Mistério dos telefones do Garfield que aparecem há décadas nas praias da França é finalmente resolvido

Por , em 31.03.2019

Algo bem peculiar acontece em um trecho da costa da Bretanha, na França. Durante décadas, as pessoas têm encontrado pedaços de plástico laranja brilhante nas praias da região. Quando olhados de perto, os objetos se revelam: são telefones em forma de Garfield, o gato mais famoso do mundo.

“Tenho amigos que me contam as lembranças de quando eram crianças, eles já estavam encontrando telefones”, diz Claire Simonin-Le Meur, presidente da associação de voluntários Ar Viltansoù, em entrevista ao portal Atlas Obscura. O grupo limpa o lixo das praias uma vez por mês.

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Eles encontram vários detritos de pesca, com marcas que mostram que eles vêm de outros continentes. Mas toda vez que limpam as praias, os voluntários encontram pedaços desses telefones. Eles começaram a aparecer há 30 anos e, ainda assim, somente em 2018, os voluntários contaram mais de 200 fragmentos dos telefones laranjas.

Eles geralmente estão intactos, mesmo depois de passarem presumivelmente décadas na água, mantendo as linhas e listras dos desenhos animados, e algumas vezes tendo até mesmo pedaços de fiação interna e eletrônica. A associação mantém todos os pedaços de telefone já encontrados, e eles se tornaram um símbolo local do problema global da poluição plástica.

O modelo foi vendido pela empresa de brinquedos americana Tyco nos EUA. No Reino Unido, o telefone era vendido pela marca TeleConcept. Os olhos do Garfield se abriam quando os receptores eram retirados da base e se fechavam quando o telefone era desligado.

Mistério

Como era de se esperar, diversos rumores contraditórios já circularam entre os moradores locais sobre a origem dos telefones – a maioria deles dizendo que os Garfields vinham de um contêiner que havia sido perdido ao mar nos anos 80. No início deste ano, o site francês FranceInfo publicou uma reportagem sobre as misteriosas partes de telefone. Pouco depois, Simonin-Le Meur encontrou um homem, René Morvan, enquanto ela e outros voluntários removiam um grupo de golfinhos encalhados na costa.

Ele disse a ela que sabia de onde os telefones estavam vindo, e podia provar. “Eu realmente não entendi, por que eu pensava que o contêiner estava debaixo d’água e esse cavalheiro não parecia um mergulhador”, lembra ela.

Mas Morvan, um fazendeiro de 57 anos dono da terra ao lado da praia pública, contou a ela sobre uma tempestade que ocorreu quando ele tinha por volta de 20 anos – mesma época em que os telefones Garfield apareceram pela primeira vez em toda a praia, e ele e seu irmão foram investigar. Eles encontraram os restos de um contêiner alojado em uma caverna nos penhascos, um que geralmente ficava submerso, mas às vezes era revelado pela maré baixa.

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Junto com os telefones em forma de Garfield, o contêiner também tinha televisores e uma quantidade de madeira vermelha. Após várias semanas de mau tempo, Simonin-Le Meur e meia dúzia de outros voluntários puderam acessar a entrada da caverna na maré baixa, em 22 de março.

“Encontramos pedaços de metal com sinais de ferrugem, que eram pedaços do container, contra as rochas cobertas de algas na entrada da caverna”, diz ela. O grupo também encontrou muitos fragmentos dos telefones laranjas, o que mostrou que eles estavam no lugar certo.

Havia centenas de peças, incluindo dezenas de aparelhos, seus botões intactos e muitos ainda mostrando claramente seus números. A Ar Viltansoù resolveu o mistério, embora alguns membros especulem sobre a existência de um segundo contêiner, que pode explicar os diferentes locais onde os telefones chegaram a terra firme.

Poluição

O mistério dos telefones fofos parece estar resolvido, mas há um contexto mais sombrio por trás da história. Há uma crise cada vez mais visível de plástico nos oceanos do mundo – principalmente microplásticos. Pequenos demais para serem vistos a olho nu, estes restos, nos quais os telefones não recuperados acabarão por se tornar, farão parte da cadeia alimentar marinha.

“Dizem que em 400 anos esse plástico vai se degradar, o que quer dizer que, em vez de grandes pedaços visíveis de plástico, ele estará presente em pequenas quantidades em todo lugar, na água, no ar e na areia”, diz Simonin-Le Meur

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E isso sem mencionar as toxinas que podem estar se infiltrando na água de seus componentes eletrônicos.

A FranceInfo, que acompanhou a expedição do grupo para localizar a fonte das partes telefônicas, informou que entre 1.500 e 15.000 contêineres são perdidos no mar a cada ano. A costa da França já enfrentou problemas parecidos anteriormente: em 1993, um contâiner liberou pesticidas, enxofre e nitrocelulose, um componente altamente inflamável da pólvora, no mar.

Embora tóxicos, esses vazamentos são rapidamente esquecidos. Mas os telefones Garfield podem ajudar a sensibilizar as pessoas para o problema, torce Simonin-Le Meur. “Eles falam com as pessoas, porque é Garfield, um personagem de desenho animado, parece algo bom. Espero que eles abram seus corações para esse assunto que normalmente não os interessa e que realmente farão com que eles ouçam o que estamos dizendo”, espera. [Atlas Obscura]

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