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Seria a ciência a nova deusa do século XXI?

Em alguns dos e-mails que tenho recebido de meus leitores, e mesmo em posts recolhidos de fóruns científicos que participo, tenho observado a repetição das mesmas questões oriundas do senso comum e que como “negação da ciência” demonstram uma inquietação e até mesmo um inconformismo pelo estado de coisas no mundo de hoje.

Compilei entre os questionamentos, o mais recorrentes, e estou postando-os por temas na forma de artigos numa série que intitulei “A Negação da Ciência”.

Para acompanhar os artigos já postados nessa série basta seguir os links dos questionamentos base que os suscitaram:

Parte 1

1. É difícil, confuso ou complicado conceituar ciência. Afinal ela é “cheia” de subdivisões.

2. A ciência e a tecnologia são as responsáveis pela deterioração da qualidade de vida da sociedade como um todo. Veja o problema da poluição, o aquecimento global, as armas nucleares e as guerras, o estresse e a violência crescente nos grandes centros urbanos, o egocentrismo, etc. – tudo isso é provocado pelo materialismo que a ciência propiciou.

Parte 2

 3. A ciência perde sua credibilidade ano a ano. E só mesmo um grupo de nerds fanáticos que tem coragem de defendê-la.

Parte 3

4. Os cientistas e seus defensores endeusam a ciência e a apontam como dona da verdade absoluta.

É impossível adotar a ciência como religião, ou mesmo endeusa-la, pois os conceitos verdadeiramente científicos são incompatíveis com os religiosos.

Os conceitos religiosos são fundamentados em verdades absolutas e argumentos de autoridade.

É o oposto ao que preconiza o método científico.

Como o apresentado em meus últimos artigos, na ciência não se admite argumento de autoridade e nem verdades absolutas (aquelas que não possam ser falseadas ou refutadas).

Existem verdades científicas consideradas incontestáveis hoje, porém, que podem ser contestadas amanhã, quando alguém surgir com uma prova ou uma evidência que a falseia ou a refuta estabelecendo então uma nova “verdade”.

Há que se entender, portanto, que todas as “verdades” científicas são provisórias e que estão em busca de contínuo aperfeiçoamento e superação com o uso de um mecanismo de autocorreção que está incluído no próprio método científico.

Consequentemente:

– Aquele que quer endeusar ou endeusa a ciência, não é um cientista, nem mesmo um intelectual.

É uma pessoa que, embora seja entusiasta, ignora o rigor do método científico e usa de sua “paixão” para endeusar qualquer coisa que admira.

Não existem pessoas que, por exemplo, endeusam jogadores de futebol, atores e atrizes da TV e do cinema, músicos populares, políticos, etc.?

O mesmo pode ocorrer com a ciência e a tecnologia independentemente de sua aprovação.

Então,

é a liberdade inerente ao ser humano de endeusar o que bem lhe aprouver, desde que isso não prejudique a si mesmo ou a seus semelhantes.

O fato de alguém endeusar a ciência (ou, pelo contrário demonizá-la) faz parte de sua liberdade de crenças.

Cabe ao cientista, no entanto, o papel esclarecedor do conceito de ciência, como um processo que acumula um tipo específico de conhecimento (obviamente o conhecimento classificado como científico) e que não pode ser misturado com outras formas de conhecer o mundo.

E por que não pode ser misturado?

A ciência é arrogante e não se mistura com a plebe, é isso?

Não. É devido ao rigor do método científico.

Como cientista e divulgador da ciência, tenho a missão de alertar:

– Não é o papel da ciência o de e ser endeusada ou demonizada.

A ciência não é uma vaca sagrada e tampouco uma Caixa de Pandora.

A ciência, repito, é um processo de acúmulo de conhecimentos que foi criado pelo ser humano, e como seu criador é sujeito a erros e falhas, porém, tem em seu método um mecanismo que busca encontrar essas falhas e corrigir esses erros.

Esse é o esclarecimento padrão.

E é difícil essa tarefa de efetuar tais esclarecimentos. Creia-me, caro leitor!

Toda vez que se tentar esclarecer que “focinho de porco não é tomada”, alguém vai acusá-lo:

– Eis um endeusador de tomadas!

– Eis um fanático defensor das tomadas!

– Eis um crítico ferrenho dos focinhos de porco. Coitado dos bichinhos e de seus aparelhos respiratórios inocentes!

E alguns outros vão lhe apontar as estatísticas do número de pessoas que morreram e se feriram graças às tomadas e então tecer vários comentários circulares do quão importante é o fato de não se usar as tomadas como deuses e menosprezar os focinhos de porco.

E a questão principal se esvazia e é esquecida!

E ainda muita gente seguirá confundindo focinho de porco com tomada, com o agravante de que ficarão desconfiadas de qualquer um que no futuro, por outra vez, queira tentar efetuar essa distinção.

Desculpem a ironia e o exemplo primário;

Mas isso é fato observado de forma recorrente nesses muitos anos em que tenho trabalhado como divulgador do método científico (e se não acredita leia, por exemplo, os artigos sobre esse tema, aqui mesmo no Hypescience e veja o número de post de leitores que estão recheados com esses argumentos circulares).

Ao esclarecer o conceito de ciência e qual o seu papel no mundo existe uma reação muito forte de alguns segmentos (geralmente sem a mínima noção do que seja ciência) que mal leem o artigo e já apontam – vocês cientistas endeusam a ciência!

E continuam o ataque:

Veja a poluição, veja as armas nucleares, veja os programas de auditório (e seguem com uma lista interminável de mazelas que só existem, segundo seus argumentos, devido à ciência e a tecnologia) e negam os benefícios diretos e indiretos que a ciência e a tecnologia proporcionam.

Ora,

É evidente que existe participação inegável da ciência na geração de muitos problemas da vida moderna,

E como também é evidente e inegável sua participação em muitas soluções.

Portanto,

A única coisa que esse articulista propõe é um convite:

– Vamos pensar? Vamos separar “o joio do trigo” sem nenhum preconceito?

Afinal o mundo precisa de cientistas.

E acima de tudo de cientistas com consciência. Que saibam realmente separar o joio do trigo.

Como educador eu desempenho o papel de propugnar pela formação técnica e científica de meus alunos, e despertar vocações para essa área do conhecimento, para que o mundo de amanhã tenha cientistas eticamente responsáveis e capazes tecnicamente de propor soluções para os grandes problemas que afligem a humanidade. E isso não é pouco.

E acima de tudo é preciso ter claro de que a ciência não é o único caminho disponível para se conhecer o mundo que nos cerca.

Por exemplo, pode-se buscar esse conhecimento, também:

a) pelo poder do mito

b) pelo dogma da religião

c) pelo método da filosofia

d) pela crença do senso comum e/ou

e) pela estética da arte

A escolha que cada um faz do viés pelo qual quer olhar e descobrir o seu mundo é inerente à sua liberdade e à sua humanidade. Ou não?

Mas, bem, isso já é tema para um próximo artigo!

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[Leia os outros artigos de Mustafá Ali Kanso]

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ATENÇÃO GALERA DE PORTO ALEGRE!

Dias 12 e 13 de abril estarei em Porto Alegre prestigiando a II Odisseia de Literatura Fantástica e também participando do painel sobre Space Opera.

Painel esse formado por grandes nomes da literatura fantástica nacional tais como Roberto De Sousa Causo, Hugo Vera e Larissa Caruso.

E é claro – lançamento de mais uma antologia!

A gloriosa antologia SAGAS – VOLUME IV.

Com prefácio do grande mestre André Carneiro e incluindo meu conto inédito “Não olhe para trás”.

IMPERDÍVEL!!!

Veja a programação completa clicando aqui.

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LEIA SOBRE O LIVRO A COR DA TEMPESTADE do autor deste artigo

À VENDA NAS LIVRARIAS CURITIBA E ARTE & LETRA

Navegando entre a literatura fantástica e a ficção especulativa Mustafá Ali Kanso, nesse seu novo livro “A Cor da Tempestade” premia o leitor com contos vigorosos onde o elemento de suspense e os finais surpreendentes concorrem com a linguagem poética repleta de lirismo que, ao mesmo tempo que encanta, comove.

Seus contos “Herdeiros dos Ventos” e “Uma carta para Guinevere” foram, em 2010, tópicos de abordagem literária do tema “Love and its Disorders” no “4th International Congress of Fundamental Psychopathology.”

Foi premiado com o primeiro lugar no Concurso Nacional de Contos da Scarium Megazine (Rio de Janeiro, 2004) pelo conto Propriedade Intelectual e com o sexto lugar pelo conto Singularis Verita.

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