Pandemia silenciosa: infecções mortíferas estão sendo causadas por fungos, alertam cientistas
Em um cenário que parece saído diretamente de um episódio de The Last of Us, cientistas agora estão alertando que estamos no meio de uma pandemia silenciosa de infecções fúngicas. Felizmente, ainda não chegamos ao ponto de cogumelos zumbis controlarem nossas mentes (obrigado, Hollywood), mas a situação é mais séria do que parece. Enquanto o mundo luta contra a resistência a antibióticos, algo ainda mais traiçoeiro está ganhando terreno: fungos altamente adaptáveis e perigosos.
Segundo o biólogo molecular Norman van Rhijn, da Universidade de Manchester, as infecções fúngicas estão se tornando um problema global tão grande que o público poderia muito bem começar a associá-las ao apocalipse zumbi fictício. A resistência antifúngica tem sido amplamente negligenciada nas discussões sobre saúde pública, embora ela venha crescendo em ritmo alarmante.
Este mês, as Nações Unidas estão promovendo uma reunião em Nova York para debater a resistência antimicrobiana, onde bactérias resistentes serão as protagonistas. Mas van Rhijn e seus colegas têm uma mensagem clara: “E os fungos, pessoal?”.
Em uma carta publicada no The Lancet, a equipe de cientistas alertou que as infecções fúngicas já causam cerca de 3,8 milhões de mortes por ano, infectando aproximadamente 6,5 milhões de pessoas. Se ninguém começar a prestar atenção, essas infecções podem se tornar tão mortais quanto os patógenos bacterianos. Para quem achava que um fungo zumbi era apenas um pesadelo de ficção científica, essa estatística deve ser um toque de realidade.
Os pesquisadores também apontam que o foco desproporcional nas bactérias é perigoso. Muitos dos problemas de resistência a medicamentos que enfrentamos hoje foram causados por doenças fúngicas invasivas, mas elas continuam sendo ignoradas pela comunidade científica e pelos governos. Não que precisemos de mais uma pandemia, mas, segundo van Rhijn e sua equipe, uma de fungos já está se desenrolando silenciosamente ao nosso redor.
Em 2022, a Organização Mundial da Saúde finalmente publicou uma lista de patógenos fúngicos prioritários, como uma espécie de “quem é quem” dos vilões microscópicos. Nessa lista de “fungos do mal” estão o Aspergillus fumigatus, um mofo que gosta de atacar o sistema respiratório, e a Candida, que não tem nada a ver com pães fofinhos e muito a ver com infecções no sangue e no trato genital. Ah, e não se esqueça do Trichophyton indotineae, que adora destruir pele, cabelo e unhas, como um cabeleireiro de filme de terror.
Pessoas idosas ou com o sistema imunológico comprometido estão especialmente em risco, mas vamos ser sinceros: ninguém está realmente ansioso para enfrentar um fungo invasivo, independentemente da idade.
Aqui está o problema: ao contrário das bactérias ou vírus, os fungos são muito mais complicados. Eles são organismos tão complexos que, para criar medicamentos eficazes, os cientistas precisam ser cuidadosos para não acabar destruindo nossas próprias células no processo. Atualmente, existem apenas quatro classes de antifúngicos eficazes para tratar infecções graves, e a resistência a essas drogas está se tornando a norma, em vez da exceção.
Nos últimos anos, surgiram novos antifúngicos promissores, mas não antes que a indústria agroquímica começasse a tornar tudo ainda mais complicado. Imagine desenvolver um antifúngico por anos, apenas para descobrir que ele já foi neutralizado pelo uso de fungicidas agrícolas. Isso mesmo: os produtos químicos usados para proteger as plantações também estão ajudando a criar superfungos, porque, aparentemente, a natureza adora uma ironia.
Van Rhijn e seus colegas ressaltam que precisamos de uma estratégia global para limitar o uso de certos antifúngicos na agricultura, antes que acabemos com um problema ainda maior nas mãos. Afinal, a proteção das lavouras é essencial para a segurança alimentar, mas também precisamos garantir que teremos como combater esses fungos perigosos em humanos no futuro.
Assim, enquanto a reunião da ONU deste mês tenta encontrar soluções para a resistência antimicrobiana, esses especialistas sugerem que também devemos estar atentos aos fungos. Porque, sejamos sinceros, ninguém quer que a próxima pandemia venha com esporos cinzentos e um enredo digno de uma série de zumbis.