O aracnídeo foi flagrado matando e arrastando um filhote de gambá na floresta amazônica. Os mesmos pesquisadores viram muitas outras aranhas e artrópodes como centopeias fazendo um banquete com girinos, lagartos e sapos.
Essas imagens podem ser surpreendentes para quem pensava que aranhas se alimentavam apenas de insetos. A dieta delas é incrivelmente variada, especialmente as grandes aranhas da América do Sul e da Austrália. Esses aracnídeos comem cobras, ratos e pássaros. Existe até uma aranha que come peixe.
Mas não é sempre que eles caçam vertebrados. A dieta mais frequente é de insetos, e as guloseimas maiores são consumidas como complementos.
“Esta é uma causa de morte subestimada entre vertebrados. Uma quantidade surpreendente de mortes de pequenos vertebrados na Amazônia é provavelmente causada por aranhas grandes e centopeias”, diz o biólogo da Universidade de Michigan (EUA), Daniel Rabosky.
A equipe de Daniel estudou répteis e anfíbios na Amazônia aos pés dos Andes no Peru. Nesta região, vivem cerca de 85 espécies de anfíbios e 90 de répteis.
A descoberta de predadores artrópodes foi acidental. Os pesquisadores registraram vários eventos que envolviam sapos e lagartos, e acabaram percebendo que eles tinham encontros desses suficientes para compilar um artigo científico apenas sobre isso.
“Considerando que há centenas de invertebrados que são predadores de vertebrados, o número de interações possíveis entre espécies é enorme, e nós estamos destacando este fato no artigo”, diz o biólogo Rudolf von May, da mesma universidade que Daniel.
O artigo reúne flagras dos anos de 2008, 2012, 2016 e 2017. A maioria deles foi registrado de noite. Grande parte dos predadores eram aranhas, e a maioria das presas eram anfíbios.
Mas um caso se destacou. Em uma noite, a equipe ouviu barulhos na folhagem e foram investigar. “Nós olhamos e vimos uma tarântula enorme em cima de um gambá. O gambá já tinha sido esmagado pela tarântula e ainda lutava fracamente, mas depois de 30 segundos ele parou de chutar”, diz o biólogo Michael Grundler, da mesma equipe.
Quando o gambá parou de lutar, a tarântula que tinha o tamanho de um prato grande o arrastou para longe para devorá-lo. Este é provavelmente o primeiro ataque de tarântula em gambá registrado por pesquisadores.
“Nós sabíamos que o que estávamos testemunhando era algo muito especial, mas não estávamos conscientes que era a primeira observação até depois do fato”, diz Grundler.
Apesar dessas aranhas serem o terror de quase todas as espécies de sapo da região, elas têm uma relação de mutualismo com o Chiasmocleis ventrimaculata. Esta relação é bastante documentada. Enquanto a aranha protege o sapo e deixa ele comer restos de sua alimentação, o sapo come formigas e outros predadores de ovos de aranha.
As tarântulas e essa espécie de sapos já foram até flagrados deixando a mesma toca juntos depois de uma noite de banquete. [Science Alert]
Confira no vídeo abaixo o pobre filhote de gambá sendo arrastado pela tarântula: