“Unicórnio do mar” perdido é adotado por belugas
Um narval órfão fez amizade e foi “adotado” por um grupo de dez belugas machos, no leste do Canadá.
Por três anos consecutivos, cientistas filmaram o “unicórnio do mar” – assim apelidado por conta de seu “chifre” – ao lado das baleias, agindo como se fosse uma delas.
Perdido ao sul
O narval cinzento se destaca no meio do bando de belugas brancas, mas ninguém parece se importar.
O grupo convive muito bem na região do rio São Lourenço, que conecta os Grandes Lagos com o Oceano Atlântico, corpo d’água localizado a cerca de 1.000 quilômetros ao sul do Ártico, habitat nativo dos narvais.
Como este jovem foi parar tão longe?
De acordo com os pesquisadores, a amizade inesperada é reflexo da mudança climática. O unicórnio marinho provavelmente fugiu para o Canadá uma vez que seu lar ártico perdeu muito terreno para o derretimento do gelo.
Todos e um
Biólogos do Grupo para Pesquisa e Educação de Mamíferos Marinhos (GREMM, na sigla em inglês), uma organização canadense sem fins lucrativos, explicam que o narval se comporta como se fosse uma das baleias.
Imagens aéreas fornecidas pelo GREMM mostram quão unido o grupo não convencional se tornou. O narval é totalmente sincronizado com as baleias, vindo à tona para respirar junto, soprando bolhas ao mesmo tempo e participando das brincadeiras em todas as ocasiões.
“[O narval] age como se fosse um dos garotos”, disse Robert Michaud, presidente e diretor científico do GREMM, ao portal CBC. “Eles estão em constante contato uns com os outros. É como um grande grupo de jovens no meio de jogos sociais e sexuais”.
Mudança climática e cruzamentos improváveis
Famílias “inter-raciais” como essa podem não ser tão incomuns. À medida que cada vez mais gelo ártico é perdido graças às mudanças climáticas, as criaturas que habitam o polo são forçadas a nadar para o sul em busca de novas áreas de caça.
Algumas belugas árticas solitárias já vagaram até o sul de Nova Jersey, nos EUA. Às vezes, elas confundem barcos com outras baleias, resultando em graves ferimentos.
Segundo os cientistas do GREMM, há uma chance de que essas duas espécies relacionadas – a beluga e o narval pertencem à mesma família, Monodontidae – possam se encontrar na companhia uma da outra com mais frequência.
O mesmo fenômeno foi observado em outras espécies, como o urso-polar e o urso-grisalho, espécies que até já cruzaram. Os híbridos pardos-polares têm sido chamados de “grolares”.
Pode ser que venham “narlugas” por aí também. De acordo com um artigo de 1993, é plausível que gerações anteriores de narvais e belugas tenham conseguido criar uma espécie híbrida. O indivíduo resultante teria deixado para trás um crânio enorme e cheio de dentes na Groenlândia, com características físicas análogas às dessas espécies, só que maiores. [LiveScience]