De acordo com um novo estudo da Universidade de Lausanne, na Suíça, fluidos compartilhados boca-a-boca por formigas contêm proteínas e pequenas moléculas que podem influenciar o desenvolvimento e organização de suas colônias.
A pesquisa foi feita com formigas do gênero Camponotus, conhecidas popularmente como formiga-de-cupim, formiga-doceira ou sarassará.
Trofalaxia
Esse “beijo” ou “troca de baba” é um processo chamado trofalaxia. Muitos pesquisadores consideram-no apenas um meio de compartilhar alimentos.
“A comida é passada para todos os adultos e jovens por trofalaxia, o que cria uma rede de interações que liga cada membro da colônia”, explica um dos autores da pesquisa, Laurent Keller.
“Mas a trofalaxia ocorre em outros contextos, como quando uma formiga volta ao ninho depois de um período de isolamento. Por isso, queríamos ver se o fluido trocado continha moléculas que permitiam que as formigas passassem outras mensagens químicas entre si, e não apenas comida”, acrescenta Richard Benton, outro autor do estudo.
Experimento
A equipe analisou o fluido trocado entre pares de formigas envolvidas em trofalaxia. Surpreendentemente, os pesquisadores identificaram um grande número de proteínas que parecem estar envolvidas na regulação do crescimento dos insetos, juntamente com altos níveis de hormônio juvenil, um importante regulador do desenvolvimento, reprodução e comportamento das formigas.
Para ver o efeito deste hormônio no crescimento de larvas alimentadas por trofalaxia, os cientistas adicionaram-no ao alimento de formigas criadoras de larvas e descobriram que o hormônio tornava duas vezes mais provável que as larvas sobrevivessem até a idade adulta.
Isto indica que o hormônio e outras moléculas transferidas boca-a-boca poderiam ser usadas pelas formigas para decidir coletivamente como a colônia se desenvolve.
Quando os animais alimentam suas larvas, não estão apenas dando-lhes comida; estão administrando diferentes quantidades de componentes que promovem o crescimento e influenciam a próxima geração.
Multifunções
Junto com proteínas de crescimento e hormônio juvenil, a equipe também identificou pequenas moléculas e sinais químicos no líquido trofáltico das formigas, que as ajudam a reconhecer seus companheiros de ninho.
Pela primeira vez, foi constatada a presença de sinais químicos no fluido conhecidos por serem importantes no fornecimento de um odor específico da colônia. Esse odor permite que as formigas distingam membros de sua família de outras formigas que não são membros da colônia.
As descobertas sugerem que a trofalaxia é subjacente a um canal de comunicação privado que as formigas usam para dirigir o desenvolvimento de seus jovens, semelhante ao leite em mamíferos.
De acordo com os pesquisadores, isso abre a possibilidade para que a troca oral de líquidos, tais como a saliva, em outros animais tenha igualmente papéis previamente insuspeitados. [Phys]