O mundo seria lindo se todos nós pudéssemos alcançar a felicidade e sentir apenas prazer pro resto da vida, não?
Não.
Embora pareça senso comum, maximizar o prazer e minimizar a dor não pode nos fazer felizes. Como uma nova revisão de estudos psicológicos mostra, precisamos da dor para fornecer um contraste ao prazer; sem dor, a vida torna-se entediante, chata e totalmente indesejável.
Um exemplo que ilustra bem essa afirmação é o caso de Christina Onassis, filha do magnata Aristóteles Onassis. Ela herdou riqueza além da imaginação e gastou todo seu dinheiro em prazeres em uma tentativa de aliviar sua infelicidade. Christina morreu aos 37 e sua biografia, nomeada “All the Pain Money Can Buy” (em português, “Toda a Dor que o Dinheiro Pode Comprar), narra uma vida cheia de extravagâncias incompreensíveis que contribuíram para o seu sofrimento.
Os inúmeros benefícios da dor
Um estudo publicado recentemente na revista Personality and Social Psychology afirma que a dor promove prazer e nos mantém conectados ao mundo que nos rodeia.
Por exemplo, a dor pode aumentar o prazer durante uma corrida. Depois de muito esforço físico, os corredores experimentam uma sensação de euforia associada com a produção de opiláceos, um neuroquímico que também é liberado em resposta à dor.
O alívio da dor também aumenta os nossos sentimentos de felicidade, enquanto reduz os de tristeza. Por fim, a dor também pode nos fazer sentir mais justificados em recompensar-nos com experiências agradáveis.
Brock Bastian e seus colegas testaram essa possibilidade pedindo a algumas pessoas para segurar sua mão em um balde de água gelada e, em seguida, ofereceram-lhes a escolha de ganhar em troca um chocolate ou um marcador fluorescente.
Os participantes que não tiveram dor escolheram o marcador 74% do tempo. Já os que sentiram dor escolheram a caneta 40% do tempo, mostrando que o chocolate era uma recompensa mais agradável e livre de culpa.
Essa sensação de recompensa é maior quanto mais dor uma pessoa sente. Um estudo adicional da mesma equipe mostrou que as pessoas que sentiram mais dor também apreciaram mais o chocolate – o alimento de fato teve um gosto melhor.
A dor também nos conecta com o presente, de forma parecida com a meditação conhecida como “atenção plena”. Por quê? Porque a dor capta a nossa atenção. Se um livro pesado cair no seu pé no meio de uma conversa, ao invés de prosseguir o diálogo, você provavelmente vai parar para dar atenção ao seu pé, não?
A dor nos arrasta para o “agora” e nos torna mais alerta e em sintonia com o nosso ambiente sensorial naquele momento, menos disperso em pensamentos sobre o ontem e o amanhã.
E ainda a dor nos une às pessoas. Qualquer um que tenha sofrido um desastre significativo sabe que estes eventos conectam as pessoas, como os voluntários que ajudam depois de catástrofes ou o espírito de comunidade que se desenvolve depois de tragédias, como o ataque terrorista de 11/9.
Um estudo recente inclusive descobriu que participantes que experimentam a dor ou simplesmente observam pessoas em dor são mais propensos a doar dinheiro para uma causa.
O grupo de pesquisa de Bastian replicou esse resultado, pedindo novamente aos participantes que imergissem sua mão na água gelada, comessem comida apimentada ou ficassem em uma posição de agachamento durante o tempo que aguentassem.
Eles concluíram que os participantes que sentiram mais dor eram mais propensos a colaborar com seu grupo. Depois de compartilhar a dor, as pessoas ficaram mais propensas a correr riscos pessoais para beneficiar o grupo como um todo em um jogo econômico.
O lado bom da dor
A dor é geralmente associada a doenças, lesões ou danos. No entanto, não precisa ser assim: nós também sentimos dor em uma série de atividades comuns e saudáveis, como o exercício físico.
Considere o recente desafio do balde de gelo em favor da esclerose lateral amiotrófica. Ao se encachar em água gelada, as pessoas foram capazes de aumentar o apoio sem precedentes para uma boa causa.
Entender que a dor pode ter uma série de consequências positivas pode ajudar a controlá-la quando ela de fato se torna um problema. Enquadrar a dor como algo positivo, ao invés de negativo, aumenta as respostas neuroquímicas que nos ajudam a gerenciá-la melhor. [MedicalXpress]