O segredo japonês para uma vida longa: Ikigai

Por , em 13.11.2018

E se você pudesse viver mais apenas por fazer aquilo que você mais gosta de fazer até o fim dos seus dias?

Essa é a teoria que parece explicar a longevidade de uma comunidade japonesa da ilha de Okinawa. Seus moradores têm a maior expectativa de vida do mundo.

Eles também compartilham amplamente uma devoção a uma filosofia japonesa conhecida como ikigai, simplesmente traduzida como a “felicidade derivada de estar ocupado em alguma atividade que contém significado e propósito” para você.

Viver bem

Ogimi, a simpática vila de 3.000 habitantes, é conhecida por seu ritmo lento, vistas do oceano, reuniões comunitárias, hortas pessoais e moradores que sorriem sem parar.

Eles também se orgulham de viver até os 100 anos e além. Os locais têm menos doenças crônicas do que a maioria das pessoas, incluindo câncer e doenças cardíacas, e sua taxa de demência está bem abaixo da média global.

Como? Livros já foram escritos para explicar o fenômeno, incluindo o best-seller de Dan Buettner “Zonas azuis: a solução para comer e viver como os povos mais saudáveis do planeta” e uma obra específica sobre ikigai, o “Ikigai: os segredos dos japoneses para uma vida longa e feliz” de Héctor García e Francesc Miralles.

A resposta é provavelmente uma combinação de fatores que incluem os suspeitos usuais: dieta, movimento/exercício e ter amigos ou pertencer a uma comunidade.

Em outras palavras, o que essas áreas de “longevidade e felicidade” em todo o mundo têm em comum são moradores que levam uma vida simples de poucas posses, passam muito tempo ao ar livre, permanecem ativos, têm amigos, dormem o suficiente e comem de forma leve e saudável.

Ikigai

O que os japoneses longevos acrescentam a essa lista é o ikigai, um conceito que às vezes é usado como sinônimo de propósito, paixão, significado, missão, vocação e motivação.

Ikigai foi desenhado em livros e artigos como o centro de um Diagrama de Venn no qual suas respostas a essas perguntas se sobrepõem: O que você ama? No que você é bom? O que você pode ser pago para fazer? O que o mundo precisa?

Quando você encontrar a resposta que serve para todas essas quatro perguntas, esse é o seu ikigai.

Outra maneira de definir seu próprio ikigai é simplesmente perguntar a si mesmo: por que você acorda de manhã? O que te motiva?

Encontrando o seu

O psiquiatra e neurologista Viktor Frankl é o criador de um tipo de terapia infundida com temas espirituais conhecida como logoterapia. Também é o autor da obra “Em Busca de Sentido”, sobre como sua experiência de sobrevivência ao campo de concentração nazista em Auschwitz lhe ensinou que uma vida orientada por propósitos é a resposta para superar obstáculos e tristezas.

A logoterapia de Frankl visa ajudar os pacientes a encontrar seu propósito na vida. Se você se sentir ansioso ou vazio, é porque está tendo uma crise existencial. O tratamento tende a ser mais voltado para o futuro do que, por exemplo, à procura de raízes de descontentamento em sua infância.

Ken Mogi, neurocientista japonês e autor de “Ikigai: os cinco passos para encontrar seu propósito de vida e ser mais feliz”, compara o ethos do ikigai ao famoso slogan do governo britânico da Segunda Guerra Mundial: “Mantenha a calma e continue” (“Keep calm and carry on”).

A resposta à pergunta “o que eu mais amo fazer?” pode ser a chave para manter a calma e ser feliz. Seu ikigai pode estar nas atividades que tendem a induzir um estado de completa imersão na ação, o que o psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi chamou de “fluxo” e Abraham Maslow chamou de “experiências de pico”.

Pode ser muito simples

Não há uma maneira única de aprender seu ikigai, e as respostas individuais são variadas. Seu ikigai pode ser devoção a amigos, cozinhar, ser um bom pai, escrever, investigar cientificamente, combater a mudança climática, desenhar, ajudar seus vizinhos e assim por diante.

García e Miralles entrevistaram os residentes de Ogimi sobre seus ikigai, e as respostas incluíam plantar e cozinhar os próprios vegetais, reunir-se com os amigos e fazer artesanato. Ikigai não precisa ser grande ou complicado; ele é, em grande parte, apenas a atividade que alegremente irá mantê-lo ocupado até o final de seus dias.

“Você precisa encontrar o seu ikigai nas pequenas coisas. Você tem que começar pequeno. Você precisa estar aqui e agora”, escreve Mogi. “O mais importante é que você não pode e não deve culpar o ambiente pela falta de ikigai. Afinal, cabe a você encontrar seu próprio ikigai, do seu próprio jeito”.

E viver com propósito encorajará outro comportamento que promete longevidade. “Ter ikigai induz você a ter um estilo de vida mais saudável, com mais exercícios, mais atividades sociais e aprendizado por toda a vida”, explicou Mogi.

Literalmente até o fim da vida

Depois de encontrar o seu ikigai, não há nenhuma razão para se aposentar dele. Os japoneses aparentemente não têm sequer uma palavra para “aposentadoria”. É o fato de não se aposentar da sua vida orientada por propósitos que parece ser o principal fator de longevidade e felicidade em Okinawa.

Não é tão fácil quanto parece, é claro. “A vida moderna nos distancia cada vez mais da nossa verdadeira natureza, tornando muito fácil para nós levar vidas sem sentido”, escrevem García e Miralles. “Forças poderosas e incentivos (dinheiro, poder, atenção, sucesso) nos distraem diariamente; não deixem que eles dominem a sua vida”.

Em vez disso, seria mais interessante seguir sua curiosidade e intuição, que são os caminhos de volta ao ikigai, assim como a autoconsciência. Encontre a atividade que você ama, rodeie-se de pessoas que você ama e permaneça fiel a essa bússola interna. “Há uma paixão dentro de você, um talento único que dá sentido aos seus dias e leva você a compartilhar o melhor de si até o final”, escrevem García e Miralles.

Mogi também traz cinco pontos que podem te ajudar a manter seu ikigai: concentrar-se nos detalhes, aceitar a si mesmo, confiar nos outros, curtir o prazer e permanecer presente.

E aí? Acha que é capaz de encontrar e viver de acordo com seu ikigai? [CNN]

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