Um vírus que vive no intestino humano acaba de ser descoberto, e para a surpresa dos cientistas, ele pode ser encontrado em cerca de metade da população mundial.
Embora não seja ainda claro exatamente o que o vírus faz, os cientistas estão ansiosos para descobrir se ele é bom para a nossa saúde ou se influencia a nossa suscetibilidade a determinadas condições, afirma Robert Edwards, professor de bioinformática na San Diego State University, nos EUA, e um dos pesquisadores que trabalhou no estudo.
Os pesquisadores descobriram os primeiros indícios do vírus depois de analisar o DNA de amostras de fezes de 12 pessoas. Eles descobriram um conjunto de DNA viral que todas as amostras tinham em comum, conta Edwards.
Em seguida, os pesquisadores pesquisaram um grande banco de dados de sequências genéticas em amostras tiradas de pessoas que vivem em vários continentes diferentes, procurando a sequência de DNA do vírus, e o encontraram em 75% das amostras de fezes humanas. No entanto, algumas destas amostras eram de uma mesma pessoa, por isso, depois de tomar isso em conta, os pesquisadores estimaram que o vírus está presente em cerca de metade de todas as pessoas.
Novo método de pesquisa
Mas como poderia um vírus tão comum passar despercebido por tanto tempo? “Uma das razões pode ser que, anteriormente, a maioria dos pesquisadores compararam o DNA de amostras atuais só com sequências de DNA já conhecidas”, teoriza Edwards. Mas neste novo estudo, os investigadores compararam o DNA nas suas amostras um com o outro, à procura de sequências comuns.
“[Nós] fizemos alguns diferentes tipos de comparações, e este DNA viral chamou a nossa atenção como sendo algo importante porque era abundante”, contou Edwards ao site Live Science.
O novo vírus, que os pesquisadores têm chamado de crAssphage, é um tipo de vírus conhecido como bacteriófago, o que significa que infecta bactérias. É provável que o crAssphage infecte um tipo muito comum de bactérias intestinais chamadas bacteroides, de acordo com o estudo.
Embora os cientistas tenham demonstrado que o DNA do vírus exista na natureza, eles ainda não foram capazes de replicar o vírus em laboratório, ou obter uma imagem dele.
Para o bem ou para o mal
A nova descoberta acrescenta mais uma peça do quebra-cabeça que é a flora intestinal humana. Ela deve ajudar os pesquisadores a entender como os micróbios no intestino afetam a saúde humana, diz o Dr. Amesh Adalja, o médico infectologista da Universidade de Pittsburgh, nos EUA, e representante da Sociedade de Doenças Infecciosas da América, que não esteve envolvido no estudo. Muito mais pesquisas serão necessárias para ver como este vírus interage com as bactérias no nosso intestino e como ele poderia potencialmente afetar a nossa saúde. “Há definitivamente uma quantidade grande de pistas de investigação que esta descoberta possibilitará”, define Adalja.
Adalja aponta que só porque o vírus é comum não significa que ele seja benigno. “O fato de que ele esteja presente em tantas pessoas significa que, o que quer que seja que ele esteja fazendo, não é algo raro”, afirma. “Mas existem condições suficientemente comuns que afetam os seres humanos, nas quais ele pode desempenhar um papel”, diz o pesquisador, citando a obesidade e até mesmo o câncer como exemplos de tais condições. [Live Science]