Vera Rubin, uma das mais importantes astrônomas do século 20, morreu em 25 de dezembro deste ano em Princeton, nos Estados Unidos, aos 88 anos.
Apesar de ter desempenhado um papel fundamental na nossa compreensão da matéria escura, Rubin nunca recebeu o Prêmio Nobel de Física – e definitivamente merecia.
Biografia
Nascida em 1928 e criada em Washington DC, Rubin sempre foi fascinada com o céu noturno. “Não havia nada tão interessante na minha vida quanto observar as estrelas todas as noites”, disse ela em uma entrevista do Instituto Americano de Física em 1989.
Rubin sempre soube que seria uma astrônoma. Ela escolheu frequentar o Vassar College depois de ler o trabalho de Maria Mitchell, professora de astronomia do século XIX em Vassar e a primeira astrônoma americana. Mais tarde, fez mestrado na Universidade Cornell e doutorado na Universidade de Georgetown, passando a estudar no Instituto Carnegie, em Washington, ao lado do astrônomo Kent Ford.
Brilhante e inovadora, não podemos falar de Rubin sem no entanto lembrar de todas as besteiras que ela teve que lidar simplesmente por ser mulher.
Um professor de ciências inicialmente disse a ela para ficar longe desse campo de estudo. Depois de chamar sua tese de “desleixada”, um de seus orientadores em Cornell disse que, como ela estava grávida, ele poderia apresentar seu trabalho por ela na reunião da Sociedade Astronômica Americana – sob seu próprio nome. “Eu posso ir”, ela insistiu. Como foi a primeira astrônoma a usar o telescópio no Observatório Palomar, não havia banheiros femininos, então ela escolheu um banheiro e colocou um recorte de papel de uma mulher nele. Quando ela se candidatou à Universidade de Princeton para a pós-graduação, ouviu que “Princeton não aceita mulheres”, de acordo com o Washington Post.
Matéria escura
Ainda assim, Rubin conseguiu ser uma modelo e mentora para aqueles que precisaram de sua ajuda. “Lembro-me da década de 1980 quando era um jovem professor assistente em Yale, e precisava de dados para um livro que eu estava escrevendo sobre matéria escura. Entrei em contato com ela do nada e recebi um caloroso encorajamento, e os números alguns dias mais tarde”, escreveu Lawrence M. Krauss em um blog da Scientific American.
Enfrentando todos os obstáculos em sua carreira, ela conseguiu fazer observações de galáxias agora usadas como prova da existência da matéria escura.
Rubin não é responsável pela criação desta teoria. Fritz Zwicky foi quem cunhou o termo em 1933. Mas a cientista forneceu evidências convincentes de sua existência. As leis da física dizem que as coisas nas galáxias devem girar mais lentamente no centro galáctico. As observações de Rubin mostraram que as galáxias giravam na mesma velocidade, o que significa que devia haver alguma massa escondida de nossos telescópios. “A conclusão é inescapável de que matéria não luminosa existe além da galáxia óptica”, escreveu ela em seu artigo de 1980.
Hoje, sabemos que a matéria escura compreende cerca de quatro quintos da matéria do universo.
O Nobel é uma fraternidade
Rubin morreu antes de receber o Prêmio Nobel, coisa que definitivamente deveria ter feito. Quase todo estudante de astrofísica já leu seu trabalho sobre matéria escura – um trabalho que finalmente convenceu a maioria dos astrônomos da existência desta substância.
Não se pode argumentar que seu trabalho era muito teórico, já que o Prêmio Nobel de Física de 2011 contém quase a mesma quantidade de evidências para apoiar a existência da energia escura.
O problema para ele não ter recebido a honraria é o mesmo há muito tempo: o Prêmio Nobel de Física é uma fraternidade masculina. Nenhuma mulher o ganhou desde que Maria Goeppert Mayer o compartilhou em 1963. Em 1974, o comitê literalmente pulou Jocelyn Bell Burnell por seus esforços: ela era a segunda autora do artigo, mas seu orientador e outro colega receberam o prêmio em vez dela.
Uma análise sobre mulheres vencedoras de outros prêmios Nobel também gera iguais resultados patéticos. Como a astrônoma Katie Mack escreveu na rede social Twitter, “É bom admirar os vencedores dos Prêmios Nobel, mas é importante reconhecer que, como qualquer prêmio, é uma lista tendenciosa, com nomes faltantes”.
Vera Rubin foi uma das maiores astrofísicas do século XX, e seu legado não é suficientemente comemorado por conta de seu gênero. Vamos deixar a palavra final com Katie Mack: “Estou realmente ansiosa pelo dia em que a história de vida de uma mulher proeminente na ciência não seja um conto épico sobre superar obstáculos sexistas”. [Gizmodo]