Os satélites de Elon Musk estão vazando radiação
Astrônomos estão enfrentando desafios significativos devido à expansiva constelação de satélites Starlink da SpaceX, que aparece como rastros brilhantes em suas observações. Um estudo recente publicado em Astronomy & Astrophysics revela que esses satélites estão introduzindo uma complicação adicional às observações astronômicas: radiação não intencional emitida pelos eletrônicos a bordo.
Os eletrônicos dos satélites Starlink emitem ondas de rádio de baixa frequência, que interferem nos telescópios projetados para escanear a mesma faixa de frequência. Essa faixa de frequência é crucial para observações de espaço profundo. O estudo relata a detecção de radiação “não intencional” de quase 50 satélites Starlink, e os pesquisadores antecipam problemas semelhantes com constelações de satélites operadas por outras empresas, não apenas a SpaceX.
O telescópio Low-Frequency Array (LOFAR) na Holanda detectou a radiação. O LOFAR é usado principalmente para detectar sinais extremamente fracos de objetos cósmicos. De acordo com Cees Bassa, astrônomo do Instituto Holandês de Radioastronomia (ASTRON), a radiação foi detectada entre 110 e 188 MHz em 47 dos 68 satélites observados. Essa faixa de frequência inclui uma banda protegida dedicada à radioastronomia entre 150,05 e 153 megahertz, conforme designado pela União Internacional de Telecomunicações.
Embora a SpaceX não esteja violando nenhuma lei, já que não existem regulamentações internacionais que cubram esse tipo de radiação dos satélites, o impacto disruptivo causado pelos satélites Starlink exige medidas regulatórias. Os pesquisadores realizaram simulações que revelaram os efeitos prejudiciais dessa radiação, que aumentam à medida que o tamanho da constelação de satélites cresce. Benjamin Winkel, astrônomo do Instituto Max Planck e coautor do estudo, expressou preocupações não apenas com as constelações existentes, mas também com as planejadas.
A escala da constelação de satélites Starlink é substancial, com aproximadamente 4.000 satélites em órbita atualmente e aprovação de quase 12.000 pela Federal Communications Commission (FCC). A SpaceX propôs aumentar o limite para 30.000, mas a FCC está hesitante devido às preocupações expressas pela NASA em relação aos riscos que esses satélites representam para missões espaciais. Além disso, a Amazon planeja lançar cerca de 3.000 satélites para competir com o Starlink, intensificando ainda mais a situação.
Embora a proliferação dessas constelações artificiais de satélites pareça inevitável, os pesquisadores estão em contato próximo com a SpaceX para discutir maneiras de mitigar o impacto na astronomia.
Além das preocupações com a interferência na observação astronômica causada pela radiação dos satélites Starlink, há também a questão do impacto visual. Os rastros brilhantes deixados pelos satélites em seus trajetos pelo céu noturno têm sido motivo de frustração para astrônomos e astrofotógrafos.
A medida que a constelação Starlink continua a crescer, aumenta a probabilidade de esses rastros luminosos atravessarem campos de visão de telescópios e câmeras sensíveis. Isso pode comprometer imagens e observações científicas, tornando mais difícil a obtenção de dados de qualidade.
Esse problema tem gerado debates sobre a necessidade de regulamentações mais rigorosas para o lançamento de megaconstelações de satélites. Enquanto as empresas de tecnologia buscam fornecer conectividade global por meio desses sistemas, os astrônomos defendem a importância de preservar o céu noturno e garantir que suas pesquisas não sejam prejudicadas.
Diversas propostas têm sido discutidas, desde a redução da refletividade dos satélites até a implementação de mecanismos para evitar a interferência e garantir a proteção das observações astronômicas. Também se debate a necessidade de um maior diálogo e cooperação entre as empresas de satélite e a comunidade astronômica, a fim de encontrar soluções que conciliem os avanços tecnológicos com a preservação do conhecimento científico e cultural proporcionado pela astronomia.
É fundamental encontrar um equilíbrio entre o desenvolvimento da infraestrutura espacial para comunicações e o respeito pela natureza intocada do céu noturno, que tem inspirado e maravilhado a humanidade ao longo dos séculos. Dessa forma, será possível garantir o progresso científico e tecnológico, sem comprometer a beleza e o valor da exploração do cosmos. [Futurism]