Lembra do cirurgião italiano que disse que ia tentar fazer o primeiro transplante de cabeça humana do mundo?
Esta semana, o Dr. Sergio Canavero, membro do Turin Advanced Neuromodulation Group, finalmente encontrou uma cobaia para a cirurgia inovadora: Valery Spiridonov, um homem de 30 anos de Vladimir, na Rússia, que sofre de uma doença genética rara chamada de síndrome de Werdnig-Hoffman, uma doença neuromuscular hereditária caracterizada pela atrofia e fraqueza muscular progressiva.
O procedimento
Canavero propôs a ideia pela primeira vez em 2013, e desde então vem defendendo o transplante de cabeça como uma maneira de prolongar a vida das pessoas com músculos e nervos degenerados ou órgãos permeados por câncer.
Em fevereiro desse ano, Canavero resumiu o procedimento de 36 horas que planeja seguir. Em resumo, é preciso resfriar o corpo do doador e a cabeça do destinatário, dissecar o tecido do pescoço, cortar e religar os vasos sanguíneos e fundir as medulas espinhais utilizando um produto químico que faz a gordura nas membranas celulares se conectarem. O paciente é mantido em coma por um tempo, depois da operação.
Mas será que é realmente possível fundir duas medulas espinhais e impedir que o corpo rejeite a nova cabeça? As últimas tentativas feitas em cães e macacos resultaram em animais que sobreviveram por alguns dias, apesar de um transplante de cabeça em ratos mais recente ter mostrado que o procedimento é basicamente possível. “Acho que estamos agora em um momento em que todos os aspectos técnicos são viáveis”, diz Canavero.
Muitas dúvidas
Valery se voluntariou para a primeira cirurgia do tipo em humanos porque quer a chance de um novo corpo antes de morrer. “Estou com medo? Sim, é claro que estou. Mas não é apenas muito assustador, é também muito interessante”, argumenta. “Você tem que entender que eu realmente não tenho muitas opções… Se eu não tentar isso, meu destino vai ser muito triste. A cada ano meu estado está ficando pior”, revela.
Mas, de acordo com especialistas como Hunt Bätjer, da Associação Americana de Cirurgiões Neurológicos, mesmo que as vias aéreas, coluna e grandes veias e artérias sejam fundidas com sucesso, a medula espinhal vai ser o problema real. “Eu não desejo isso a ninguém”, Bätjer afirmou. “Eu não permitiria que ninguém fizesse isso comigo. Há um monte de coisas piores do que a morte”. Por exemplo, o paciente pode não ser capaz de se mover ou respirar.
Arthur Caplan, da Universidade de Nova York (EUA), concorda com Bätjer. “Os corpos acabariam sendo sobrecarregados com muitos caminhos químicos diferentes do que estavam acostumados e ficariam loucos”, opinou. Além disso, a alta quantidade de remédios antirrejeição que a pessoa precisaria tomar poderiam envenenar seu corpo. Isso tudo para nem termos certeza de que o destinatário vai ganhar totalmente a função de seu novo corpo. “Não é como se você pudesse desparafusar uma cabeça e colocá-la em outra pessoa”, concluiu Caplan. [IFLS]