O ponto de não-retorno climático está batendo na porta
Um grupo de sete cientistas da Europa e Austrália publicou na revista científica Nature uma análise sobre o ponto de não-retorno das mudanças climáticas. Segundo eles, até atingirmos este ponto, seria possível impedir grandes catástrofes naturais com mudanças nas ações humanas. Mas assim que o ponto de virada foi atingido, um efeito cascada começará a acontecer e ele não poderá ser impedido por nós.
“Na nossa visão, a emergência mais clara seria se nos aproximássemos de uma sequência de pontos de não-retorno que causassem um estado climático novo, menos habitável, uma ‘estufa’. Interações poderiam acontecer através dos oceanos e da circulação atmosférica ou através de retroalimentações que aumentam os níveis de gases de efeito estufa e a temperatura global”, escrevem eles (confira a lista de autores abaixo).
Pesquisas de 2018 analisaram 30 tipos de regimes de mudança que incluem sistemas ecológicos e climáticos. Essas mudanças foram observadas do colapso das geleiras da Antártica até a floresta Amazônica, que tem se transformado em sertão. Os estudos mostraram que mudanças em alguns sistemas influenciam em mudanças de outros sistemas, da mesma forma que uma peça de dominó derruba a outra.
Efeito cascata já em andamento
O derretimento do gelo do Ártico está ampliando o aquecimento da região, e a água fresca dessas geleiras está alterando a circulação meridional de capotamento do Atlântico (AMOC), um componente de correntes superficiais e profundas do oceano Atlântico. Nela, há um fluxo de água morna para o Norte nas camadas mais superficiais, e um fluxo de água fria para o Sul nas camadas profundas.
Uma diminuição da AMOC pode deixar a região da Amazônia mais seca, interferir nas monções do Leste Asiático e causar o acúmulo de calor na região da Antártica, acelerando a perda de gelo.
Floresta vira sertão
Os autores alertam que o desflorestamento e mudanças climáticas estão desestabilizando a Amazônia. A previsão é que o ponto da virada desta importante região pode acontecer quando a Amazônia tiver perdido entre 20 a 40% de sua vegetação. De 1970 para cá, já perdemos 17% da cobertura natural da Amazônia.
Permafrost e liberação de CO2 e metano
O permafrost do Ártico está começando a descongelar de maneira irreversível, liberando dióxido de carbono e metano. O metano é um gás de efeito estufa que é 30 vezes mais forte que o CO2.
O cálculo de quantidade de emissão de CO2 máxima que podemos liberar antes que o planeta se aqueça 1,5ºC é de cerca de 500 gigatons de CO2 (500 bilhões de toneladas métricas). Apenas as emissões do permafrost vão representar 20% desta quantia. A liberação de CO2 da Amazônia e de outras florestas representa outros 20%. Atualmente liberamos 40 gigatons de CO2 por ano. Isso significa que possivelmente já atingimos esta liberação máxima, segundo os autores.
O ponto do não-retorno
O Painel Intergovernamental da Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), introduziu a ideia de “ponto de virada” duas décadas atrás. Na época, eles acreditavam que um aquecimento médio de 5ºC sobre a temperatura pré-industrial seria necessário para atingir este ponto. Mas análises de 2018 mostram que um aumento entre 1 e 2ºC já seria suficiente para atingir este pronto crítico.
Se compromissos firmados entre vários países forem cumpridos e as emissões de gases de efeito estufa forem reduzidos, teremos o aquecimento de 3ºC. É por isso que o Acordo de Paris de 2015 tentava colocar como meta um aquecimento ainda menor, de 2ºC, ou preferencialmente 1,5ºC.
“Alguns cientistas defendem que a possibilidade do ponto de não-retorno permanece altamente especulativa. Nossa posição é que, por causa do enorme impacto e da natureza irreversível, qualquer avaliação séria de riscos deve considerar as evidências, independente do quão limitada a nossa compreensão ainda possa ser. Errar para o lado do perigo não é uma opção responsável”, escrevem eles.
“Se o ponto do não-retorno tem a possibilidade de ocorrer e um não-retorno global não pode ser excluído, então isso é uma ameaça existencial para a civilização. Nenhuma análise econômica de custo-benefício vai nos ajudar. Precisamos mudar nossa abordagem do problema climático”, urgem eles. [Nature]
Os autores do alerta são:
Timothy Lenton, diretor do Instituto de Sistemas Globais (Universidade de Exeter, Reino Unido)
Johan Rockström, diretor do Instituto de Pesquisas sobre Impactos Climáricos de Potsdam (Alemanha)
Owen Gaffney, analista do Centro de Resiliência de Stockholm (Universidade de Stockholm, Suécia)
Stefan Rahmstorf, professor de física dos oceanos (Universidade de Potsdam, Alemanha)
Katherine Richardson, professora de oceanografia biológica no Instituto Global (Universidade de Copenhagen, Dinamarca)
Will Steffen, professor de clima e ciência de Sistemas da Terra (Universidade Nacional Australiana, Austrália)
Hans Schellnhuber
2 comentários
A temperatura mais alta do planeta ocorreu muito antes de termos muito CO2 no ar e a temperatura mais baixa do planeta ocorreu depois de grande poluição no ar. Portanto, além das indústrias existem centenas de vulcões emitindo CO2 e gases de efeito estufa. Existe também o ciclo do sol que se coincidir com muitos vulcões em erupção aumenta muito a temperatura do nosso planeta. Assim não se pode colocar a culpa do aumento da temperatura do planeta apenas na emissão de gases industriais. Estamos sobre uma caldeira que começa no centro da terra e tem milhares de km até chegar à crosta de um lado e o sol do outro e a caldeira tem centenas de chaminés expelindo gases quentes que somadas ultrapassam em muito toda a poluição industrial, assim, fica difícil acreditar que o homem seja culpado pelo aumento da temperatura do planeta.
Quando você vê os dados, compara a atividade solar, vulcânica, e outros fatores com a curva da temperatura, vai perceber que o acréscimo de CO₂ corresponde à curva do aquecimento, e que o aumento de temperatura segue o aumento de CO₂ resultante da atividade humana.
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