Teoria Radical Sugere que Terremotos Criam Pepitas de Ouro
Cientistas australianos acabam de lançar uma bomba teórica que pode virar de cabeça para baixo nossa compreensão sobre a formação de pepitas de ouro. Ou melhor, seria mais adequado dizer que eles a fizeram tremer!
De acordo com suas descobertas, o processo de formação do ouro nas profundezas da Terra envolve pressões esmagadoras e temperaturas altíssimas, dignas de um spa para minerais estressados. Sob condições de centenas de megapascais (ou, se você preferir, algo próximo a “muitas toneladas por centímetro quadrado”) e temperaturas de ferver caldeirões, água é espremida para cima a partir da crosta terrestre durante terremotos. Essa água carrega uma mistura peculiar de gases, minerais e metais – incluindo o ouro – como se estivesse num delivery de luxo para as camadas superficiais da Terra.
Agora, qualquer garimpeiro veterano sabe que, se você quer encontrar ouro, o lugar certo para procurar é perto de quartzo. Essa dupla dinâmica – ouro e quartzo – precipita em condições bastante similares, como bons amigos que nunca se separam.
O processo geral já é conhecido, mas alguns detalhes desse quebra-cabeça sempre pareciam um pouco… fora do lugar. É aqui que entra a nova pesquisa da Monash University, da CSIRO e da Organização Australiana de Ciência e Tecnologia Nuclear, que está chacoalhando o entendimento tradicional.
“Apesar de a teoria ser amplamente aceita, ela nunca explicou bem como grandes pepitas de ouro se formam, especialmente quando se considera que a quantidade de ouro nessas águas é baixíssima”, aponta o geólogo Chris Voisey, da Monash University. De fato, o ouro não é exatamente fã de água – ele se dissolve mal, tornando raro encontrar concentrações superiores a uma parte por milhão. Ainda assim, de algum jeito, a natureza nos surpreende com depósitos gigantescos de ouro, muito mais concentrados do que esses números sugerem.
Então, qual é o truque? Uma série de processos geológicos, ou até biológicos, pode ajudar a explicar por que o ouro se acumula. E, por mais estranho que pareça, o segredo pode estar no efeito piezoelétrico – algo que faz com que cristais de quartzo estressados gerem uma pequena corrente elétrica.
Imagine isso: toda vez que a Terra se mexe, veios de quartzo vibram e soltam pequenas faíscas invisíveis, criando uma tempestade elétrica em miniatura. Agora, o ouro, sendo um excelente condutor, aproveita a deixa. Com cada tremor, o quartzo estressado e eletricamente carregado poderia, de fato, ser o palco para reações eletroquímicas que concentram o ouro em certos pontos. Quem diria que o ouro é tão oportunista?
Voisey e sua equipe decidiram testar essa teoria colocando pequenas telhas de quartzo natural em soluções aquosas de ouro. Metade dessas telhas foi sacudida como num simulador de terremoto, a uma taxa de 20 vezes por segundo, por uma hora, enquanto o resto ficou de molho, sem vibração alguma. O resultado? Sob um microscópio eletrônico, os pesquisadores notaram que grãos de ouro se formaram nas telhas sacudidas, mas não nas que ficaram paradinhas.
Para completar, quando colocaram telhas de quartzo que já tinham pequenos grãos de ouro, os testes mostraram que essas minúsculas “sementes” cresceram ainda mais em soluções submetidas ao estresse. É como se o ouro tivesse uma queda por… mais ouro! Uma vez iniciado, o processo acelera, pois o ouro catalisa sua própria formação.
Claro, o que foi feito em laboratório, com agitações constantes e soluções concentradas, levaria bem mais tempo no mundo real, onde terremotos e tremores são mais espaçados. Mas em escalas de tempo geológicas, as coisas podem acontecer relativamente rápido. Sem o efeito extra das cargas piezoelétricas, seria difícil explicar como depósitos tão grandes e ricos de ouro conseguem se formar.
E, convenhamos, talvez esse fenômeno explique por que o ouro parece flutuar em veios de quartzo sem fissuras óbvias ou sinais químicos que expliquem a sua presença ali. No final das contas, pode ser que tudo se resuma a uma tempestade elétrica subterrânea, sussurrando ao ouro onde ele deve se acumular.
Essa pesquisa intrigante foi publicada na Nature GeoScience. Quem sabe agora, além de garimpeiros, também precisemos de alguns físicos para decifrar os segredos da terra dourada!