FlipperZero: conheça o “chaveiro hacker” que preocupa autoridades brasileiras
A figura de um hacker encapuzado e misterioso, utilizando uma série de apetrechos confusos para invadir um banco ou rastrear um espião do serviço secreto se tornou comum em nossa mente popular, especialmente graças aos filmes de Hollywood que buscaram introduzir as ideias do mundo do crime virtual em seus longa metragens de ação.
No entanto, a realidade cotidiana de um especialista em segurança digital é bastante diferente – seja para o bem ou para o mal, o profissional responsável por invadir um sistema digital provavelmente não está andando pela rua espalhando o caos com sinais eletromagnéticos e sim sentado em seu computador estudando e testando novas técnicas para quebrar a programação de algum sistema eletrônico. O interesse crescente do público sobre o true crime, como explicado pela ExpressVPN, levanta cada vez mais a curiosidade sobre que aspectos dos filmes e série de ficção são realmente plausíveis no mundo real – e um novo aparelho que preocupa autoridades no Brasil e no mundo promete transformar o hacker da vida real no hacker encapuzado de Hollywood. Confira.
O que é o Flipper Zero?
O Flipper Zero é um pequeno computador portátil, um pouco maior que um pen drive USB, com um microcontrolador STM32 e uma pequena tela LCD monocromática. Diferentemente de outros pequenos computadores para hobbystas, como os famosos Raspberry Pi, o Flipper Zero não tem o objetivo de executar programas variados ou se integrar a muitos projetos, seu foco é em explorar os campos eletromagnéticos e redes sem fio e, para isso, o aparelho conta com uma grande gama de receptores e transmissores, cobrindo diversas frequências, que estão plenamente acessíveis para seu possuidor.
Aparelhos que operam com sinais sem fio, como roteadores de internet, controles para portões automáticos em garagens, cartões de crédito com NFC e smartphones também são capazes de enviar e emitir uma grande quantidade de sinais, no entanto, agências reguladoras obrigam fabricantes a limitar os chips responsáveis pela transmissão de forma a prevenir que estes aparelhos causem interferência ou modifiquem o sinal de outros aparelhos. O Flipper Zero, por sua vez, propositalmente remove todos os limites de seus componentes, deixando todo o espectro eletromagnético nas mãos de seu utilizador. Isso significa que um Flipper Zero, a depender dos programas instalados em sua memória, é capaz de interagir com estações de rádio, redes de Wi-Fi e Bluetooth, cartões de ônibus e metrô, placas de sinalização controladas remotamente, carrinhos de controle remoto e outros aparelhos operados via RF como drones, walkie-talkies e comunicadores policiais, consoles de videogame, alto-falantes portáteis ou sistemas de microfone, entre uma grande variedade de outros aparelhos que, a princípio, não esperam receber este tipo de interferência em sua faixa de operação sem fio.
A empresa responsável pelo aparelho afirma que essas capacidades são importantes para que seus usuários possam estudar mais profundamente a engenharia e tecnologia e, até mesmo, encontrar falhas de segurança em seus próprios sistemas. No entanto, a interface do produto, o marketing nas redes sociais e, principalmente, os programas sendo divulgados na inetrnet parecem sugerir que na realidade o Flipper Zero é utilizado para obter vantagens, hackear sistemas ou realizar “pegadinhas” em público.
Preocupações e abuso
Os chips responsáveis pela funcionalidade por trás do Flipper Zero sempre existiram para compra na internet, no entanto, a capacidade de integrá-los em uma única placa, de forma funcional, e de escrever software capaz de utilizar seus recursos sempre foi limitada a um pequeno grupo de especialistas no assunto. O Flipper Zero expõe toda essa tecnologia até mesmo para o público leigo, e sua capacidade de interferir em sistemas públicos alertou autoridades.
Pesquisando pelo nome do produto em redes sociais como o TikTok, Reddit e Facebook, é possível encontrar incontáveis exemplos de pessoas comuns com um Flipper Zero escondido no bolso ou mochila utilizando-o para fazer soar alarmes falsos em lojas e estacionamentos, travando painéis de informações em shoppings, clonando chaves de acesso a bibliotecas e universidades (ou até mesmo quartos de hotéis), interferindo ou até travando smartphones com Android, entre outros usos que mesclam brincadeiras inofensivas até crimes potencialmente perigosos.
É possível comprar um Flipper Zero no Brasil?
Preocupados com a capacidade do Flipper Zero de interferir em diversos sistemas, muitos dos quais responsáveis por segurança e informação, autoridades da ANATEL bloquearam a venda e importação do Flipper Zero no Brasil. Apesar de vídeos nas redes sociais divulgarem brasileiros utilizando o produto e supostas lojas online que revenderiam para endereços brasileiros, o produto é considerado ilegal e pode ser confiscado em trânsito, na fronteira ou se utilizado publicamente.
Apesar disso, produtos “clones” que utilizam componentes similares mas apresentam outro nome já estão disponíveis e, em muitos casos, são vendidos em embalagens discretas que buscam esconder sua verdadeira natureza. Portanto, especialistas em segurança digital já alertam o público que a solução a longo prazo será aumentar a robustez dos sistemas utilizados em nosso cotidiano para tentar evitar a interferência por aparelhos como o Flipper Zero que se tornarão ainda mais populares. Tecnologias mais avançadas e atualizações de firmware podem garantir que os eletrônicos sejam mais resilientes contra este tipo de pegadinha ou abuso.