Pela primeira vez na história da medicina, um paciente passou por um segundo transplante de rosto. Jarome Hamon, de 43 anos, recebeu o primeiro transplante em 2010 por conta da neurofibromatose, o crescimento de múltiplos tumores nos nervos da pele, no cérebro e outras partes do corpo. O segundo transplante aconteceu no início de 2018, e três meses depois do procedimento, o paciente passa bem e tem sido chamado de “homem com três rostos”.
A rejeição do primeiro rosto aconteceu por causa de um problema de saúde não relacionado com a neurofibromatose. Para tratar deste problema, ele tomou um antibiótico que interferiu com a medicação que o impedia de rejeitar o novo tecido, e um lento processo de rejeição começou. Em outubro de 2017, ele entrou novamente na lista de pacientes que esperavam por um rosto, mas em novembro os tecidos do primeiro rosto começaram a morrer e este rosto precisou ser removido para evitar maiores complicações.
Jarome passou três meses internado sem um rosto no hospital Georges Pompidou, em Paris. Seu médico, Laurent Lantieri, responsável pelo primeiro e também pelo segundo transplante, descreveu sua condição sem rosto como “the walking dead”. Jarome não tinha pálpebras, orelhas, pele e não podia enxergar, falar ou comer. Ele tinha audição limitada e conseguia se expressar apenas ao entortar levemente a cabeça, além de conseguir escrever um pouco.
“Se você não tem pele, você tem infecções. Ficamos muito preocupados com a possibilidade de uma nova rejeição”, explica o médico à Associated Press.
Em janeiro de 2018 um novo doador surgiu, e Lantieri e sua equipe fizeram o segundo transplante. Antes do procedimento, porém, os médicos tiveram que substituir todo os sangue de seu corpo em um processo que levou um mês, para eliminar anticorpos de tratamentos anteriores que poderiam colocar tudo a perder.
“Para um homem que passou por tudo isso, que é como passar por uma guerra nuclear, ele está ótimo”, diz o médico. O paciente está sendo acompanhado da mesma forma que foi no primeiro transplante.
O primeiro rosto de Jarome foi doado por um senhor de 60 anos, enquanto este segundo pertencia a um jovem de 22 anos. “Eu tenho 43 anos. O doador tinha 22. Então eu fiquei 20 anos mais jovem”, brincou ele.
Toda esta jornada é muito animadora para médicos que estudam este tipo de procedimento e também para pacientes que já tiveram que passar por um transplante de rosto. Isso significa que é possível passar por um segundo transplante caso o primeiro tecido seja rejeitado.
Por enquanto não se sabe quanto tempo um rosto transplantado suporta antes de se tornar distorcido e sem função, mas acredita-se que eles podem ser semelhantes aos rins transplantados e durar entre 10 e 15 anos. Até agora, pelo menos 39 transplantes de rosto foram feitos no mundo todo.
Lantieri e sua equipe adiantam que em breve vão publicar um artigo sobre o caso de Jarome em uma revista médica, mas eles esperam que casos como o do paciente sejam raros. “Entre os outros pacientes que estou acompanhando, alguns tiveram alguma alteração no transplante depois de um tempo, mas eles estão bem. Espero não fazer outros transplantes futuros como este”, diz ele. [CNN, USN]