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A vida oculta das criaturas das profundezas finalmente foi capturada em câmera

Halipteris californica vive ancorado ao fundo do mar, e produz bioluminescência ao longo do seu corpo que dá a ilusão de uma criatura nadadora

Avanços na tecnologia de câmeras de alta resolução e sensores ultrassensíveis estão revelando um mundo de comportamentos animais no fundo do mar.

Nesse ambiente de pouca luz, diversas criaturas possuem vidas ocultas aos nossos olhos.

Agora, os pesquisadores puderam observar em detalhes um predador parecido com um verme que dispara anéis de luz azul, um animal ancorado ao fundo do mar enviando flashes de luz ao longo de seu corpo, e muito mais.

O problema

Steven Haddock, biólogo marinho do Instituto de Pesquisa do Aquário da Baía de Monterey, na Califórnia (EUA), é um dos poucos pesquisadores ao redor do mundo que usam tais câmeras e sensores para capturar imagens sem precedentes de organismos marinhos na natureza.

“Podemos ver o comportamento natural de uma forma que nunca fomos capazes antes”, disse.

Até recentemente, os cientistas precisavam usar luzes brilhantes para capturar imagens de animais que viviam no oceano profundo e escuro. Essas luzes, no entanto, assustavam muitas criaturas.

Filmar sob condições de baixa luminosidade e fraca resolução, por sua vez, dificultava a observação de pormenores.

Peixe da família Melanocetidae, conhecido em inglês como “demônio do mar”

As novas tecnologias

Em 2016, a equipe de Haddock utilizou uma câmera 4K, que tem quatro vezes mais pixels por imagem que uma câmera de alta definição (HD), em um dos veículos operados remotamente do Aquário de Monterey.

Em uma das primeiras viagens com a câmera, o biólogo conseguiu gravar um animal de 2,5 centímetros de comprimento, um verme que emite um rastro de luz azul em forma de anel. Haddock especula que a criatura usa essa exibição para distrair os predadores à medida que escapa. “Nossa câmera HD não teria capturado isso”, conta.

Em meados de agosto deste ano, outra equipe de pesquisa implantou uma câmera 8K no fundo do mar pela primeira vez para explorar as fontes hidrotermais na “Calha de Okinawa”, trecho de oceano próximo ao Japão.

A resolução é quase igual à do olho humano, o que permitiu ao biólogo marinho Dhugal Lindsay, da Agência Japonesa de Ciência e Tecnologia Terrestre-Marinha, filmar plâncton quase microscópico em detalhes suficientes para identificar as espécies.

Plâncton da família Larvacea

Filmar luz em pouca luz

Aproximadamente três quartos dos organismos marinhos, excluindo espécies microscópicas e aqueles que vivem no chão do oceano, produzem luz. Porém, os pesquisadores estão apenas começando a aprender como as criaturas usam essa habilidade para se comunicar, para atrair parceiros ou para se defender.

O aperfeiçoamento dos sensores permite que os cientistas usem muito menos iluminação para registrar a vida nos oceanos, possibilitando que finalmente captem fenômenos como a bioluminescência – a produção de luz por um organismo – e identifiquem os animais que emitem tal espetáculo de luz.

Quando estimulado, este pepino-do-mar (Pannychia moseleyi) produz um frenesi de luz bioluminescente

“Eu não posso te dizer quantas vezes eu vi bioluminescência no escuro e disse: ‘Ei, isso foi legal, mas eu não tenho ideia do que é'”, explica Brennan Phillips, oceanógrafo da Universidade de Rhode Island (EUA).

Poucos anos atrás, Phillips gravou uma espécie ainda não identificada de Tomopteris, um verme marinho que se parece com uma centopeia, usando câmeras equipadas com sensores avançados. Com a tecnologia, ele pode fazer imagens da luz brilhando dentro do sistema nervoso central do animal e irradiando para cada uma de suas pernas.

Beroe forskalii, zooplâncton gelatinoso

Mais descobertas

Em uma viagem pela costa do México em maio deste ano, Phillips e outros pesquisadores usaram outro sensor novo e especializado para registrar uma medusa de 68 centímetros de comprimento chamada Deepstaria enigmatica.

Deepstaria enigmatica

Esta água-viva não tem tentáculos, e os cientistas há muito se perguntavam como ela capturava presas. As imagens detalhadas finalmente elucidaram como o animal se movia, o que permitiu aos biólogos deduzir que a água-viva “ensaca” sua refeição usando uma espécie de membrana em forma de saco em seu corpo.

No geral, as imagens recentes coletadas estão abrindo mundos de possibilidades, ao mostrar animais agindo de maneiras que nunca vimos antes. Por enquanto, ainda temos mais perguntas do que respostas. [Nature, MBARI]

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