Uma metáfora biomimética

Por , em 12.07.2015

Na esteira do artigo da semana passada foi possível pontuar: nesses 3,8 bilhões de anos de evolução, os processos naturais testaram, por tentativa e erro, o que funciona e o que não funciona na preservação de uma espécie e de seu habitat.

Daí é imperativo destacar a importância de incorporarmos em nossa metodologia de criação e projeto de materiais e objetos as mesmas constatações.

Em outras palavras:

Nosso atual modelo de produção que valoriza essencialmente o capital em detrimento do trabalho e da natureza está completamente equivocado.

A nossa gestão da ciência e da tecnologia precisa urgentemente de uma revolução. O trabalho e a natureza não podem mais ficar no último plano de valorização em nossas escalas de prioridade.

E se realmente pretendermos, enquanto espécie, uma maior longevidade — essas mudanças drásticas precisam ocorrer urgentemente.

É justamente nesse viés, pelo qual o valor dado aos ganhos de capital supera — e em muito — aos ganhos sociais e ambientais, que a história humana vem, nesses últimos séculos, construindo um resultado quantitativo inquestionável: além de exaurir recursos naturais, depredar e poluir o ambiente, o somatório da riqueza de apenas 1% da população mundial está superando o somatório dos bens dos 99% restantes.

Evidentemente a política macroeconômica mundial é ditada por esses 1% com uma equação fácil de entender:

— cada vez mais para eles mesmos e cada vez menos para o resto do mundo.

Por essa razão esse modelo é definido simplesmente como predatório: ao mesmo tempo que está exaurindo o ambiente natural, está gerando pressões insustentáveis no ambiente social.

Não há solução a curto prazo que não passe necessariamente por essa constatação.

Enquanto o modelo for consumista, ditado simplesmente pelas necessidades do mercado — que joga com cartas marcadas — essas e outras contradições não serão resolvidas.

Para apoiar essa avaliação, quero aproveitar o tema — biomimética — e propor uma analogia.

Imagine um organismo que possua em sua constituição células ricas e pobres.

As células ricas recebem muito mais sangue do que precisam para se manterem vivas e por necessidades ainda não muito compreendidas represam e armazenam esse sangue, que representa, nessa metáfora, a riqueza desse organismo.

Evidentemente, por conta disso, as células pobres estão recebendo pouco ou nenhum sangue.

Ora, valendo-se dos conceitos da biologia fica fácil entender que o conjunto de células ricas, ao represar e acumular o sangue estão gerando um tumor enquanto que as células pobres que estão morrendo sem alimento e oxigênio caracterizam a necrose do órgão que constituem.

Um organismo com esses sintomas — infelizmente — não possui muito tempo de vida.

Simples assim.

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Artigo de Mustafá Ali Kanso 

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LEIA A SINOPSE DO LIVRO A COR DA TEMPESTADE DE Mustafá Ali Kanso

[O LIVRO ENCONTRA-SE À VENDA NA LIVRARIA SPACE CASTLE BOOKSTORE].

Ciência, ficção científica, valores morais, história e uma dose generosa de romantismo – eis a receita de sucesso de A Cor da Tempestade.

Trata-se de uma coletânea de contos do escritor e professor paranaense Mustafá Ali Kanso (premiado em 2004 com o primeiro lugar pelo conto “Propriedade Intelectual” e o sexto lugar pelo conto “A Teoria” (Singularis Verita) no II Concurso Nacional de Contos promovido pela revista Scarium).

Publicado em 2011 pela Editora Multifoco, A Cor da Tempestade já está em sua 2ª edição – tendo sido a obra mais vendida no MEGACON 2014 (encontro da comunidade nerd, geek, otaku, de ficção científica, fantasia e terror fantástico) ocorrido em 5 de julho, na cidade de Curitiba.

Entre os contos publicados nessa coletânea destacam-se: “Herdeiro dos Ventos” e “Uma carta para Guinevere” que juntamente com obras de Clarice Lispector foram, em 2010, tópicos de abordagem literária do tema “Love and its Disorders” no “4th International Congress of Fundamental Psychopathology.”

Prefaciada pelo renomado escritor e cineasta brasileiro André Carneiro, esta obra não é apenas fruto da imaginação fértil do autor, trata-se também de uma mostra do ser humano em suas várias faces; uma viagem que permeia dois mundos surreais e desconhecidos – aquele que há dentro e o que há fora de nós.

Em sua obra, Mustafá Ali Kanso contempla o leitor com uma literatura de linguagem simples e acessível a todos os públicos.

É possível sentir-se como um espectador numa sala reservada, testemunha ocular de algo maravilhoso e até mesmo uma personagem parte do enredo.

A ficção mistura-se com a realidade rotineira de modo que o improvável parece perfeitamente possível.

Ao leitor um conselho: ao abrir as páginas deste livro, esteja atento a todo e qualquer detalhe; você irá se surpreender ao descobrir o significado da cor da tempestade.

[Sinopse escrita por Núrya Ramos  em seu blogue Oráculo de Cassandra]

2 comentários

  • Jean Carvalho:

    Pedro, se não me engano, um sujeito chamado Emile Durkheim já fez isto… ou tentou, ao menos…

  • Pedro Barreto:

    Acredito que tudo seria mais claro se realmente tratássemos a sociedade como um organismo em escala maior. Ótimo texto.

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