Uso de maconha durante a gravidez pode levar a mudanças genéticas no cérebro dos bebês
O uso de cannabis durante a gravidez está agora vinculado a mudanças genéticas em bebês que podem ter impacto por toda a vida, levantando sérias preocupações sobre os efeitos da droga no desenvolvimento cerebral infantil. Estudos recentes sugerem que o consumo da substância pela mãe pode deixar marcas no código genético do bebê, influenciando seu futuro neurodesenvolvimento de maneiras que ainda não compreendemos totalmente.
Genes de bebê com DNA ‘nervoso’
Pesquisadores de várias partes do mundo descobriram que a exposição pré-natal ao cannabis (ou EPC, para os íntimos) provoca mudanças na forma como certos genes se expressam. Essas alterações genéticas foram observadas em bebês logo após o nascimento e, para surpresa de muitos, persistiram até a vida adulta. Os genes afetados, curiosamente, estão envolvidos na construção das redes neurais e no crescimento das vias neurais durante várias etapas do desenvolvimento.
Amy Osborne, geneticista da Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia, participou do estudo e destacou que, pela primeira vez, foi possível identificar um número significativo de modificações moleculares em genes relacionados ao desenvolvimento neurológico e a doenças neuropsiquiátricas. Ela afirma que isso sugere uma conexão molecular clara entre a exposição ao cannabis antes do nascimento e o impacto nos genes cruciais para o desenvolvimento cerebral.
Bancos de dados e bebês ‘rastreadores’
Os cientistas se apoiaram em dois bancos de dados de longo prazo, que acompanham crianças desde o nascimento até quase os 30 anos em alguns casos. A exposição ao cannabis foi reportada pelas próprias mães, e o DNA foi coletado tanto dos cordões umbilicais dos recém-nascidos quanto das crianças mais velhas. Isso permitiu aos pesquisadores comparar o material genético de crianças expostas à cannabis com aquelas que não foram.
A principal mudança observada foi na metilação do DNA, um processo que regula como os genes são ativados e desativados. Entre os sete genes mais afetados, estavam aqueles envolvidos no desenvolvimento cerebral, ansiedade e até autismo. Essas alterações se destacaram nas crianças que foram expostas ao cannabis, em contraste com as que não tiveram contato com a droga.
Não é bem causa e efeito, mas dá o que pensar
Embora os dados não possam provar diretamente que a cannabis causa essas mudanças genéticas, as evidências são suficientes para justificar uma investigação mais profunda. E quando se considera que o uso de cannabis entre grávidas nos EUA aumentou para mais de 8% (antes era 3,4% em 2002), isso merece ainda mais atenção. Muita gente usa a droga para lidar com ansiedade e estresse durante a gravidez, mas o que não se sabe pode ser tão perigoso quanto o que é óbvio.
Estudo com ratos e o que vem a seguir
Não é a primeira vez que o alarme soa. Pesquisas anteriores já haviam mostrado que o uso de cannabis durante a gravidez pode estar associado a mudanças comportamentais nas crianças. E em outro estudo com ratos, os ingredientes da cannabis também foram ligados a dificuldades no desenvolvimento do cérebro.
Os pesquisadores envolvidos no novo estudo esperam que esses resultados incentivem investigações mais amplas, com um número maior de participantes, para que as mulheres grávidas tenham orientações mais claras sobre os riscos potenciais do uso de cannabis. Segundo Osborne, sem esse aprofundamento, o perigo para as crianças continua a crescer, junto com o aumento do consumo da droga entre as futuras mamães.
A pesquisa foi publicada na revista Molecular Psychiatry e deixa uma pergunta no ar: até onde a exposição pré-natal ao cannabis pode influenciar o futuro dos pequenos, e o que podemos fazer para evitar isso?