a outros estudos sobre os efeitos da amamentação: índice de massa corporal (IMC), obesidade, asma, hiperatividade, relação afetiva com os pais e comportamento de obediência, bem como pontuações prevendo desempenho acadêmico em vocabulário, leitura, matemática, inteligência e competência escolar.

Como esperado, as análises das amostras de adultos e seus filhos através de famílias sugerem que a amamentação levou a melhores resultados do que a alimentação com mamadeira em uma série de medidas: IMC, hiperatividade, habilidades matemáticas, leitura, vocabulário e identificação de palavras, competência escolar e obesidade.

Quando a amostra foi restrita aos irmãos que foram diferentemente alimentados dentro das mesmas famílias, no entanto, os resultados que refletiam os efeitos positivos da prática da amamentação em 10 dos 11 indicadores de saúde infantil e bem-estar estavam mais próximos a zero e não foram estatisticamente significativos – ou seja, as diferenças poderiam ter ocorrido por acaso. Por exemplo, a magnitude dos efeitos benéficos da amamentação para matemática, leitura, vocabulário e inteligência diminuiu de 69% a 29% na comparação de dados dentro das mesmas famílias.

Segundo Colen, as diferenças demográficas que podem ter criado um viés em favor da amamentação incluem raça dos pais, idade, estado civil, renda familiar, plano de saúde, educação e emprego da mãe, e se uma mulher fuma ou bebe durante a gravidez.

“Quando estudamos mães mais ou menos favorecidas, sabemos que essas características irão afetar os resultados de saúde das crianças. Daí, não fica claro o que está afetando um resultado como a obesidade do filho – é amamentar em si, ou aquelas outras características de fundo?”, alerta Colen.

“Se a amamentação não tem o impacto que nós pensamos que tinha a longo prazo, então é muito importante no curto prazo que prestemos atenção a outras coisas, como a qualidade da escola, moradia adequada e o tipo de emprego que pais têm quando seus filhos estão crescendo”, sugere a pesquisadora. [MedicalXpress]

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