Darwin estava extremamente errado sobre a evolução neste aspecto
Charles Darwin foi um gênio, responsável por uma das descobertas mais impressionantes da ciência: o mecanismo de seleção natural da evolução das espécies.
- 10 tentativas de explicar a vida sem a evolução darwiniana
Mas, como todo bom gênio, ele não tem um currículo impecável. Ao teorizar sobre nossa história, ele cometeu alguns erros, hãn, bizarros.
Na época, sabíamos que os filhos tinham uma mistura de características de seus pais, mas não sabíamos como isso acontecia. O que se passava no momento da concepção? Esse era um enorme buraco na teoria da evolução de Darwin.
Assim, em 1868, quase uma década depois da publicação de “A Origem das Espécies”, Darwin tentou ligar o buraco com a teoria da pangênese, uma ideia totalmente errada.
Segundo ela, cada célula do nosso corpo lança pequenas partículas chamadas gêmulas, que estão dispersas por todo o sistema e, quando alimentadas com nutrição adequada, multiplicam-se por autodivisão. “Gêmulas são, na sua essência, as sementes das células. Elas são coletadas de todas as partes do sistema para constituir os elementos sexuais, e seu desenvolvimento na próxima geração forma um novo ser”, escreveu o cientista.
Como ambos os pais contribuiriam com estas células semente, descendentes misturariam as características da mãe e do pai. Mas o que acontece com uma criança que apresenta mais características de um dos pais que do outro?
Darwin acreditava que isso acontecia porque as gêmulas derivadas de um dos pais tinham alguma vantagem em número, afinidade ou vigor sobre as derivadas do outro progenitor. Além disso, pensava que gêmulas deviam se desenvolver na ordem apropriada para construir um organismo saudável. Quando algo dá errado ao longo do caminho, a pessoa tem defeitos congênitos.
Mas o mais importante de tudo era que a teoria da pangênese podia explicar as variações entre organismos, o verdadeiro combustível da evolução.
Essa variação podia vir de “variabilidade flutuante”, uma espécie de “renovação de gêmulas há muito adormecidas”, expressas em um neto depois de pular uma geração sem sofrer qualquer modificação, ou de uma teoria agora desacreditada de Lamarckismo, que argumentava que as características que um organismo adquiria durante a sua vida podiam ser herdadas por seus filhos. Darwin acreditava que gêmulas podiam ser alteradas durante a vida de um organismo, e essas gêmulas alteradas podiam multiplicar-se e suplantar as antigas.
Para resumir: gêmulas são sementes de células que você ganha de seus pais; elas devem se formar na ordem correta para construir um organismo saudável, e a forma como se misturam resulta em variações. Algumas podem permanecer dormentes, resultando em traços que pulam gerações, ou mudar ao longo do tempo de vida de um organismo, resultando em prole que herda traços que seus pais desenvolveram devido a fatores ambientais.
Como ficamos sabendo que a teoria estava errada
Qualquer teoria precisa de uma experiência para comprová-la. Foi o que o primo de Darwin, Francis Galton, tentou fazer.
Para provar que gêmulas induziam variação, ele tirou sangue de um coelho e injetou em outro, com a ideia de que a descendência do último iria mostrar traços do primeiro. Em seu ensaio “Darwin e Hereditariedade: A Evolução e a Hipótese de Pangênese”, Gerald Geison escreve: “Estas experiências, como todas as que se seguiram, fracassaram totalmente em confirmar a visão de Darwin”.
“Como resultado”, Geison acrescenta, “pangênese tem sido muitas vezes encarada como uma dessas falhas misteriosas e inexplicáveis de gênio. Talvez porque desejam apresentar apenas a genialidade de Darwin, vários de seus biógrafos deixam de mencionar a teoria”.
Não vejo um bom motivo para apagar esse erro da história de Darwin, já que estar errado é perfeitamente saudável e extremamente comum na ciência. Quando alguém prova que algo está errado, isso é progresso. Dezenas, centenas, talvez milhares de teorias erradas são descartadas para cada uma que é confirmada.
E surge a verdade
Passou-se um tempo até que a verdadeira lógica por trás do que estava acontecendo aparecesse: a genética.
Ela foi descoberta pela primeira vez, curiosamente, por um monge e suas plantas de ervilha na década de 1850. Gregor Mendel percebeu que as plantas filhas não eram simplesmente uma mistura de seus dois pais, como biólogos pensavam naquela época. A descendência de uma planta com ervilhas lisas e outra com ervilhas enrugadas, por exemplo, não seria meio-enrugada, mas ou lisa ou enrugada. Isso é o que agora nos referimos como alelos dominantes e recessivos.
Em 1900, sua pesquisa foi redescoberta por botânicos, dando início a era da genética. Logo, descobrimos que era o DNA que detinha as informações que dão às pessoas seus muitos traços.
Sabemos agora que herdar traços não tem nada a ver com gêmulas se misturando. Nós obtemos nosso DNA, que contém genes, tanto de nossa mãe quanto de nosso pai. Mas estes genes são combinados de forma única em cada concepção, levando a variações mesmo entre irmãos. A variação também pode vir de mutações. Essas mutações, combinadas com embaralhamento genético no momento do nascimento, aumentam as variações e dão origem a evolução: algumas pessoas nascem com características “mutantes” que podem lhes ser úteis e bem adaptadas ao seu ambiente, coisa que melhora suas chances de sobrevivência e reprodução, de forma que ela vai passar esses genes para gerações futuras. [Wired]
5 comentários
Ele descreveu o mecanismo da genética via dedução por observação, somente com a lógica, somente não conseguiu deduzir a divisão celular.
O erro não foi tão “bizarro” assim.
se substituirmos gemulas por DNA. seu desenvolvimento por sequência correta. nao fica de um todo errada.
Para a época, não acho um erro grosseiro. Dá até pra traçar uma analogia entre alguns mecanismos da pangênese e genética.
Tudo deve evoluir e se aprimorar, o próprio Darwin caso vivo, mente aberta aos fatos novos, teria modificado sua teoria em vários pontos.