Um estudo conduzido pelo economista brasileiro Alberto Salvo, da Universidade Nacional de Cingapura, e pelo físico-químico Franz Geiger, da Universidade Northwestern (EUA), revelou que quando os motoristas trocam o etanol pela gasolina na hora de abastecer seus veículos, os níveis de ozônio na atmosfera local podem cair.
Etanol diminui ozônio no ar de SP
O etanol é um combustível derivado principalmente de plantas e há vários anos tem sido apontado como uma alternativa mais “limpa” à gasolina. Quando queimado, o etanol não emite tantas partículas ou tanto monóxido de carbono – e, talvez mais importante, tanto CO2. Porém, agora, ao que parece, ele pode ter um lado negativo previamente desconhecido. Salvo e Geiger descobriram que a queima de etanol em carros pode causar níveis de ozônio mais altos no ambiente do que a gasolina.
O ozônio ocorre na atmosfera devido às interações entre materiais orgânicos voláteis, juntamente com os óxidos de nitrogênio e a luz solar, e pode causar problemas respiratórios graves. Na troposfera, ele contribui para o aquecimento global.
Os motores de combustão não produzem ozônio, mas suas emissões podem levar a outras interações que produzem. Portanto, é muito mais difícil determinar qual impacto que o tráfego de veículos tem na geração de ozônio do que medir outros poluentes, como monóxido de carbono.
Este último estudo, na verdade, surgiu em parte por acidente. Houve um momento em que o custo para os consumidores de etanol começou a subir tanto em São Paulo que os motoristas passaram a se voltar para a gasolina (mesmo levando em consideração que o Brasil seja um grande produtor de etanol derivado da cana-de-açúcar). Esta variação ocorreu em resposta às flutuações nos preços mundiais do açúcar, enquanto o preço da gasolina, controlado pelo governo, se manteve estável.
Coincidentemente, a cidade também mantém monitores de poluição do ar em toda a área. Para saber qual foi a mudança na qualidade do ar, os pesquisadores analisaram os níveis de poluição do ar de 2009 até 2011, um período de grandes aumentos de preço para o etanol. Além disso, levaram em conta dados de venda de combustível, meteorologia e extensão de congestionamentos.
Os cientistas ficaram surpresos ao saber que voltar ao consumo da gasolina, o que resultou em níveis mais elevados de monóxido de carbono e óxidos de nitrogênio, juntamente com os hidrocarbonetos, também causou níveis mais baixos de ozônio. Eles sugerem que isso acontece porque a química do ozônio em São Paulo é contida por altas concentrações de óxidos de nitrogênio e também pela limitada disponibilidade de compostos orgânicos voláteis. Assim, parece que o fenômeno observado pode ser exclusivo para esta região específica.
Entretanto, Madronich não aposta nisso, sugerindo que os resultados do estudo no Brasil podem ser aplicados em outros lugares e, talvez, deva mesmo servir como um parâmetro para estudar o impacto de diferentes tipos de combustíveis utilizados em veículos sobre a poluição atmosférica. Ela observa que estudos anteriores têm sido limitados ao laboratório, também pela falta de oportunidades deste tipo de pesquisa no mundo real.
Detalhes da pesquisa podem ser encontrados no artigo da dupla publicado na revista “Nature Geoscience”. [Phys, Nature, Info, Folha de S. Paulo]