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Você pode melhorar de uma doença apenas com a força da vontade: mito ou realidade?

As pessoas que são otimistas são mais propensas a encarar melhor os problemas de saúde. Admiramos pessoas como a apresentadora Ana Maria Braga, que enfrentou dois cânceres (de pele, em 1991, e na região anal, em 2001) e sempre demonstrou força e atitudes positivas, afirmando que é necessário aprender a conviver e a sobreviver com a doença, pois cada dia é um dia.

Nesse caso, o pressuposto é de que a mente e o corpo são separados, uma postura filosófica conhecida como dualismo. Em contraste, o ponto de vista científico é de que a mente é controlada pelo cérebro. Todos os dados da neurociência apontam para este caminho. Os pensamentos podem ser controlados conscientemente e, portanto, podem influenciar o que acontecem no corpo.

A dúvida é se, de alguma forma, isso é suficiente para ter uma influência significativa sobre qualquer processo de doença.

É importante notar que não estamos falando de qualidade de vida, mas em saber se o curso real de uma doença pode ser alterado pelo esforço puramente mental.

É senso comum (e apoiado por diversos estudos positivos) que a qualidade de vida das pessoas doentes pode ser melhorada quando se tem uma perspectiva positiva. O consenso é que pessoas otimistas são mais propensas a buscar maneiras mais engenhosas para obter o melhor resultado possível de um tratamento. No entanto, curiosamente, o pessimismo pode ser mais preditivo de um resultado ruim do que o otimismo de um bom.

É difícil saber se o pensamento positivo pode de fato mudar o curso de uma doença, porque não existem estudos com grupos de controle para avaliarmos – nos que foram feitos até hoje, os pesquisadores geralmente apenas traçaram dados para uma correlação. Se links são encontrados, o que nem sempre é o caso, um comunicado de imprensa é emitido e todos ficam maravilhados com quão incrível a conexão mente-corpo é.

Mas, mesmo se uma pesquisa encontra uma correlação robusta e reproduzível, não pode se dizer automaticamente que essa ligação é causal. Isto é especialmente verdadeiro se o estudo não foi especificamente criado para mostrar o link exato que está sendo divulgado, com todos os preconceitos e as distrações potenciais removidos.

De fato, não custa nada ser positivo. Mas não existem estudos que foram criados para analisar o efeito de tornar-se mais otimista, ou a mudança do pessimismo para o otimismo sobre a doença de uma pessoa.

Mais: ignorar os problemas e ser muito positivo pode ser um problema para quem sofre com alguma condição. Segundo o pesquisador norte-americano James Coyne, impor uma expectativa cultural de positividade deixa muitos pacientes com câncer com medo de reduzirem suas chances de sobrevivência cada vez que estiverem deprimidos ou com raiva sobre a sua doença, o que pode ser um grande fardo para eles.

Pacientes com câncer devem ter certeza de que sua doença não foi causada por fatores emocionais ou de personalidade. Se há pouca evidência de que apenas ser uma pessoa otimista é bom para sua saúde, há ainda menos evidências de que forçar-se a usar o pensamento positivo pode bater sua doença.

Intervenções psicológicas positivas só têm realmente sido estudadas em doenças mentais, como depressão. Já se você for confrontado com uma doença grave, é provável que você tenha uma melhor qualidade de vida se tiver bons apoios sociais e evitar ceder ao pessimismo por completo.

Ninguém pode dizer a fórmula perfeita para lidar com o impacto de um diagnóstico sério. Mas também não é preciso que o paciente sinta que deve estar completamente positivo 100% do tempo, porque não só é muito difícil que isso aconteça, como também não é saudável. [MedicalXpress]

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