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Por que não devemos acreditar na ciência?

Nesses dias recebi um e-mail de nosso colaborador, aqui no Hypescience, o Engenheiro Eletricista Cesar Grosmann, contendo o link do artigo “Why I don’t believe in science…and students shouldn’t either” de  Adam Blankenbicker. Artigo esse  que aborda o delicado tema de filosofia da Ciência, algo que poderia ser resumido na pergunta indiscreta que usei aí em cima, como título dessa matéria.

Nosso colega Blankenbicker do Smithsonian National Museum of Natural History traz mais uma vez à pauta um tema já reiterado em fóruns de discussão de ciência e tecnologia, inclusive aqui no Hypescience, porém que não perde seu frescor e também sua importância.

Para uma resposta bem cuidada a esse questionamento vale à pena lembrar que, por uma questão puramente conceitual, o verbo crer não deve ser aplicado ao conhecimento científico por ser textualmente excludente.

O que isso quer significar?

Quando eu creio em algo, estou assumindo uma fé incondicional (geralmente dentro do campo da religião).

Logo, estou admitindo uma verdade que não precisa de nenhuma evidência que a corrobore.

Por si só a conjugação desse verbo, exclui o conceito científico.

Esse conceito submetido ao mais rigoroso dos métodos, que exige evidências para que possa ser admitido como plausível.

Além de ficar patente que o conceito científico pode (e deve) ser questionado.

– Coisa que não se admite no campo da fé, já que se sustenta com argumentos de autoridade e que são, portanto, inquestionáveis.

Por exemplo:

Para a religião praticada no Antigo Egito o Íbis era considerado um animal sagrado, relacionado diretamente ao deus Thot, senhor do tempo e da sabedoria.

Íbis-sagrado (ave identificada com o deus Thot)

Os praticantes de tal religião, não exigiam nenhuma prova que atestasse essa relação entre a ave e a divindade.

Apenas acreditavam com fervor em sua natureza sagrada e na importância vital de todas as suas práticas ritualísticas.

Em contrapartida, nenhum cientista que mereça esse título, afirma que acredita nos conceitos científicos que defende.

Em minha área de atuação, por exemplo, não há necessidade de se acreditar que a água é constituída por hidrogênio e oxigênio, na proporção H2O.

Existem diversas evidências que corroboram tal afirmação e a maioria delas envolvem experimentos em laboratório, que são classificadas como evidências práticas, atestadas pela exatidão matemática dessas manipulações (que são categorizadas como evidências teóricas).

Nenhum estudante de Química precisa acreditar na água como H2O. Se a dúvida surgir e/ou persistir basta realizar em laboratório processos de síntese da água (ou sua decomposição) para comprovar que tal pressuposto é científico.

Sei que alguns leitores (principalmente aqueles que não entenderam o artigo) vão me bombardear com afirmações do tipo “a ciência é a nova religião do Mustafá” ou que o “cientista nega deus ou Deus ou os deuses ou os Deuses” ou vão me acusar de cético (como se isso fosse alguma ofensa) ou incitar a prática de um ceticismo ao contrário (defender a benzedura e desprestigiar a medicina, por exemplo) como se o fato de desenvolver o espírito crítico e exigir evidências para aceitar uma afirmação fantástica como verdadeira, fosse o princípio da danação do espírito e a sua consequente condenação à expiação eterna nos porões dos infernos (qualquer um deles).

A minha única resposta é apresentar mais uma vez a definição de ciência (sem querer com isso atacar anjos ou demônios):

Ciência é o conjunto do conhecimento humano, socialmente adquirido, historicamente acumulado que admite falseabilidade e exige comprovação pela experimentação e/ou pela apresentação de evidências fundamentadas na lógica, na objetividade e na razão;

E reiterar que nada disso tem a ver com crença, fé ou religião.

Em suma:

Por que não devemos acreditar na ciência?

Ora, por que não precisamos.

Simples assim!

 

-o-

[Imagem 01: Uteart ]

[Imagem 02: Íbis-sagrado – Wikimedia Commons]

[Leia os outros artigos de Mustafá Ali Kanso]

 

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Seus contos “Herdeiros dos Ventos” e “Uma carta para Guinevere” foram, em 2010, tópicos de abordagem literária do tema “Love and its Disorders” no “4th International Congress of Fundamental Psychopathology.”

Foi premiado com o primeiro lugar no Concurso Nacional de Contos da Scarium Megazine (Rio de Janeiro, 2004) pelo conto Propriedade Intelectual e com o sexto lugar pelo conto Singularis Verita.

 

 

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