Ellen Johnson Sirleaf, presidente da Libéria, assistiu seu país sobreviver a uma devastadora guerra civil e se recuperar. Contudo, o futuro promissor da Libéria está novamente sob ameaça. Desta vez, o vilão é o ebola.
Agora, ela está pedindo ao mundo para ajudar. Abaixo está a carta que ela escreveu para todos nós:
“Querido Mundo,
Em pouco mais de seis meses, o ebola conseguiu trazer o meu país a um impasse. Perdemos mais de 2 mil liberianos. Alguns eram crianças que são abatidas no auge de sua juventude. Alguns eram pais, mães, irmãos ou melhores amigos. Muitos eram bravos trabalhadores de saúde que arriscaram suas vidas para salvar outras pessoas, ou simplesmente oferecer às vítimas conforto em seus momentos finais.
Não é coincidência que o ebola tenha se apoderado em três estados frágeis – Libéria, Serra Leoa e Guiné -, todos lutando para superar os efeitos de guerras interligadas. Na Libéria, a guerra civil terminou há apenas onze anos. Ela destruiu a nossa infraestrutura pública, esmagou nossa economia e levou a um êxodo de profissionais qualificados. Um país que teve cerca de 3 mil médicos qualificados no início da guerra, dependia, no seu fim, de quase três dezenas. Nos últimos anos, a Libéria estava se recuperando. Percebemos que havia um longo caminho a percorrer, mas o futuro parecia positivo.
Agora, o ebola ameaça apagar esse trabalho duro. A nossa economia seria maior e mais forte este ano, oferecendo mais empregos para os liberianos e elevando os padrões de vida. O ebola não é apenas uma crise de saúde – em toda a África Ocidental, uma geração de jovens corre o risco de ser perdida para uma catástrofe econômica à medida que as colheitas são perdidas e mercados e fronteiras são fechados.
O vírus conseguiu se espalhar tão rapidamente por causa da força insuficiente dos serviços de emergência, médicos e militares que permanecem com poucos recursos e sem a preparação para enfrentar tal desafio. Teria acontecido desta forma se o confronto fosse com o ebola, outra doença infecciosa ou um desastre natural.
Mas uma coisa é clara. Esta é uma luta em que o mundo inteiro tem uma participação. Esta doença não respeita fronteiras. O dano que está causando na África Ocidental, seja em saúde pública, economia ou dentro das comunidades já está repercutindo em toda a região e em todo o mundo. A reação internacional a esta crise foi inicialmente inconsistente e sem uma direção clara ou urgência. Agora, finalmente, o mundo acordou. A comunidade das nações percebeu que não pode simplesmente levantar a ponte levadiça e torcer para que esta situação vá embora.
Esta luta exige um compromisso de toda nação que tenha a capacidade de ajudar – sendo com fundos de emergência, material médico ou experiência clínica. Tenho toda a fé em nossa capacidade de resistência como liberianos, e na nossa capacidade como cidadãos globais, para enfrentar esta doença, vencê-la e reconstruir.
A história tem mostrado que quando um povo está no seu momento mais escuro, a humanidade tem uma capacidade invejável de agir com coragem, compaixão e altruísmo para o benefício daqueles que mais precisam.
Dos governos às organizações internacionais, instituições financeiras às ONGs, políticos às pessoas comuns na rua, em qualquer canto do mundo, todos nós temos um papel na batalha contra o ebola. É dever de todos nós, como cidadãos globais, enviar uma mensagem de que não vamos deixar milhões de africanos ocidentais se defenderem sozinhos contra um inimigo que eles não conhecem e contra quem têm pouca defesa.
O tempo para falar ou teorizar acabou. Só uma ação concertada vai salvar o meu país, e nossos vizinhos, de passar por mais uma tragédia nacional. As palavras de Henrik Ibsen nunca foram mais verdadeiras: ‘Mil palavras não deixam a mesma impressão profunda que um único ato’.
Com os melhores cumprimentos,
Ellen Johnson Sirleaf” [Ryot]