Por que os veganos são tão odiados?

Por , em 11.02.2020

Em abril de 2019 um manifestante anti-veganismo comeu um fígado de boi cru em pleno mercado vegano de Londres, sujando de sangue o rosto, mãos e regata estampada com a frase “veganismo = má nutrição”. Em poucos minutos ele foi levado pela polícia. O que leva ao ódio do veganismo?

Uma pesquisa de psicologia mostrou que veganos enfrentam um estigma na mesma intensidade que os usuários de drogas. Este ódio parece ir contra qualquer lógica;  considerando que a maioria das pessoas gostaria de ver menos sofrimento (inclusive dos animais) no mundo, por que há tanto ressentimento contra as pessoas que tentam amenizar o problema?

Alguns dizem que os veganos são hipócritas, porque colher plantas seria o equivalente a matar animais, ou então porque colheitadeiras matam insetos, mamíferos e muitos outros animais quando fazem a colheita.

Outros simplesmente sentem raiva de quem se vangloria de não consumir nenhum produto de origem animal e tenta convencer os outros a fazer o mesmo. Você já deve ter ouvido aquela piada: “Como saber que há um vegano na festa? Não se preocupe, ele vai te contar!”.

Mas o que Hank Rothgerber, psicólogo social da Universidade Bellarmine (EUA) quer saber é quais processos inconscientes estão envolvidos nessa veganfobia. Ele defende que a intolerância a quem não come carne não pode ser racional, porque há incontestáveis evidências que as causas de mortalidade são maiores para aqueles que comem carne diariamente, especialmente a vermelha ou processada.

“Paradoxo da carne”

Para continuar comendo carne, diz Rothgerber, a pessoa tem que fazer bastante de ginástica mental para calar a voz da razão. Por sorte, nossos cérebros são muito bons em nos proteger de realidades que não queremos encarar.

A dissonância cognitiva acontece quando uma pessoa tem duas visões incompatíveis ao mesmo tempo, por exemplo achar coelhos uma fofura e logo em seguida jantar um ensopado de coelho com molho de cenoura e batata. Isso é chamado por psicólogos de “paradoxo da carne” e também de “esquizofrenia moral”.

Ao invés de alterarmos o comportamento ou a nossa crença, temos várias estratégias para ignorar este paradoxo. Uma delas, diz o pesquisador, é fingir que a carne não tem ligação com animais, ou então nem querer saber como a carne chega até o seu prato. Ao mesmo tempo, crescemos assistindo a desenhos que mostram animais de fazenda felizes da vida.

A interação com veganos obriga as pessoas a terem contato com este paradoxo, e isso causa um grande desconforto. Para tentar encontrar explicações que justificam por que elas ainda comem tanta carne, elas podem virar a mesa e argumentar que os veganos é quem são pessoas ruins.

Um estudo da Universidade de Pensilvânia (EUA), conduzido pela psicóloga Julia Minson, orientou que os participantes do estudo escolhessem três palavras que definem veganos. Entre eles, 45% escolheram adjetivos que têm a ver com características sociais, como “arrogante”, “enfadonho”, “militante”, “tenso” e “estúpido”.

Moral parecida, comportamentos diferentes

Uma das explicações para este comportamento é que as pessoas se sentem particularmente ameaçadas por outras que têm moral parecia, mas que parecem tomar mais ações para lutar por seus ideais. No final das contas, o medo de ser julgado supera qualquer respeito que poderia existir pela integridade alheia.

Um grupo que pode se sentir ainda mais julgado pelos veganos é do de vegetarianos: “eles concordam que está errado criar animais para alimentação e agora encaram alguém que age mais para lutar contra isso do que eles mesmos”. Isso, de acordo com Benoit Monin, psicólogo da Universidade Stanford envolvido no estudo.

É por isso que omnívoros se irritam ainda mais com veganos que dizem passar longe dos produtos animais por motivos éticos quando comparado com justificativas de saúde ou de estilo de vida.

Por outro lado, o estudo mostrou que há mais tolerância quando um vegano justifica sua escolha por algum motivo incomum, por exemplo, “eu cresci em uma fazenda e fiquei traumatizado ao ver animais sendo mortos”. Um omnívoro que também gosta de animais e sente empatia por eles pode pensar “bom, eu não cresci em uma fazenda, não posso replicar esta experiência, portanto estou moralmente dispensado para comer o que eu quiser”.

Agora que a psicologia trouxe algumas possíveis respostas para a pergunta de “por que veganos são odiados?”, resta ver o que os pesquisadores podem dizer sobre motoristas que odeiam ciclistas. [BBC, Fox]

10 comentários

  • Rafael Azzi:

    É dificil.

  • Rafael Azzi:

    Incrível como a inteligência humana elabora todo tipo de desculpa para se manter na zona de conforto e justificar uma atitide imoral…
    1) “Tudo que é vivo um dia morre e vira alimento para outras criaturas”. Desde que essa morte seja natural, ok. Outra coisa é a morte matada. Ninguém gostaria de ser assasinado para servir aos propósitos de outrem.
    2) “Animais na natureza vivem menos, piores condições e sofrem mais pra morrer”. Você já se dedicou seriamente a descobrir como os animais são criados para o abate? Nenhum animal abatido pela indústria foi retirado de ambientes naturais e bucólicos. Foram todos gerados e criados artificialmente para esse destino. As mazelas da vida em liberdade ainda seguem acontecendo na natureza. A indústria pecuária não resolveu em nada essa questão. Pelo contrário, só adicionou dezenas de outras formas de tortura e gerou bilhões de animais que serão submetidos a isso (70 bilhões de animais terrestres por ano, no mundo). O abate é apenas a ponta de uma longa cadeia que começa no nascimento. Na natureza, vacas têm expectativa de vida de 15 anos. Nós as abatemos com 2 anos de idade. Galinhas podem viver até 15 anos, mas nós as matamos com 45 dias. Porcos vivem até 10 anos, mas são assassinados com 6 meses de vida. Comparando com humanos, você acharia justo abater uma criança para poupar-lhe das dificuldades da vida e dos sofrimentos da velhice? Se você tem interesse em saber a vida que proporcionamos aos animais, assista aos documentários “Terráqueos” ou “Dominion” (site “filmevegano”). Você trocaria uma vida livre, com possível morte trágica, por uma garantida vida de sofrimento e morte rápida?
    3) “Seria mais produtivo fazer campanhas por fazendas conscientes”. Não existe uma forma correta de roubar a vida de um animal desnecessariamente. Seria o mesmo que falar em “estupro humanitário” ou “genocídio humanitário”.
    4) “Veganos se acham donos da verdade, se acham melhores que todo mundo. Muitos são imorais, arrogantes e egoístas com pessoas, são hipócritas, misantropos, tem um ar de superioridade. É o pior tipo de pessoa de se conviver. São fracos no final das contas”. Isso é argumento ad hominem: seu argumento está atacando apenas a pessoa que defende a idéia, não está refutando em nada a idéia em si. Não me coloco como dono da verdade, nem melhor que todo mundo. É obvio que veganos não são seres perfeitos. Mas o fato é que a conduta vegana É MAIS ÉTICA que a não vegana. E ponto final. Se essa afirmação te incomoda porque você não está disposto a se esforçar para mudar de comportamento, seja honesto pelo menos e não vá atacar a pessoa que tenta agir de forma ética. Não critique vaganos por tentarem fazer algo, enquanto você não faz nada.

    • Cesar Grossmann:

      1) Quer dizer que um guepardo matando um antílope não é uma morte natural? Quantos anílopes morrem de velhice?
      2) Eu nunca compararia uma criança a um porco.
      3) E eutanásia, existe a “boa morte”? Matar o animal para produzir alimentos é uma necessidade. Usar de meios cruéis é simplesmente anti-ético.
      4) Já vi vegano defendendo que é melhor deixar uma criança morrer de fome do que abater um animal. Essa é a conduta ética superior dos veganos?

    • Rafael Azzi:

      1) É uma morte provocada pela ação de outro animal. Não tenho estatísticas sobre as causas de morte de antílopes.
      2) Um porco e uma criança são iguais no que tange à vontade de viver e de não sentir dor.
      3) Sua afirmação é falsa. Definitivamente, matar animais para produzir alimentos NÃO é uma necessidade.
      4) Argumento ad hominem.

    • Cesar Grossmann:

      1. o homem não é outro animal?
      2. pois eu acho que o sofrimento de uma criança é bem maior que o sofrimento de um porco. A criança é muito mais capaz de sofrimento que o porco.
      3. qualquer dieta equilibrada inclui carne. A dieta vegana é desequilibrada, tanto é que para manter a saúde, precisam tomar suplementos vitamínicos.
      4. você não sabe o que é ad hominem.

  • Daniel Tavares:

    Eu não tenho ódio com veganos e até acho bonito a vontade de proteger os animais. Eu sei que existe muito sofrimento envolvido, e já ate presenciei a morte de uma galinha que depois foi pra panela. A questão é, eu simplesmente não me importo com isso, e vou continuar comendo carne e derivados até que tenha uma lei que proíba isso.
    Quer ser vegano? Seja! Só não me aborreça com isso.

  • Eric Veiga:

    Bolsomínions e Onivínions de plantão?

  • MarcioGM:

    Essa história de “moral” comigo não cola. Primeiro porque tudo que é vivo um dia morre e vira alimento para outras criaturas. Segundo porque a morte natural é sempre dolorosa, animais na natureza vivem menos, em piores condições e sofrem mais para morrer do que animais de cativeiro *podem* viver em fazendas conscientes, então seria mais produtivo fazer campanha por fazendas assim. E o que mais dá raiva nas pessoas é lidar com donos da verdade, sejam veganos ou carnívoros.

  • Leandro Tanna:

    Engraçado que comigo acontece um pouco ao contrário que diz o texto. Quando estou em uma festa logo percebem que não estou comendo nenhum tipo de carne, de tanto que me oferecerem acabam perguntando, em tom até irônico “Ué, você é vegano”, ai respondo; Faço o possível!.. Depois que a armadura da pessoa cai, vem um bombardeio de perguntas, muitos até tentam me mostrar que eu estou errado, mas com pouca conversa, a própria pessoa se convence de que não tem como convencer uma pessoa com argumentos insustentáveis. Uns aceitam numa boa, mas muitos da pra perceber que saem contrariados por não conseguirem sustentar suas visões “carnivoras”… Bom, com o tempo nos acostumamos. 😉

    • Marcelo Leite:

      O problema é que os veganos acham que são melhores que todas as pessoas do mundo só porque não comem animais. Muitos são imorais, arrogantes, egoístas COM PESSOAS. Ora, como alguém quer pagar de salvador do planeta maltratando pessoas? Ou você é bom ou é só alguém com sérios conflitos que decidiu se apegar a uma causa pra justificar a própria malignidade em que vive com seus semelhantes. Sabe aquelas pessoas que adoram a frase “quanto mais conheço pessoas, mas amo os animais?”. Essa gente tá sofrendo, são amargurados, intragáveis, intolerantes…

      Comer animais não é legal, eu só como peixe, mas o discurso dos veganos é sim hipócrita e revela um grupo de gente que diz amar bichos, mas odeiam humanos. A maioria é assim. Se gostam de alguém, pode ter certeza que é outro vegano. KKK

      Não me venham dizer que isso é mentira, porque conheço e convivo com uma porrada de veganos. Todos tem um ar de superioridade, mas quando alguém pisa no pé, vira o demônio. Mas o bichinho fofo que é FÁCIL lidar, pode até morder que “nossa, olha que lindo”… Isso realmente incomoda. Acaba que o vegano se torna o pior tipo de pessoa pra se conviver. São fracos no final das contas. Gente do bem ama gente primeiro, depois cuida do planeta.

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