Primeiro peixe-leão invasivo é descoberto no Brasil; ele pode destruir o ecossistema de recifes
Um único peixe capturado na costa brasileira pode significar um enorme desastre. Explicamos: é um peixe-leão, o infame invasor Pterois volitans, que tem o potencial de destruir ecossistemas delicados como o do Atlântico Sul Ocidental.
Em maio de 2014, um grupo de mergulhadores recreativos avistou o peixe adulto nos recifes rochosos da região sudeste do Brasil. Um grupo de pesquisadores, incluindo cientistas da Academia de Ciências da Califórnia (EUA), usou análise genética para ligar esse indivíduo com a população de invasores do Caribe, onde o peixe-leão já ameaça criticamente a vida marinha da região.
Demorou, mas depois de tocar o terror por lá, ele finalmente chegou aqui.
Como o peixe-leão chegou no Atlântico
Peixes-leão são procriadores prolíficos famosos por ameaçar ecossistemas de recifes fora da sua distribuição nativa no Indo-Pacífico. Embora a causa exata de sua invasão atlântica inicial seja desconhecida, especialistas acreditam o despejo de aquários em águas atlânticas em meados da década de 1990 é pelo menos parcialmente culpado.
Uma vez livre para se reproduzir em águas abertas, as populações de peixe-leão podem explodir dentro de um curto espaço de tempo. Alguns pesquisadores estimam que um peixe-leão fêmea pode gerar mais de dois milhões de ovos por ano. O indivíduo encontrado no Brasil provavelmente chegou aqui via dispersão larval de longa distância natural.
O perigo no Brasil é ainda maior
Luiz Rocha, da Academia de Ciências da Califórnia, e seus colegas analisaram os conteúdos estomacais de peixes-leão no Caribe e descobriram que o bodião (Halichoeres socialis), espécie em perigo crítico de extinção, constituía quase metade da dieta do peixe na região.
Os pesquisadores concluíram que muitos peixes de recife compartilham traços biológicos com o bodião, incluindo tamanho pequeno e comportamento de pairar, que fazem deles um alvo fácil para peixes-leões invasivos.
Peixes brasileiros certamente enfrentam riscos semelhantes, só que as consequências são ainda mais graves. Recifes brasileiros têm relativamente menor diversidade de espécies, mas um grande número de peixes encontrados em nenhum outro lugar na Terra. Além disso, nosso país carece de programas formais destinados a detecção precoce de espécies marinhas invasoras, e é notório por não conseguir controlar com sucesso a pesca predatória.
Em dezembro de 2014, 3.286 espécies de plantas e animais brasileiros figuravam listas de ameaça de extinção, 83 dos quais eram animais aquáticos comercialmente explorados pela pesca. O interesse comercial e a ausência de regulamentação tornam os ecossistemas dos recifes já frágeis em especialmente vulneráveis a novas ameaças.
Como parar o peixe-leão
“Peixes brasileiros estão sendo atingidos por todos os lados”, diz Rocha. “A pesca excessiva e degradação do habitat são penetrantes, e nem mesmo os dados mais básicos da pesca estão sendo recolhidos. O melhor a se fazer para controlar uma invasão é tentar retardá-la desde o início”.
Rocha ressalta que mergulhadores recreativos foram os primeiros a detectar o P. volitans no Brasil, por isso é importante que as autoridades peçam que eles continuem de olho em possíveis avistamentos desse animal nas águas brasileiras.
Também, o Brasil pode utilizar as sugestões do controle dessa população invasora no Caribe, especialmente porque o indivíduo encontrado aqui é geneticamente ligado a essa população.
Por fim, além dos esforços de conservação marinha que o governo deve impor, Rocha sugere a capacitação das comunidades locais para caçar e cozinhar o peixe-leão. Este animal praticamente não tem competição. Seu único predador natural, o mero (Epinephelus itajara), está ameaçado de extinção no Brasil, então resta que os seres humanos sejam seu inimigo número um.
“Uma vez que você passa por seus espinhos venenosos, a carne do peixe-leão é deliciosa”, diz Rocha. “É um peixe branco delicado que as pessoas na Flórida e no Caribe estão aprendendo a preparar e vender com segurança”. [Phys]