Livros encadernados com pele humana: prática macabra era comum no século 17

Por , em 7.04.2014

No meio de apostas sobre até quando livros e jornais impressos vão durar, é fácil esquecer que esses objetos são fenômenos bastante recentes na história da humanidade. Sejam impressos ou copiados à mão, os livros foram raros e dispendiosos por milhares de anos, e eram mantidos sob a proteção de uma elite culta, que estavam entre os poucos capazes de ler e interpretar.

Um lembrete desse status do livro como objeto quase mágico surgiu em uma coleção da Universidade de Harvard (EUA), há alguns anos. Em 2006, os bibliotecários descobriram pelo menos três volumes encadernados em pele humana. Em um caso, a pele parecia ter sido esfolada viva.

E o que teria sido isso? A maneira que um assassino em série encontrou de esconder pedaços das suas vítimas? Não.

Na verdade, a prática do uso de pele humana para encadernar livros foi simplesmente popular durante o século 17. Tinha até nome: encapamento antropodérmico, e era especialmente comum em livros didáticos sobre anatomia. Os profissionais médicos costumavam usar a carne de cadáveres que tinham dissecado durante sua pesquisa.

O livro da imagem acima, supostamente feito de pele esfolada, é um texto sobre legislação espanhola do século XVII intitulado “Practicarum quaestionum circa leges regias”. Apesar de uma inscrição nomear um falecido e reivindicar que é ele quem encapa o volume, uma técnica para a identificação de proteínas descobriu que o produto, na verdade, é feito da pele de um carneiro.

Segundo especulações, talvez a pele da capa tenha sido humana em algum momento, mas foi trocada pela animal antes de chegar à biblioteca de Harvard em 1946. Ou, talvez, a inscrição tenha sido simplesmente o produto da imaginação de uma pessoa (medonha).

Além desses livros em Harvard, temos conhecimento de outros exemplares encadernados com pele humana. De acordo com o ex-diretor de bibliotecas da Universidade de Kentucky (EUA), Lawrence S. Thompson, a prática data de uma Bíblia francesa do século 13 e tornou-se mais comum nos séculos 16 e 17.

O mais famoso de todos os livros com encapamento antropodérmico reside na biblioteca independente do Boston Athenaeum. Chamado “The Highwayman: Narrative of the Life of James Allen alias George Walton” (ou “Narrativas da Vida de James Allen”, em português), ele reúne as memórias do bandido que o escreveu. Allen ficou impressionado com a coragem de um homem que uma vez atacou, e quando estava enfrentando uma possível execução por seus crimes, pediu para que uma cópia do texto encadernada com sua própria pele fosse dada ao bravo rapaz, em 1837. Imagine ser o destinatário sortudo de tal obra-prima.

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E, se você acha que essa prática macabra é coisa do passado, está certo apenas em partes. Tão recente quanto em 1972, um livro de poesia erótica espanhola intitulado “El Viaje Largo”, por Tere Medina, foi envolto em pele humana.

O exemplar fica na Biblioteca Bailey da Universidade Slippery Rock (EUA). Dentro da primeira página, é possível ler a seguinte inscrição (em espanhol e em inglês): “A capa deste livro é feita a partir do couro da pele humana. A tribo Aguadilla da região do Planalto Mayaguez preserva a pele dos membros falecidos da tribo. Enquanto a maioria da pele é utilizada somente entre os Aguadillas, alguns exemplos encontram o seu caminho para mercados comerciais, onde há uma demanda pequena, mas constante. Esta capa é representativa dessa demanda”. Então tá, né… [OpenCulture, TopTenz]

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