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Lente Torta – Nossa tomada de realidade está correta?

LENTE TORTA – NOSSA TOMADA DE REALIDADE ESTÁ CORRETA?

Como vimos no artigo “A hora da verdade” devemos tomar muito cuidado  com todas as coisas que queremos apaixonadamente que sejam verdadeiras.

No enfoque de Francis Bacon — o pai da ciência moderna — quando dominados pelos influxos da vontade existe uma tendência para que distorçamos nossa concepção da realidade para que as conclusões corroborem com esse nosso querer.

Se empenharmos um pouco de nossa atenção poderemos perceber que o mundo não é exatamente da maneira como nós o vemos ou o interpretamos.

Nessa nossa interpretação podem existir muito do nosso querer, de nossas aspirações, de nossos temores, crenças e preconceitos — e também de nossas desconfianças.

Em Filosofia da Ciência nossa interpretação do mundo deve ser a mais isenta possível, para que possamos nos aproximar da verdade sem se perder no desvio ou no erro.

Disso resulta que na construção de um dos mais importantes pilares do método científico existe esta busca desenfreada pela objetividade, num esforço continuado para filtrar as tergiversações da realidade provocadas pelas emoções tão inerentes aos seres humanos.

É preciso ser competente e hábil na interpretação do mundo para recolher dele o significado correto de cada significante e poder assim reagir coerentemente, com pertencimento, com habilidade e competência.

Ora, do idioma grego ser competente e hábil denomina-se epistámenos, do qual deriva o termo “espisteme” ,que segundo  Heidegger , quer significar a verdade ou o conhecimento — em síntese a “essência da nossa ciência”.

Também vemos surgir dessa mesma conjugação o termo epistasthai — colocar-se em pé diante de algo de maneira que nesse colocar-se em pé e estar-se-diante-desse-algo, esse algo se mostre, se revele.

O que poderíamos traduzir epistasthai como “entender esse algo” ou “tornar claro esse algo” ou “desvendá-lo”.

A metáfora é clara.

É necessário estarmos em pé diante de nosso Universo para interpretá-lo corretamente.

Estarmos em pé — ouso entender — é estarmos retos, equilibrados, sem desvios.

É nessa retidão e equilíbrio que se obterá a real percepção das coisas.

E como construir essa retidão?

Penso que é nesse ponto que poderíamos aprender com o método científico.

Efetuar uma depuração continuada de nossa tomada de realidade de modo a filtrar nossos heterogêneos.

 

Por exemplo.

Tentando limar de nossa psicologia o viés preconceituoso tão comum nos nossos dias.

Esse mesmo viés que cultiva entre nós a semente da desconfiança que arraiga o ódio e incentiva a intolerância.

Precisamos reaprender a confiarmos um nos outros.

Às duras penas — intuo.

Começando por confiarmos em nós mesmos.

Para concluir, Recordo aqui as palavras do grande poeta André Carneiro:

— A desconfiança é uma lente torta. Ao mesmo tempo, que amplifica — distorce.

-o-

[Leia os outros artigos de Mustafá Ali Kanso]

 

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Foi premiado com o primeiro lugar no Concurso Nacional de Contos da Scarium Megazine (Rio de Janeiro, 2004) pelo conto Propriedade Intelectual e com o sexto lugar pelo conto Singularis Verita.

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