Existe uma cultura, uma espécie de “tradição” na nossa sociedade, de ir ao médico uma vez por ano, para fazer o famoso check-up.
Parece prudente, não? Eu cresci ouvindo que isso era o certo. Mas alguns estudos feitos ao longo dos últimos 30 anos colocaram essa “sabedoria popular” em cheque – e mostraram que, para adultos saudáveis, que não têm nenhuma doença de longa data ou crônica ou não tomam nenhum tipo de medicamento controlado diariamente, fazer uma consulta de rotina anual não diminui o número de mortes. Essas consultas também não diminuem taxas de mortes relacionadas a doenças, internações ou custo de cuidados.
Segundo palavras do Dr. Thomas Miller, que é médico e diretor da Universidade de Hospitais e Clínicas de Utah, nos Estados Unidos, realmente “não há nenhuma evidência de que ir anualmente ao médico, se você é saudável, evita que coisas ruins aconteçam”.
Aliás, é bem pelo contrário
Ao invés disso, os estudos de vários pesquisadores descobriram que os exames anuais podem levar ao excesso de diagnóstico de algumas condições, tratamentos excessivos e invasivos e exames de alto custo – sem que haja uma necessidade real de que todas essas coisas sejam feitas.
Isso foi exatamente o que aconteceu com o pai de 85 anos do Dr. Michael B. Rothberg – um médico do Instituto de Medicina de Cleveland, nos Estados Unidos. Ele escreveu sobre essa experiência no mês passado no Journal of the American Medical Association, uma publicação especializada também dos Estados Unidos.
Depois de gastar algo em torno de 100 mil reais em uma série de tratamentos médicos ordenados para o seu pai, um exame físico desses de rotina identificou uma suspeita de aneurisma na aorta. Ele não tinha isso, mas uma tomografia mostrou uma lesão em seu fígado, que por sua vez era suspeita de ser cancerígena. A biópsia, por fim, declarou que o pai de Rothberg tinha um único tumor benigno, mas ele quase sangrou até morrer depois que o procedimento da biópsia foi realizado.
E, no entanto, como diz Rothberg, a prática de exames anuais persiste e é amplamente difundida em várias sociedades.
Isso acontece em parte porque alguns pagamentos médicos estão vinculados à prática. Por exemplo: quanto mais exames forem feitos, mais os envolvidos ganham com isso. Infelizmente, em alguns (muitos) lugares, esse tipo de meta – que, diga-se de passagem, não tem NADA a ver com a medicina e o serviço que ela oferece para a sociedade – foi tristemente estabelecida. E quem paga a conta, em todos os sentidos, é você.
Mas também porque os pacientes passaram a esperar essa bateria de exames toda vez que vão fazer um check-up. Os dados de uma pesquisa nacional dos Estados Unidos realizada em 2010 mostraram que 21% das consultas médicas tinham como finalidade os tais cuidados preventivos. Fazer um exame médico geral foi a 2ª razão pela qual as pessoas foram ao médico.
“Isso está enraizado em nossa cultura”, diz o Dr. Thomas Miller.
Então… Quando ir ao médico?
Isso de maneira nenhuma quer dizer que você deve ignorar os cuidados preventivos completamente. Por exemplo: é uma boa ideia ficar de olho na sua pressão arterial e controlar seus níveis de colesterol.
Seu médico também pode ajudá-lo a trabalhar em hábitos saudáveis, como parar de fumar ou outras atitudes que levam a uma vida mais saudável.
A questão é não exagerar. Nem na espera para consultar um médico (especialmente quando você não está se sentindo bem em relação a alguma coisa), nem na quantidade de exames periódicos. Afinal, quem procura demais acaba encontrando até coisa que não existe.[WebMed]